Entenda de uma vez o que é o Swift
O sistema de pagamentos une 11 mil instituições, de 200 países, e processa 8 bilhões de transferências por ano. Ficar de fora dele equivale a um exílio financeiro. O banco da "Petrobras da Rússia", porém, foi poupado.
Você encomendou um contêiner cheio de matrioskas para vender na 25 de Março e agora vai pagar o fornecedor, um sujeito lá de Moscou. Ele pede para que você deposite na conta dele do Bank Rossiya (pronuncia-se Rrracía, com “r” de Galvão Bueno e acento no “í”; é assim que os russos chamam a Rússia – Rrracía).
Aí você abre o app do seu banco, clica em “transfrências”; depois, em “câmbio”. Aí vai aparecer um campo perguntando para qual banco gringo você quer mandar o dinheiro.
O que você faz? Escreve “Banco Rossiya”? Não. O app pede o “códico Swift” do banco estrangeiro. Nesse caso, é ROSYRU21CNT. Aí é só você colocar o número da conta que o vendedor de Matrioskas te passou e pronto.
Bom, nesse caso, não. Como você sabe, boa parte dos bancos russos teve seus códigos Swift bloqueados, como parte das sanções contra o país. É o caso do Rossiya. Tente mandar dinheiro para lá, e vai dar pau. Sem o código, ele não consegue receber transferências eletrônicas de nenhum lugar do mundo que não seja a própria Rússia.
O Swift é o sistema internacional que faz os bancos planeta afora conversarem entre si. O nome é uma sigla bem sacada para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication. Bem sacada porque “swift” significa “rápido”, “ágil” (nota: a marca de carnes que a JBS comprou em 2007 tem esse nome por outro motivo; é que o fundador se chamava Gustavus Franklin Swift).
O Swift, enfim, tem 11 mil bancos associados, de 200 países, e processa 8 bilhões de transferências por ano. Curiosidade: o código do Banco do Brasil é BRASBRRJ; o do Itaú, ITAUBRSP (note que no final vem as siglas dos estados onde ficam as sedes dos bancos). E é isso. Ficar de fora desse clube é uma dor de cabeça não só para o banco banido, mas para toda a balança comercial de um país.
Por isso, inclusive, que mantiveram o Gazprombank com seu código Swift intacto. A Gazprom é a Petrobras da Rússia – e tem seu próprio banco. É através dele que os países europeus pagam pelo gás natural e pelo petróleo que compram dos russos. Dele e do Sberbank, também estatal e maior banco da Rússia (dono de um terço dos depósitos do país).
O Sber também foi poupado. Segue com o seu código Swift operante. E sim: o fabricante de matrioskas pode abrir uma conta no Sberbank ou no Gazprom para receber o dinheiro dele. Para ferir de fato a economia russa, só tirando esses dois do Swift. Mas aí criaria-se um problema global, já que o preço do gás e do petróleo chegaria à Lua.
No Brasil seria ainda pior. Nossa inflação teima em ceder mesmo com a Selic em dois dígitos. Gasolina e diesel ainda mais caros puxariam os preços de tudo ainda mais para cima, forçando a manutenção de uma Selic insalubre para a economia. Não só. O governo poderia intervir na Petrobras, congelando os preços dos combustíveis nas refinarias – prejuízo na veia para a estatal, que responde por 12% do Ibovespa. A ver.