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Fed indica alta de juros para março e joga bomba nuclear nas bolsas

Ibovespa fundou 2,42%, mais que os 1,94% do S&P 500. Não, o bitcoin não escapou do massacre.

Por Bruno Carbinatto e Tássia Kastner
Atualizado em 5 jan 2022, 19h15 - Publicado em 5 jan 2022, 19h14

A bolsa abre logo de manhã, mas hoje foi um daqueles dias que começaram pra valer perto do fechamento. Às 16 horas, para ser mais exato. Foi quando o Federal Reserve, o Banco Central americano, revelou que a alta de juros pode começar mais cedo e ser mais rápida. Nisso, o mercado começou a apostar que ela virá já em março, notícia que transformou o mercado financeiro em um pandemônio.

As bolsas americanas tombaram 2%, o Ibovespa despencou 2,42% e foi flertar de novo com os 100 mil pontos. O dólar disparou e nem o Bitcoin se safou (e por que seria diferente, não é mesmo?).

A notícia veio na ata da reunião do Fed realizada em 14 e 15 de dezembro. Logo depois do encontro, o presidente do Banco Central, Jerome Powell, tinha dado pistas de que o órgão pretendia ser mais rápido no plano de começar a enxugar dinheiro da economia. 

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Dá para fazer isso de duas maneiras: encerrando o programa de recompra de títulos, que chegou a colocar US$ 120 bilhões por mês na economia americana, e subindo juros. Em novembro, o Fed havia começado a reduzir as tais compras e, pela última reunião, o mercado havia entendido que torneira pararia de pingar em em março. 

Isso não mudou. Só que a ata do Fed indicou que, no mesmo mês, o BC dos EUA pode promover a primeira alta na Selic deles em três anos. A taxa está perto de zero desde março de 2020, quando o coronavírus virou uma pandemia. No ano passado, o Fed já tinha dado um spoiler de 2022 para investidores, antecipando três aumentos de juros no ano – algo que a ata confirmou; a questão é que virão mais rápido, o que muda todas as projeções dos investidores.

E a ata veio com requinte de crueldade. Alguns dirigentes do Fed ainda defenderam uma terceira medida que pode tomar ainda este ano para combater a inflação – a de redução do seu balanço de ativos, possivelmente logo após a subida dos juros. Enquanto o Fed comprava títulos, ele foi enchendo a piscina de dinheiro em que o mercado estava nadando e, até agora, ele só vinha falando em parar de jogar água. A indicação de hoje é que o plano é abrir o ralo para secar – ou deixar a piscina mais rasa, ao menos. O balanço de ativos do Fed tem US$ 8 trilhões, e ele mais que dobrou desde o começo da pandemia. Para reduzi-lo, agora o BC precisa fazer o contrário: começar a vender esses papéis no mercado e colocar o dinheiro de volta no cofre. 

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Isso tudo seria necessário porque essa piscina de dinheiro levou os EUA à maior inflação em três décadas. E a economia vai bem, obrigado, com o mercado de trabalho a todo vapor. 

Dados divulgados nesta quarta mostraram que o setor privado americano criou 807 mil empregos em dezembro, mais que o dobro da expectativa do mercado, que falava em 375 mil vagas. E economistas ainda consideram que o país tem resistido bem aos impactos da Ômicron, o que diminui as chances de um cavalinho de pau do Fed em prol da manutenção de estímulos.

Salve-se quem puder

Resumo da ópera: as bolsas pelo mundo despencaram. Afinal, juros mais altos tiram dinheiro da economia porque a renda fixa começa a ficar mais sedutora que ações e qualquer outra coisa mais arriscada do que emprestar dinheiro para o governo. Ou seja, qualquer coisa.

Os juros dos Treasuries, títulos públicos dos EUA e considerados os mais seguros do mundo, dispararam depois da ata e atingiram os maiores níveis desde abril de 2021. 

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O resultado foi uma queda de 1,94% no S&P 500, maior índice acionário dos EUA, que acumulou altas robustas em 2020 e 2021 – muito em parte da política generosa do Fed, diga-se. Mais forte ainda foi o tombo do Nasdaq, índice que reúne as ações de tecnologia, marcadamente mais sensíveis aos juros – queda de 3,34%.

O Ibovespa também apanhou. Enquanto Wall Street batia recordes em 2021, a B3 recebeu o título de “pior bolsa do mundo”. Por dois motivos: primeiro, que os juros aqui começaram a subir ano passado, e já foram para perto de 10%. Aí o remédio amargo que o mundo viveu hoje, o Brasil já toma desde o ano passado. O segundo problema é a nossa tradicional bagunça política e econômica.

A gente só vinha se segurando por causa do Fed. Ao cessar os afagos aos mercados globais, ele decretou uma nova rodada de azedume por aqui. O Ibovespa fechou em queda de 2,42%. Apenas 4 ações subiram: BRF, depois de o Credit Suisse elevar a avaliação da empresa para “acima da média do mercado”, Vale (e a investidora da Vale, a Bradespar), apoiadas na alta do minério, e o Banco Pan.

O dólar disparou e fechou em R$ 5,7121. O bitcoin, por sua vez, derreteu 5% após o anúncio do Fed. 

Dias como esta quarta são sempre traumáticos. Para amenizar o impacto, só lembrando que tem mercado todo dia. E não há mal que nunca acabe (viu, Ibovespa?). Até amanhã.

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Maiores altas

BRF (BRFS3): 1,25%

Vale (VALE3): 0,95%

Banco Pan (BPAN4): 0,32%

Bradespar (BRAP4): 0,24%

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Maiores baixas

Locaweb (LWSA3): -12,78%

Petrorio (PRIO3): -10,76%

Grupo Soma (SOMA3): -9,54%

Méliuz (CASH3): -9,00%

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Positivo (POSI3): -8,69%

Ibovespa: -2,42%, aos 101.005 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,94%, aos 4.700 pontos

Nasdaq: -3,34%, aos 15.100 pontos

Dow Jones: -1,07%, aos 36.407 pontos

Dólar: 0,39%, a R$ 5,7121

Petróleo

Brent: 1,00%, a US$ 80,80

WTI: 1,11%, a US$ 77,85

Minério de ferro: 1,44%, cotado a US$ 124,89 no porto de Qingdao

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