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Petrobras dá cartada de alta dos combustíveis, mas ações caem 4,14%

Investidores temem intervenção do governo na companhia. E esse é só um dos problemas vindos de Brasília; tem ainda o auxílio emergencial.

Por Luciana Lima e Tássia Kastner
Atualizado em 11 fev 2021, 16h12 - Publicado em 8 fev 2021, 20h06

Numa semana foi o Banco do Brasil, noutra, a Eletrobras. Agora é a vez da Petrobras. Investidores passaram a segunda-feira lembrando dos riscos de ter ações de estatais na carteira. Isso depois de dias em que só se fala nela, na interferência do governo. 

A petroleira lançou a melhor cartada que tinha, mas o mercado financeiro não comprou. Depois de dias de pressão do governo Jair Bolsonaro, que reclama das altas dos preços dos combustíveis, a Petrobras foi lá e subiu mais um pouco o preço dos produtos vendidos na refinaria.

Reajustou tudo: o diesel vai subir R$ 0,13, passando a custar R$ 2,24 o litro; a gasolina aumentará R$ 0,17 o litro, para R$ 2,25 o litro e o gás de cozinha terá um aumento médio de R$ 0,14 por kg, o equivalente a R$ 1,81 por cada botijão de 13kg.

Seria uma jogada de mestre para acalmar investidores — se Bolsonaro não tivesse passado O DIA falando sobre o assunto. De manhã, na saída do Palácio da Alvorada, reclamou dos impostos e recomeçou a ladainha de mudança no cálculo do imposto estadual sobre os produtos. 

Os investidores tinham ido para o final de semana com a notícia de que a Petrobras tinha  aumentado de três meses para um ano o prazo de compensação das variações do preço do petróleo e do dólar, sepultando, assim, a política de paridade de preços com o mercado internacional, aquela criada no governo Temer para recuperar a companhia após as interferências do governo Dilma.

A Petrobras, porém, negou tal defasagem nos preços. Em comunicado enviado no domingo, a estatal botou a culpa na imprensa, como é praxe na gestão de Bolsonaro, e afirmou que o que houve foi uma mudança na forma de acompanhar os preços e não uma alteração da política comercial da companhia. Seja lá o que signifique mudar a forma de acompanhar preços que são negociados diariamente em bolsa. 

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Quando acordou, o mercado olhou para a nota e soltou um grande: who cares. A XP reduziu o preço-alvo das ações da empresa de R$ 35 para R$ 32, afirmando que a defasagem entre os preços dos combustíveis e as referências internacionais continua a aumentar, o que poderia afetar a geração de caixa da companhia. Os analistas do Bradesco BBI foram na mesma linha, reduzindo o preço de R$ 37 para R$ 34 e colocando a Petrobras como neutra. 

E as ações passaram o dia no vermelho. Chegaram a cair mais de 5%. No final do dia, Bolsonaro foi ao programa do Datena dizer (de novo) que não interferiria na política de preços da Petrobras. Quanto mais ele fala, mais medo os investidores têm de que a intervenção vá chegar. E lá foi a estatal para as maiores baixas do Ibovespa: Petrobras ON tombou 4,14% e Petrobras PN caiu 3,14%. 

E isso porque, se hoje fosse um dia normal, não faltariam motivos para a Petro subir. É que o barril de petróleo tipo Brent fechou o dia em alta de 2,06%, aos US$ 60,56. Esse valor não era registrado desde janeiro do ano passado.

Sem ameaças de interferências, a PetroRio terminou o dia no lado oposto ao da estatal, como uma das maiores altas, aos 3,29%.

A outra novela 

E se não bastasse a discussão das interferências políticas em estatais, tem a do auxílio emergencial. A nova rodada tá encaminhada para sair do papel. A questão é como.

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Ainda no final de semana, o jornal Folha de S.Paulo noticiou que o governo federal está estudando a criação de um novo programa, batizado de Bônus de Inclusão Produtiva (BIP). Para receber três parcelas de R$ 200, os beneficiários do programa teriam que, obrigatoriamente, realizar algum curso de qualificação profissional.

Mas para isso, a equipe econômica quer incluir uma cláusula de calamidade pública na PEC do Pacto Federativo, abrindo assim espaço para os gastos extras como o projeto do BIP. Desse jeito, os parlamentares se sentiriam mais pressionados a votar a favor.

Bem, essa tentativa de condicionar auxílio às reformas mais uma vez não colou. Tanto é que  tanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, quanto Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, deram declarações que botaram o mercado com a pulga atrás da orelha. Lira defendeu uma forma de “excepcionalizar” as regras para que fosse tomada uma decisão rápida sobre o auxílio.

Já Pacheco afirmou ter “expectativa de uma solução para o auxílio emergencial ainda nesta semana”. Na mesma entrevista, o parlamentar defendeu que não é possível condicionar a volta do benefício à aprovação de PECs, como a do Pacto. Foi tudo o que era preciso para o mercado entender que a volta do auxílio viria antes de uma solução fiscal que bancasse esse gasto.

Com os sinais de que o respeito ao teto de gastos está jogado às favas, mais a novela dos combustíveis tombando a Petrobras, não haveria nada que ajudasse a manter o Ibovespa no positivo. Não, a autonomia do BC, que Lira disse que colocaria na pauta desta terç-feira, não é um bom motivo para a alta do Ibov. O índice até começou o dia em alta, acompanhando o cenário externo, mas terminou perdendo 0,45%, aos 119.696 pontos.

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Lá fora, o dia foi de recordes de fechamentos. Na sexta, o Congresso americano aprovou um novo plano orçamentário que vai permitir que o pacote com a nova rodada de estímulos seja aprovado sem o apoio dos republicanos. Com isso, Wall Street passou o dia em festa. O Dow Jones fechou em alta de 0,76%, aos 31.385,76 pontos; o S&P 500 ganhou 0,74%, para 3.915,59 pontos; e o Nasdaq valorizou 0,95%, aos 13.987,64 pontos.

Por aqui, resta torcer para a gente conseguir quebrar outro recorde: o de 00 dias sem Brasília causar rebuliço — e tirar o Ibov dos 120k. 

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Maiores altas

CSN: 8,57%

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Cyrela: 4,77%

BTG: 3,77%

Cosan: 3,65%

PetroRio: 3,29%

Maiores baixas

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Petrobras ON: 4,14%

Ambev: 3,73%

Cogna: 3,45%

Santander: 3,24%

Petrobras PN: 3,13%

Dólar: -0,21%, cotado a R$ 5,37

Petróleo: 

Brent (referência internacional): +2,21%, cotado a US$ 60,65 o barril 

WTI (referência nos EUA): +1,97%, cotado a US$ 57,97 o barril 

Minério de ferro: alta de 2,22%, cotado a US$ 160,50 a tonelada no porto de Qingdao (China). 

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