Mercadante azeda PETR4, covid na China derruba VALE3 e o Ibovespa cai 2,02%

A possibilidade de um quadro político em vez de técnico na Petrobras – especialmente um que é sinônimo do governo Dilma – apavorou o mercado. E a China não ajudou: o medo de que as importações de minério caiam com a alta na Covid derrubou a Vale, a outra âncora do índice.

Por Bruno Vaiano
Atualizado em 18 out 2024, 14h02 - Publicado em 12 dez 2022, 18h37

O grande medo do faria limer é acordar à noite para pegar água e encontrar o Mercadante na cozinha. Foi mais ou menos isso que aconteceu hoje. A diferença é que o petista bigodudo não estava assombrando a geladeira, mas o jornal O Globo, de manhãzinha. O colunista Lauro Jardim revelou que Aloizio deve assumir ou o BNDES, ou a Petrobras – e que a petroleira é seu destino mais provável. Resultado: PETR4 em -3,23%.

Mercadante foi ministro da Casa Civil no governo Dilma, e é um economista de orientação desenvolvimentista, que vai contra a ortodoxia preferida pela Faria Lima. Seu nome ficou associado ao desastre na condução da política econômica brasileira no segundo mandato da presidente, que o considerava seu braço direito.

Outro problema é que ele foi um dos coordenadores da campanha de Lula. Isso significa que sua nomeação hipotética passaria por cima da Lei das Estatais (nº 13.303), em vigor desde 2016. A norma diz que “é vedada a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria, da pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado à organização, estruturação e realização de campanha eleitoral”.

Ninguém do PT falou nisso abertamente (o próprio Mercadante, inclusive, diz desconhecer qualquer iniciativa do tipo), mas o boato é que o partido quer editar uma Medida Provisória (MP) para flexibilizar a Lei e permitir nomeações de cunho político-partidário em vez de quadros técnicos. Seria péssimo, e esse é só o primeiro capítulo de uma semana tensa na ponte aérea Brasília-Faria Lima.

Por um lado, o mercado já se acostumou com a ideia de Haddad na Fazenda – após tantos boatos, o anúncio oficial na sexta (9) mal fez preço, e até Meirelles deu um biscoito para o novo ministro, o que aliviou a ansiedade dos investidores. Agora, eles anseiam por conhecer o resto da equipe econômica.

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Um ponto focal é a notícia de que o PT vai desmontar o superministério de Guedes (criado em 2019) em três de seus componentes originais: Fazenda, Planejamento e Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Isso abre duas vagas no alto escalão da economia – que, os investidores esperam, sejam ocupados por quadros técnicos e ortodoxos. Por ora, Bernard Appy, um dos maiores especialistas em reforma tributária do país, é uma das opções para o Planejamento. A jornalista Malu Gaspar, por sua vez, revelou que Lula gostaria de uma mulher nesse cargo, e que estaria entre a economista Esther Dweck e a secretária de Fazenda de Goiás, Cris Schmidt.

Um marco importante será a coletiva de imprensa de Haddad na terça (13) à tarde, quando ele deve falar pela primeira vez sobre a nova âncora fiscal e seu compromisso com a saúde das contas públicas brasileiras. Por hora, Mercadante era tudo que ninguém queria ouvir: o Ibovespa caiu 2,02%, sem grande influência da diplomação de Lula e Alckmin pelo TSE nesta tarde.

Minério

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A coluna de Lauro Jardim não foi o único aspecto deprimente desta blue monday. Outro problema é que a cotação do minério caiu nas bolsas asiáticas – 3,55% em Cingapura e 0,80% em Dalian – e puxou junto a Vale e a turma das siderúrgicas: VALE3 -2,99%, CNSA3 -3,03%, CMIN3 -5,65%.

O motivo é o dilema chinês: se eles liberam geral e deixam a Covid se espalhar, a situação epidemiológica do país piora e a demanda por minério para a construção civil pode cair. De fato, as bolsas asiáticas fecharam todas em baixa na manhã de hoje, com medo do avanço do vírus. Por outro lado, se Xi Jinping reforça a política Covid zero, os lockdows travam a economia do país e a demanda por minério também cai.

De qualquer forma, nessa situação de cruz e espada, os mercados do Ocidente já deram todos os sinais de que preferem a reabertura, e o pregão de hoje foi um ponto fora da curva. A cotação do minério subiu 40% nos últimos dois meses com as notícias de que a China pegaria mais leve com os lockdowns, e a Vale pegou carona: seus papéis valorizaram 28% desde o primeiro dia de novembro.

Outra questão é que a agenda dos próximos dias está lotada. Aqui no Brasil, tem ata do Copom na terça e votação da PEC da Transição na Câmara na quarta – votação essa que vai flutuar ao sabor do julgamento do infame orçamento secreto. Se Rosa Weber e sua turma acabarem com a mamata das emendas do relator, os deputados vão fazer birra e dificultar a tramitação do texto, que já tinha sido combinada entre Lula e Lira.

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Em Nova York, o clima foi bem melhor: Wall Street pediu só 0,5 ponto percentual de alta na taxa básica de juros para o Papai Noel, e esse deve mesmo ser o presente do “Copom” americano em sua última reunião do ano – a não ser que o CPI de novembro, que é o IPCA americano, venha uma tragédia, o que é improvável. A divulgação do índice está programada para amanhã, dois dias antes da decisão do Fomc, na quinta. A previsão consensual é de 7,3% de inflação nos últimos doze meses, vs. 7,7% em outubro.

Os índices de Nova York fecharam animados com essa perspectiva, mas o clima em longo prazo ainda é de enterro: os bancos centrais da Zona do Euro e do Reino Unido também devem subir suas taxas no final desta semana, encaminhando o Ocidente para a recessão cabalística de 2023.

Apertem os cintos para uma semana turbulenta.

Maiores altas

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Gol (GOLL4): 4,95%
PetroRio (PRIO3): 2,97%
Minerva Foods (BEEF3): 2,59%
Embraer (EMBR3): 2,29%
Cielo (CIEL3): 2,07%