PETR4, BBAS3 E ELET6: as estatais que se deram bem no ano eleitoral
A regra não escrita diz para evitar papéis dessas empresas em ano de pleito presidencial. Em 2022, porém, ela não funcionou.
Existe uma lenda urbana no mercado de ações: a de que é melhor evitar empresas estatais em ano de eleição. Na teoria, faz sentido. O poder de interferência do governo nessas empresas é enorme, o que levaria a uma queda das ações durante o período eleitoral.
Mas não é o que está acontecendo. O investidor que tivesse seguido a máxima na virada de 2021 para 2022 teria perdido 15,96% de valorização nas ações da Petrobras (PETR4), 44,26% de alta na Eletrobras (ELET6, privatizada durante o ano) e outros 44,16% com a subida do Banco do Brasil (BBAS3). Essas são (ou eram) as três estatais ligadas à União quando o ano começou. O Ibovespa tem ganho bem mais modesto no período, coisa de 7%.
Um dos motivos da valorização da Petrobras é, claro, a alta do petróleo. O combustível saiu de US$ 77, na virada do ano, para a máxima de quase US$ 130 por barril em 8 de março. No fim de agosto, era negociado na casa dos US$ 100, uma alta de ainda 30%.
Em janeiro, apenas três corretoras indicavam ações da petroleira: XP, Guide e Safra. Menos que as quatro recomendações de compra dadas à concorrente privada PetroRio (PRIO3), e muito longe dos 12 votos para a ação da Vale (que, por sinal, tem perda de 14% no ano).
Tem vezes que ser estatal é bom (mesmo que no curto prazo). Além do petróleo, há uma segunda explicação para a valorização de PETR4. O governo deu uma forçada de barra para encher o caixa e pagar a versão eleitoral do Auxílio Brasil. Pediu que as estatais antecipassem dividendos para colocar mais dinheiro no caixa do governo. Cada vez que a Petrobras distribui lucros, 36% vai para o cofre da União. E a petroleira não se fez de rogada: pagou o maior dividendo de sua história e ainda levou o título de maior pagadora de proventos do mundo no segundo trimestre. Até agora, foram R$ 136,3 bilhões em dividendos, 35% mais que o pago em todo 2021.
As outras duas estatais também foram negligenciadas pelos analistas. Lá em janeiro, apenas duas casas indicavam papéis do Banco do Brasil: Safra e MyCap. A Eletrobras não aparecia na carteira de ninguém. Pois é.
As altas em períodos eleitorais não são uma exceção. Nas últimas duas eleições, considerando o mesmo período de janeiro até o fim de agosto, a Petrobras bateu o Ibovespa com folga também em 2018 e em 2014 (foi depois de agosto daquele ano que as ações começaram a despencar, não só a Petro, mas todo o Ibovespa).
Já o Banco do Brasil e a Eletrobras tropeçaram em 2018, mas se saíram igualmente bem em 2014. Vale a máxima: resultados passados não são garantia de ganhos futuros.