Governo dobra a meta de irresponsabilidade, e atiça o urso na bolsa
Lá fora, o mercado acordou indefinido. Por aqui, segue a tendência de baixa com a ausência de controle sobre os gastos públicos.
O S&P 500 subiu 4,7% no último mês, e renovou seu recorde histórico para a casa dos 4.700 pontos. Esta manhã, porém, é uma das raras nos últimos tempos a não apontar para uma nova alta. Os futuros dos índices americanos estão indefinidos, com a boa temporada de balanços pesando para o azul e o receio com a inflação puxando para o vermelho. Resultado: um grande zero a zero.
Um dado de hoje, aliás, mostra bem o caráter global da inflação. O “IPCA” do Reino Unido subiu 1,1% em outubro, na comparação com setembro. Nos últimos 12 meses, a inflação da libra está em 4,2%, a maior em 10 anos.
A inflação global não ocorre por ganância dos donos de mercadinho, naturalmente, mas por conta dos elevados gastos públicos para combater o efeito depressivo da pandemia. O vírus tende a evaporar com as vacinas. O dinheiro extra em circulação, não. Ele fica, pressionando os preços para cima.
A vacina contra a inflação é uma só: reduzir a injeção de dinheiro novo na economia.
No Brasil, o Banco Central tem feito esse papel. Aumentar os juros significa produzir menos dinheiro novo. Legal. O problema é que o Poder Executivo vai na contramão, a começar pela nova promessa de Bolsonaro, a de aumentar o salário do funcionalismo público.
Há 1,2 milhão de servidores federais. O gasto extra com um eventual aumento custaria entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões por ano a cada ponto percentual, de acordo com o economista Felipe Salto, do Instituto Fiscal Independente (no Valor).
Os funcionários estão há dois anos sem reajuste, como justificou o próprio Bolsonaro. Pois bem. Se a ideia for compensar só a inflação dos últimos 12 meses, então, estamos falando em um gasto extra entre R$ 30 bilhões e R$ 40 bilhões. É o equivalente ao que o governo já pretendia gastar fora do teto para bancar o custo extra do novo Auxílio Brasil.
Ou seja: atingida a meta de irresponsabilidade com os gastos públicos, dobra-se a meta.
E o resultado são fenômenos como o que vimos ontem: queda de 1,82% no Ibovespa num dia de alta para o mercado global. No ano, a queda já soma 16%.
Ontem a B3 inaugurou a estátua de um touro em frente à sua sede, no centro de São Paulo. Seria melhor terem copiado a bolsa de Frankfurt, que, além de um touro, também tem um urso.
Futuros S&P 500: -0,04%
Futuros Nasdaq: -0,03%
Futuros Dow: 0,03%
*às 7h36
Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,03%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,33%
Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,13%
Bolsa de Paris (CAC): 0,06%
*às 7h35
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,05%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,40%
Hong Kong (Hang Seng): -0,25%
Brent: -0,86%, a US$ 81,72*
Minério de ferro: 1,16%, a US$ 91,04, no porto de Qingdao na China
*às 7h37
9h30 – Ministério da Economia divulga projeções de indicadores econômicos. Para o PIB, a estimativa deve ser mantida acima de 2%, contrariando outras previsões.
Recuperou
O Eurostat, escritório de estatísticas da União Europeia, confirmou os dados prévios que indicavam um crescimento de 2,2% do PIB na zona do euro no terceiro trimestre deste ano. O resultado é levemente superior ao do 2T21 (2,1%). Em comparação direta com o 3T de 2020, porém, o aumento foi mais robusto: 3,7%. O dado consolida a recuperação econômica dos países do bloco após a crise provocada pela pandemia. Só que não aplaca temores. A Covid-19, afinal, volta a rondar a Europa, o que deixa economistas com o pé atrás em relação à sustentabilidade desse crescimento.
Aniversário
O Pix completou um ano em operação ontem. O serviço já movimentou R$ 4 trilhões e é usado por 6 em cada 10 brasileiros. Entre as empresas, incluindo as micro, são 7,9 milhões usando o Pix para receber ou pagar – 54,6%. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, prometeu novas funcionalidades, como um Pix internacional – embora não haja previsão.
Notificação que não acaba mais
Você já decorou o som de todas as notificações que recebe ao longo do dia? Os sons pipocam no WhatsApp, no Google Calendar, no Zoom… Não faltam opções (e barulhos) capazes de interromper nossas tarefas. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia aponta que trocamos de tela em média 566 vezes por dia. Na metade delas, porque somos interrompidos. Nestes casos, o estudo mostra que podemos demorar até 25 minutos para voltar à atividade em que estávamos. Uma bela fonte de estresse. O The Wall Street Journal aborda o problema e dá dicas para driblá-lo.
E em 2022?
Numa entrevista ao Estadão, o economista e professor da Universidade de Columbia José Alexandre Scheinkman fala sobre as possibilidades para a economia brasileira e global no próximo ano. Segundo ele, o arranjo para uma retomada da economia mundial depende de fatores como equilíbrio na cadeia de suprimentos, medidas de controle inflacionário e da situação climática. “Há tantas variáveis envolvidas que é difícil dizer qual será o desempenho da economia no ano que vem”, aponta. No Brasil, ele vê a situação como “complicada” e diz que “o objetivo da política fiscal é reeleger o Bolsonaro”. Leia aqui.