Ibovespa sobe 1,8% com commodities em alta e fala de Powell
Inflação veio acima do esperado, mas não refletiu na bolsa. Nos EUA, presidente do Fed diz que abertura do ralo para drenar dólares ainda vai demorar.
O Ibovespa fechou nesta terça-feira com forte alta de 1,8%, apesar do IPCA de dezembro acima do esperado, que revelou a maior inflação em seis anos. O otimismo que ajudou o índice a se manter no azul veio de duas frentes: um bom-humor em Wall Street, que comemorou após o presidente do BC americano garantir que a drenagem de dólares em circulação na economia vai demorar, e de consideráveis ganhos nos papéis da Petrobras e da Vale após alta nos preços do minério de ferro e no petróleo.
A ajudinha americana veio no período da tarde, quando os investidores pararam para ouvir atentamente o testemunho de Jerome Powell ao Senado americano na tarde de hoje. O atual presidente do Fed foi indicado por Joe Biden para um segundo mandato, mas a decisão precisa ser confirmada pelos senadores, e por isso a sabatina. Nisso, o mercado aproveitou para pescar dicas sobre o futuro da política monetária americana.
Na sessão, Powell reiterou o discurso mais agressivo adotado pelo Fed na última reunião. A inflação dos EUA é a maior em 40 anos e o banco central está empenhado em combatê-la. Um dos mecanismos usados para isso é o aumento de juros, que atualmente estão próximos ao zero. O Fed já antecipou três aumentos de 0,25 pontos percentuais neste ano, e o mercado espera que o primeiro aconteça já em março. Há quem aposte que só três não sejam suficientes – o Goldman Sachs, por exemplo, projeta quatro altas.
Outro mecanismo já anunciado pelo Fed é o fim do programa de compras de títulos iniciado na pandemia, que chegou a colocar US$ 120 bilhões em circulação por mês para estimular a economia americana. Isso deve acontecer também em março.
Até aí, nenhuma novidade. O mercado já estava OK com o fechamento da torneira de dólares e com o aumento de juros. Mas a ata da reunião do Fed, que saiu na última quarta-feira, trouxe uma bomba a mais para os mercados: o órgão citou a possibilidade de começar a reduzir seu balanço de ativos logo após o início da alta de juros.
Atualmente, o Fed tem US$ 8,7 trilhões em ativos em sua carteira. Antes, o banco central só falava em parar de comprar novos títulos – ou seja, fechar a torneira que vinha enchendo a piscina de dólares em que o mercado estava nadando. Na ata da reunião de dezembro, porém, foi além e citou a possibilidade de começar a vendê-los em breve – em outras palavras, abrir o ralo para começar a drenar a grana. Isso pegou o mercado de surpresa.
Mas Powell voltou a tocar no assunto hoje, e sua fala acalmou os mercados. Disse que o órgão está longe de tomar uma decisão sobre quando abrirá o ralo – o tema será debatido nas próximas “três ou quatro reuniões” do comitê. Embora ele tenha admitido que o balanço patrimonial está maior que o nível considerado adequado, deixou claro que sua redução não começará tão cedo assim
A fala agradou investidores, que interpretaram que ainda há tempo para aproveitar a piscina antes que ela comece a ser esvaziada. O S&P 500 subiu 0,92%, enquanto o Nasdaq, que reúne ações de tecnologia, teve alta de 1,4%.
No Brasil
Por aqui, o Ibovespa surfou na onda de Wall Street, mas já apontava para alta mesmo antes dos americanos definirem seu humor. E olha que o dia começou com a notícia de que o IPCA, o índice de inflação calculado pelo IBGE, veio acima do esperado. Em dezembro, o número foi de 0,73%, uma desaceleração antes aos 0,95% de novembro, mas acima dos 0,65% esperados pelo mercado.
Com isso, o ano fechou com inflação de 10,06%, a maior desde 2015. A meta era de 3,75%, com teto de 5,25%.
Em um longo documento enviado a Paulo Guedes, o Banco Central brasileiro justificou que os motivos por trás da inflação tão alta são, principalmente, o preço do petróleo no mercado internacional e a bandeira tarifária da energia elétrica. Também previu que a inflação de 2022 será bem menor e reiterou um novo aumento de 1,5 pontos percentuais da Selic em fevereiro.
Mas a verdade é que o dado de inflação pouco impactou o mercado hoje. Altas nas ações de pesos ajudaram o Ibovespa a se firmar no azul, incluindo os papéis da Petrobras: PETR4 2,96%, PETR3 4,13%. Hoje, a estatal anunciou um aumento nos preços dos combustíveis a partir de quarta-feira. A gasolina vendida para as distribuidoras passará de R$ 3,09 para R$ 3,24 por litro (+4,85%), enquanto o diesel vai de R$ 3,34 para R$ 3,61 (+8%).
A alta da Petro também se deve ao preço do petróleo, que subiu 3,52% hoje. A Vale, toda-poderosa do Ibovespa, também subiu (+1,9%). Na China, o preço do minério de ferro subiu 2,74% hoje, se aproximando do patamar de US$ 130 por tonelada e puxando para cima os setores de mineração e siderurgia da bolsa. O otimismo não parou por aí: das 93 ações do Ibovespa, só 12 não subiram.
Até amanhã.
Maiores altas
Méliuz (CASH3): 7,32%
Petz (PETZ3): 7,07%
Natura (NTCO3): 6,33%
Usiminas (USIM5): 6,05%
Hapvida (HAPV3): 5,96%
Maiores baixas
BRF (BRFS3): -1,28%
Braskem (BRKM5): -1,19%
Embraer (EMBR3): -1,10%
Minerva (BEEF3): -1,02%
Klabin (KLBN11): -0,87%
Ibovespa: 1,80%, aos 103.778 pontos
Em Nova York
Dow Jones: 0,51%, aos 36.251 pontos
S&P 500: 0,92%, aos 4.713 pontos
Nasdaq: 1,41%, aos 15.153 ponto
Dólar: -1,67%, a R$ 5,5798
Petróleo
Brent: 3,52%, a US$ 83,72
WTI: 3,82%, a US$ 81,22
Minério de ferro: 2,74%, negociado a US$ 129,17 por tonelada no porto de Qingdao (China)