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Dólar a R$ 5,20, Ibovespa lutando pelos 125 mil pontos. Que deu na Faria Lima?

Wall Street voltou do feriado com um mau-humor daqueles. Mas NY não tem culpa da crise política instalada em Brasília.

Por Guilherme Eler e Tássia Kastner
6 jul 2021, 18h52

Sabe o sonho de apertar a mão do Mickey? Deu uma azedada. É que o dólar, que vinha numa queda generosa e chegou a beirar os R$ 4,90, voltou a subir. Hoje a alta foi daquelas de ficar olhando para o monitor sem entender: 12 centavos em um dia (+2,39%). Nisso, a moeda americana terminou a R$ 5,2092. E o resto do mercado tampouco trouxe notícias animadoras. A bolsa aqui recuou 1,44%, tudo na carona do exterior.

Foram seis dias seguidos de alta do dólar. Até ontem, estava na conta dos problemas políticos brasileiros, e isso continua, claro (a gente já chega lá). Mas nesta terça-feira o que pegou mesmo foi um mau humor extremo dos americanos na volta do feriado de Independência em vez de voltarem descansados, né?

Foi um caso típico de “risk-off”, dia em que investidores decidem reduzir a exposição a investimentos de risco e saem correndo em busca de dólar. Analistas não conseguiram apontar um gatilho. Teve a queda dos preços do petróleo e depois tudo veio de arrasto. Mas o lance é que, fora estar na máxima desde 2018, não houve um motivo muito específico para que, hoje, o mercado passasse a achar isso caro. 

Uma outra explicação, também não muito convincente, é que o mercado decidiu adotar uma postura mais cautelosa antes da divulgação da ata da última reunião do Fed, realizada em junho. O documento sai amanhã e vai detalhar a opinião dos membros do banco central americano sobre as condições da economia do país e pode dar pistas sobre quando eles esperam reduzir a velocidade da impressão de dinheiro e subir os juros do país, atualmente zerados.

O fato é que petróleo, bolsas, rendimento dos títulos públicos americanos caíram até o bitcoin, caso você ainda esteja se perguntando se ele é um bom instrumento de proteção a seus investimentos.

Não é que o mundo tenha acabado, claro que não. O S&P 500 vinha quebrando recordes em uma sequência que foi a maior desde 1997. Então, apesar do aparente pânico de hoje, as coisas não estão assim tão dramáticas. O S&P 500 teve queda de 0,20%, enquanto o Dow Jones também fechou no vermelho baixa de 0,60%. Só o Nasdaq se manteve praticamente estável: +0,17%.

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Quem não caiu foi o dólar. É que esse botão de pânico liga, as pessoas vendem suas ações mundo afora e compram verdinhas, fazendo o preço subir. Existe um índice que compara a força da moeda americana ante outras divisas (como o euro, iene, libra esterlina ou o dólar canadense). É o DXY. No fim da tarde de terça, o DXY subia 0,38%.

A coisa nossa

Só que uma coisa é 0,38%. Outra é 2,39% de alta do dólar ante o real. E aí vem o combo de risco-Brasil.

O cenário político, que já andava meio abalado pelos desdobramentos da CPI da Pandemia e a nova proposta de tributação de dividendos, ganhou novos capítulos. Ontem, após o fechamento do mercado, o governo Bolsonaro anunciou a prorrogação do auxílio emergencial por mais três meses. A medida, que até era esperada, mas não de sopetão, veio após um strike de denúncias contra o presidente. 

Primeiro, as acusações de corrupção na compra de vacinas com cobrança de propina de US$ 1 por dose de AstraZeneca e a criação de um contrato capenga com a Covaxin. Agora, circulam gravações que implicam Bolsonaro no caso das rachadinhas nos gabinetes da família na Assembleia do Rio. Até então, as acusações paravam no filho, Flávio (hoje senador).

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Nem o anúncio de privatização dos Correios serviu para serenar investidores. Na verdade, a coisa é tão instável que eles enxergam (novamente) dificuldades para avançar com a agenda de reformas. Aí já viu.

Não só no dólar

O dia foi tão feio que o Ibovespa quase perdeu os 125 mil pontos. É, nossa sequência de recordes lá pelos 130 mil pontos já ficou no retrovisor. Foi um dia de liquidação de Brasil, com um caminhão de ações operando no vermelho. Não é exagero: das 84 ações listadas no Ibovespa só três (!) fecharam no azul: Bradespar (que teve alta de 1,27%), Vale (+0,74%) e Energisa (+0,09%). 

Vale e Bradespar são praticamente a mesma coisa: a Bradespar é uma empresa cujo negócio é ter ações da Vale. E a mineradora deu uma recuperada depois de uma sequência de quedas – teve uma ajudinha do minério de ferro lá na China e de uma 

Braulio Langer, analista da Toro Investimentos, fez a conexão óbvia: “Hoje também tivemos uma venda em massa das ações brasileiras, possivelmente provocada por uma incerteza com relação à economia nacional”, diz Langer.

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Em português, todo mundo quis se livrar das ações, de brasileiros a gringos que andavam trazendo dinheiro para cá sem parar (a entrada de dinheiro estranheiro na bolsa foi recorde no primeiro semestre). Andavam. Eles já começaram, aos poucos, a reduzir a grana lá na B3.

O lance é que eles vão embora, levando os dólares que tinham trazido para o país. “Isso acaba enfraquecendo o real frente ao dólar.”

A coisa ficou tão feia que, no fim, o top 5 de maiores altas tem até queda. Agora é torcer para o mundo se acalmar, já que com Brasília anda difícil de contar. Até amanhã.

Maiores altas

Bradespar: 1,42%

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Vale: 0,53%

Energisa: 0,09%

Hapvida: -0,47%

RaiaDrogasil: -0,48%

Maiores baixas

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PetroRio: -5,82%

Azul: -4,17%

Petrobras: -4,09%

Gol: -3,25%

Ambev: -2,17%

Ibovespa: queda de 1,44%, aos 125.094 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,20%, aos 4.343,54 pontos

Nasdaq: +0,17%, aos 14.663,64 pontos 

Dow Jones: -0,60%, aos 34.577,37 pontos 

Dólar: +2,39%, a R$ 5,2092

Petróleo

Brent: –3,41%, a US$ 74,53

WTI: -2,38%, a US$ 73,37

Minério de ferro: +0,24%, cotado a US$ 222,36 a tonelada no porto de Qingdao (China) 

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