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Olimpíadas dos balanços: CSN fica com o ouro na quinta-feira

Ambev e Vale também apresentaram resultados positivos, mas ficaram de fora das finais: seus papéis tombaram mesmo assim.

Por Bruno Carbinatto, Alexandre Versignassi
Atualizado em 29 jul 2021, 18h58 - Publicado em 29 jul 2021, 18h40

Hoje foi um dia de proporções olímpicas nesta temporada de balanços do 2T21. Apresentaram seus resultados a Vale, maior empresa do Ibovespa, a CSN, empresa que mais valorizou no ano passado (126%) e a mastodôntica Ambev, que vinha de um belo lucro de R$ 2,7 bilhões no primeiro tri.

E quem levou o ouro foi a campeã de 2020, que mostrou ter muita lenha para queimar ainda. No balanço, divulgado ontem, a CSN registrou um lucro de R$ 5,51 bilhões no segundo trimestre. Isso dá 12 vezes o lucro registrado no 2T20. Alta de 1.136% – um triplo mortal carpado, basicamente.

A Faria Lima gostou, lógico: alta de 5,82%. E o resultado garantiu o dia do time das siderúrgicas: Usiminas (3,22%), Gerdau (2,18%) e Metalúrgica Gerdau (2,24%).

A veterana Vale

Todas essas altas têm a ver com a demanda chinesa por aço e minério de ferro, em alta há tempos. Mas, curiosamente, a empresa que mais ganha com o apetite metálico chinês acabou longe do pódio. A Vale, que soltou seu balanço ontem após o fechamento do mercado, fechou em queda de 1,47%. Ruim para o Ibovespa, que afundou junto com ela (afinal, 11% do índice é composto só de ações da Vale): baixa de 0,48%, a 125.675  pontos

É que os investidores já antecipavam resultados positivos da empresa antes mesmo deles saírem. Na quarta, os papéis da Vale fecharam em alta de 2,73% na esteira desse otimismo. Aí vieram os números, bastante sólidos: lucro de US$ 7,58 bilhões, próximo à expectativa do mercado. 

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Mas nada que não fosse esperado. E, como as ações já haviam subido ontem, não houve muito mais espaço para crescimento nesta quinta-feira. Talvez houvesse se a empresa tivesse anunciado dividendos extras, como o mercado esperava agora que a mineradora virou uma vaca leiteira de proventos – pagou R$ 8,11 por ação em 2020, o que representou um yield de quase 10% para quem comprou os papeis no meio do ano passado.

O que a Vale fez foi anunciar que pagaria um mínimo de R$ 5,3 bilhões em dividendos referentes aos últimos resultados, lá por setembro. Bom, como a Vale tem 5,1 bilhões de ações no mercado, isso dá R$ 1 por ação. Não é muto para um papel que hoje custa R$ 115.  

Ah: pesou também o fato de o minério de ferro ter caído expressivos -3,27% no porto chinês de Qingdao. Seja como for a baixa foi leve e o lucro, que é o que interessa, sólido. Pode deixar: veremos a Vale em forma até as Olimpíadas do Quirguistão, seja lá quando ela aconteça.  

O doping da Ambev

A gigante das bebidas chegou chegando na quadra da bolsa hoje. Bateu no peito e apresentou um polpudo lucro de R$ 2,93 bilhões – 130% maior que o do ano passado.

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Mas a Ambev caiu no antidoping, pelo menos na interpretação do mercado. 

Uma parte substancial desse lucro veio de créditos fiscais. Ou seja: de um evento não recorrente. É como se um competidor do salto triplo tivesse batido o recorde olímpico na sua eliminatória porque bateu uma rajada de vento de 200 km/h para empurrá-lo no ar. O vento é um “evento não recorrente”, afinal.

Sem os tais créditos, o lucro da cervejeira seria de R$ 1,3 bilhão. Mas ei: R$ 1,3 bilhão foi o lucro da Ambev no segundo trimestre do ano passado, quando ela competiu com a perna quebrada pelas medidas de isolamento. E não dá a metade do 2T19, no pré-pandemia, quando a empresa levantou R$ 2,7 bilhões – o mesmo número do 1T20.

A culpa, de acordo com os analistas, não é da Ambev em si, mas dos preços das matérias primas agrícolas. O volume de vendas da empresa até cresceu um teco, mas eles gastaram mais para produzir. E o lucro operacional minguou. No fim, queda de 1,15% (amena, até: ao longo do dia ela chegou a cair mais de 3%).

A prata da Multiplan 

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No mesmo dia que o Brasil conquistou sua primeira medalha olímpica na ginástica artística feminina (prata de Rebeca Andrade), quem ficou com a prata do Ibovespa foi a Multiplan com um crescimento de +5,36%. A administradora de shoppings apresentou um belo balanço, com destaque para um lucro 32% maior. O setor subiu junto: Iguatemi +3,27%, BRMalls +1,85 %.

A desclassificação do Pão de Açúcar

Na outra ponta, a das baixas, a pior performance do dia foi o Pão de Açúcar, após balanço considerado fraco pelos investidores. O lucro líquido consolidado da empresa foi de 4 milhões de reais no segundo trimestre – um derretimento de 95,9% em comparação com 2020. A queda, segundo a companhia, foi devido às ”medidas restritivas mais rígidas para o combate” da segunda onda da pandemia no período. Justificativa ou não, o número derrubou as ações da empresa na bolsa: -7,40%. O setor reagiu mal também: Carrefour -1,53%% e Assaí -1,00%.

A maratona do juro zero nos EUA

Também dá para comparar o dia nas bolsas americanas com o desempenho olímpico do país. Primeiro, começa com uma decepção: na ginástica artística, Simone Biles, considerada a favorita a ser ouro, não participou da competição nesta manhã por conta de preocupações com sua saúde mental.

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Assim como Biles, quem também tinha tudo para brilhar, mas no fim não deslanchou, foi o PIB americano. Ele cresceu “só” 6,5% no segundo trimestre na taxa atualizada, mas as expectativas do mercado eram de 8,5%. 

(Aqui vale lembrar: os americanos, que gostam de ser diferentões, divulgam o crescimento do PIB na taxa anualizada – ou seja, 6,5% seria o crescimento que a economia do país teria no final do ano caso o resultado do trimestre tivesse se repetido em todos trimestres. Nos termos brasileiros, o crescimento do PIB americano foi de 1,6%.)

O número de novos pedidos de seguro-desemprego registrados no país também contrariou as expectativas e veio maior do que o esperado: foram 400 mil novas solicitações, contra 380 mil calculadas pelo mercado.

Só que nem a falta de Biles e nem o PIB aquém das expectativas afetaram os americanos. Na ginástica, Sunisa Lee, também dos EUA, levou o ouro no lugar da colega. Nas bolsas, os três principais índices performaram bem apesar dos dados aparentemente negativos – Dow Jones e o S&P 500 renovaram suas máximas históricas.

É que os investidores decidiram ver o copo meio cheio: a recuperação do país, de fato, não está a todo vapor como alguns analistas consideravam. Os números mostram isso. Por outro lado, isso também significa que o Fed, banco central do país, não deverá mudar sua política tão cedo.

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Isso porque, como já foi dito reiteradas vezes pelo órgão (inclusive ontem), os juros por lá deverão ficar próximos a zero enquanto as coisas não voltarem aos níveis pré-pandêmicos. E isso não deve acontecer tão cedo assim, como sugerem os dados de hoje. Com menos pressão para aumentar os juros, o mercado gringo ficou feliz. 

Talvez tão feliz quanto os brasileiros ficaram com a medalha inédita de hoje. Parabéns, Rebeca Andrade 🙂 

Maiores altas

CSN: +5,62%

Multiplan: +5,36%

Iguatemi: +3,27%

Usiminas: +3,22%

Gerdau Metalúrgica: +2,24%

Maiores baixas

Pão de Açúcar: -7,40%

WEG: -2,88%

Cogna: -2,88%

Totvs: -2,50%

CPFL: -2,38%

Ibovespa:  -0,48%, a 125.675,33 pontos

Em NY:

Nasdaq, +0,11% (14.778,26)

S&P 500: +0,42%, aos 4.419 pontos

Nasdaq: +0,11%, aos 14.778 pontos

Dow Jones: +0,44%, aos 35.084 pontos

Dólar: -0,60%, a R$ 5,0792

Petróleo

Brent: +1,67%, a US$ 75,10;

WTI: +1,70%, a US$ 73,62

Minério de ferro: -3,27%, a US$ 196,06 a tonelada no porto de Qingdao (China)

 

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