GOGL34 já caiu 9,6% desde que o chatbot rival do ChatGTP errou resposta em sua estreia
O Google divulgou sua nova inteligência artificial em um post na segunda (16), mas o erro passou despercebido até quarta (18) – quando a Reuters notou, publicou e o mercado não perdoou.
Na última segunda-feira (6), o Google anunciou o Bard, um concorrente do ChatGTP. Não teve muita pompa nem circunstância: em vez de um evento presencial à moda Apple, o CEO da Alphabet Samir Pichai fez um post singelo no The Keyword, o blog oficial onde a empresa divulga suas novidades.
“Nós estamos trabalhando em um serviço de chatbot com inteligência artificial, usando nosso modelo de linguagem para aplicação em diálogos (LaMDA), que chamamos de Bard. Hoje, estamos dando mais passo adiante ao abri-lo para alguns avaliadores confiáveis antes de disponibilizar a ferramenta para um público mais amplo nas próximas semanas.”
Legal. Mas o diabo estava nos detalhes. Mais ou menos no meio do texto, aparece um videozinho (mais precisamente, um GIF) de dez segundos em que perguntam para o robô: “Quais novas descobertas do telescópio espacial James Webb eu posso contar ao meu filho de 9 anos?”. Ele dá três sugestões de resposta:
E acontece que a última das três está errada. O Bard diz que o James Webb – lançado em dezembro de 2021 – fez as primeiras fotos de um planeta localizado fora do nosso Sistema Solar. Na verdade, esse é um feito bem mais antigo. Em 2004 um telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO) localizado no deserto do Atacama já havia feito o clique aqui embaixo. O planeta em questão é o borrão vermelho. Falaremos mais sobre ele adiante.
(Por ora, uma curiosidade: esse telescópio do ESO é tão imenso que foi batizado simplesmente de VLT: very large telescope, ou “telescópio muito grande”.)
Errar nesse Show do Milhão custou mais de US$ 100 bilhões para o valor de mercado da Alphabet; o BDR aqui na B3 (GOGL34) fechou o pregão de quarta (18) em queda de -7,64%. E nesta quinta, a queda continua. No acumulado, a perda é de quase 10%. Mas calma: o anúncio não rolou na segunda?
Pois é. O problema é que, de início, ninguém havia percebido o erro. A notícia só se espalhou depois que alguém na Reuters percebeu e publicou, na quarta, um texto dedurando o Google.
Um porta-voz se defendeu: “Isso destaca a importância de um processo de teste rigoroso, algo que estamos iniciando esta semana com nosso programa Trusted Tester”. De fato, a liquidação em massa de ações da Alphabet tem um que de alarmismo: o ChatGTP também erra, e a tela do Bard tem um disclaimer dizendo que ele pode errar (ele está visível em um trecho do GIF).
Essa foi uma boa demonstração do tanto de pano que o mercado anda disposto a passar para as gigantes do Vale do Silício após as demissões em massa dos últimos meses e a alta dos juros nos EUA: nenhum. Mas, embora as ações das principais big techs tenham caído muito em 2022, elas ainda não estão baratas. Leia mais aqui.
Uma ajudinha dos universitários para o Bard:
Os astrônomos chamam os planetas que giram em torno de outras estrelas de exoplanetas. Eles não emitem luz própria e são minúsculos em relação às estrelas que orbitam, o que torna particularmente difícil fotografá-los. A foto de 2004 que você viu acima mostra o exoplaneta 2M1207b (o borrão vermelho à esquerda). Ele tem cinco vezes mais massa que Júpiter e aparece próximo à anã-marrom 2M1207 (o borrão à direita, azulado).
Esse “próximo” é só para os padrões cósmicos, claro: a distância entre os dois, na verdade, é 55 vezes maior que o vão médio entre a Terra e o Sol. Uma anã-marrom é uma “estrela abortada”. Como ela tem pouca massa, a pressão exercida por sua gravidade não é suficiente para desencadear o processo de fusão de átomos hidrogênio em seu núcleo. A fusão é o processo que gera o calor e a luz desses astros.
Aqui na Terra, muitos cientistas trabalham para reproduzir a fusão e usá-la como fonte de energia verde e sustentável, uma frente de pesquisa que atraiu US$ 5 bilhões em investimentos privados só em 2022. Já tivemos mais sucesso que as anãs-marrons: o Laboratório Nacional Lawrence Livermore, nos EUA, obteve uma reação de fusão que gera mais energia do que o montante necessário para desencadeá-la em primeiro lugar. O superávit de energia só foi suficiente para manter uma TV ligada, mas é melhor do que nada.