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Ibovespa cai com juros futuros em alta e ameaça de BNDES financiando obras na Argentina

Resmungos de Lula sobre a meta de inflação em 3,25% jogaram as projeções de IPCA do Focus para cima – e os juros futuros foram junto. Enquanto isso, Credit Suisse recomenda compra de Banco do Brasil e Itaú, e venda de Santander e Bradesco. Resultado? Todos caíram.

Por Bruno Vaiano
23 jan 2023, 19h05

O Ibovespa operou indeciso hoje – e fechou em baixa na reta final, apesar de ter permanecido no verde ao longo da tarde. Foi um cabo de guerra entre várias forças. Do lado cabisbaixo da equação, ainda ecoam as declarações de Lula sobre a meta de inflação de 2023 em 3,25% – semana passada, o presidente advogou por um limite mais generoso, de 4,5%. 

Essa conversa, que rolou antes do final de semana, mexeu com o boletim Focus, divulgado hoje: as projeções para o IPCA de 2023 subiram de 5,39% para 5,48%, enquanto a previsão para 2024 foi de 3,70% para 3,84%. Isso subiu os juros futuros e puxou o freio de mão do mercado como um todo. 

A visita de Lula à Argentina não rendeu frases cataclísmicas. Mas o teor de suas declarações, na média, não agradou os agentes mais ortodoxos do mercado. Um problema é que o presidente falou em usar o BNDES para financiar a construção de infraestrutura na Argentina por empresas brasileiras. Isso é sinônimo de dinheiro fresco entrando em circulação na forma de crédito – o que dificulta o combate da inflação por meio de aumentos na Selic, prática que tem o objetivo de drenar dinheiro da praça.

Lula também mencionou de passagem o plano de criar uma moeda para transações comerciais entre países do Mercosul (que se chamaria sur, “sul” em espanhol). Essa moeda hipotética, Haddad fez questão de reforçar, não substituiria nem o peso, nem o real. Ou seja, não teria a mesma função do euro. Ela serviria apenas para o comércio exterior entre os dois países – no lugar do dólar. 

“Não temos muito o que dizer por enquanto. Acredito que os dois países ainda estão explorando a ideia”, declarou Todd Martinez, um diretor sênior da agência Fitch – frase que resume bem a indiferença com o assunto enquanto ele permanecer no campo teórico. 

Enquanto a política fazia sua parte puxando o índice para baixo, a Petrobras bem que tentou salvar o dia. 

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O petróleo fez sua parte 

Sem novidade: petróleo em alta, Petrobras em alta. Esse tem sido o roteiro dos pregões desde quarta passada, quando o preço do barril começou a subir, puxado pelas esperança de reaquecimento econômico da China após o fim da política covid zero. 

O ano-novo chinês – feriadão de uma semana que começou sábado (21) e só termina sexta (27) – vai funcionar como termômetro da reabertura: se houver um fluxo razoável de cidadãos fazendo viagens domésticas e internacionais, o líder comunista Xi Jinping terá motivo para sorrir, bem como as Farias Limas e Wall Streets mundo afora. O evento é considerado a maior migração humana sazonal, já que boa parte da bilionária população chinesa se desloca simultaneamente. 

O problema: há o risco de que os dados dessas férias coletivas, em 2023, sejam decepcionantes, e mostrem que a economia sínica saiu da panela dos lockdows para cair na frigideira da Covid. Com o fim das restrições, o vírus está se espalhando num ritmo assustador – calcula-se que 80% da população da China tenha se infectado de dezembro para cá, o que dá 14% da população mundial. Fica difícil discordar dos viajantes que porventura estejam com medo de se enclausurar em um ônibus ou avião. 

Se o turismo chinês passar janeiro na pior, será um início lúgubre para a economia mundial como um todo em 2023. Afinal, com juros e inflação em alta nos EUA e na Europa, só o tigrão asiático tem tamanho para aliviar a recessão que se avizinha. 

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Hoje, especificamente, houve um motivo extra para a alta do Brent: o G7 e seus aliados prometeram revisar, em março, o teto de US$ 60 para o barril russo. Se Putin ficar mais apertado, o preço do combustível acaba subindo no mundo todo.

Duelo dos bancos 

O Credit Suisse pôs fogo no parquinho dos bancões. Hoje, os pitaqueiros profissionais dos Alpes reforçaram a recomendação de compra de ações do Banco do Brasil, prevendo uma rentabilidade equivalente a 19% do patrimônio líquido em 2023. Fizeram o mesmo com o Itaú, que deve dar 20%. Esse dado, conhecido como return on equity, ou simplesmente ROE, é um indicador importante da saúde de um banco. 

Enquanto isso, a corretora suíça sugeriu aos investidores que liquidem seus papéis do Santander – que antes tinham recomendação neutra –, e manteve a recomendação de venda do Bradesco, argumentando que esses dois bancos privados deverão ter ROE de apenas 10% neste ano. 

De início, aconteceu o óbvio: BBAS3 subiu, enquanto BBDC3 e SANB3 caíram. Mas o pregão foi passando e, na reta final, o Banco do Brasil caiu também. O Itaú simplesmente permaneceu no chão ao longo do dia, ignorando a recomendação.  

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A ação BBSA3, vale lembrar, está barata em relação a seus pares do setor. O jeito adequado de avaliar isso é usar uma fórmula chamada P/L – que consiste em pegar o valor somado das ações de uma empresa (sua capitalização de mercado, ou market cap) e dividi-lo pelo lucro dos últimos 12 meses. O P/L do BB está em 4,16, versus 8,53 do Itaú, 7 do Santander e 6,96 do Bradesco. 

Ou seja: os investidores ainda não estão recompensando os esforços do Banco do Brasil para melhorar seus laços com os faria limers. 

E que esforços: o presidente anterior, Fausto Ribeiro, entrou em abril de 2021 e fez um trabalho exemplar com seu CFO José Ricardo Forni. Sob gestão da dupla, o Banco do Brasil entregou um lucro recorde de R$ 8,1 bilhões no terceiro trimestre de 2022, um salto de 76% em comparação com 2021 que deu ao BB o troféu de bancão mais rentável do país. A política de dividendos também mudou. O payout foi de 25% para 40% do lucro. 

Com a chegada do governo Lula, naturalmente, houve mudanças na gestão. Poderia haver uma ruptura, mas não houve. O Banco do Brasil anunciou um novo CFO, e o currículo é o melhor possível para dar continuidade ao projeto de Fausto e Forni. Marco Geovanne da Silva trabalhou 23 anos na estatal, saiu em 2010 e então acumulou funções variadas: esteve no conselho da Vale, foi vice-presidente da sucursal brasileira do Bank of America e diretor de participações da Previ. 

Tanto Marco como Tarciane Medeiros, a nova CEO, são quadros técnicos, com décadas de experiência em cargos de gestão dentro e fora do BB. Para saber mais sobre os fundamentos do banco, leia aqui

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Por fim…

Lembra da novela em torno do fundo Nu Reserva Imediata, do Nubank? Pois é: ele já perdeu 178 mil investidores, que deram no pé após perderem uma porcentagem da grana que estava investida em debêntures da Americanas. (Você pode entender melhor essa história aqui.)

Falando em Americanas, quem quer ter grana no varejo aproveitou o primeiro dia de AMER3 fora do Ibovespa para rechear a carteira com outras ações do setor – como as da Via, que subiram 8,37% hoje e encabeçaram o top 5 de altas. Quem não tem cão, caça com uma lebre que não está em recuperação judicial. Dá uma olhada aqui embaixo, no nosso ranking de maiores altas e baixas. E até amanhã.

Maiores altas

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Via (VIIA3): 8,37%
Magazine Luiza (MGLU3): 5,76%
Carrefour (CRFB3): 5,64%
Vivo (VIVT3): 5,02%
CSN Mineração (CMIN3): 3,81%

Maiores baixas

Bradesco (BBDC4): -4,23%
Cosan (CSAN3): -4,14%
Santander (SANB11): -4,08%
Minerva Foods (BEEF3): -3,55%
Hapvida (HAPV3): -3,42%

Ibovespa: -0,27%, a 111.737 pontos


Em NY:

S&P 500: 1,18%, a 4.019 pontos
Nasdaq: 2,01%, a 11.364 pontos
Dow Jones: 0,76%, a 33.628 pontos.

Dólar: -0,15%, a R$ 5,20


Petróleo

Brent: 0,64%, a US$ 88,19

WTI: -0,02%, a US$ 81,62 


Minério de ferro:
  -0,20%, a US$ 126,05 a tonelada na bolsa de Cingapura

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