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Deu gatilho: BC contrata alta agressiva de juros e bolsa cai 1,67%.

Investidores usam recado duro do Banco Central sobre a Selic para colocar lucro acumulado em cinco dias no bolso. Wall Street também cai, mas Nubank faz bonito na estreia.

Por Bruno Carbinatto, Tássia Kastner
9 dez 2021, 19h01

Depois de cinco pregões fechando no azul, o Ibovespa voltou a cair nesta quinta-feira e perdeu 1,67%, retornando ao patamar dos 106 mil pontos. Um pregão até previsível de pausa para colocar um lucro no bolso. Aconteceu também no exterior – e olha que por lá o rali foi de três dias –, mas que aqui também teve um empurrãozinho do Copom.

Ontem, o Comitê de Política Monetária anunciou o aumento da Selic em 1,5 ponto percentual, para 9,25% ao ano, e já antecipou um reajuste da mesma magnitude para a próxima reunião. É o sétimo aumento seguido, e o maior patamar da taxa desde 2017. 

A decisão não surpreendeu absolutamente ninguém, é claro. Mas o tom adotado pelo órgão em seu comunicado, que o mercado costuma destrinchar palavra por palavra, deu sinais de que o comitê está adotando uma postura mais agressiva e dura para combater a inflação. Ressaltou, por exemplo, que a inflação ao consumidor permanece elevada e que há dúvidas com o futuro das contas públicas.

Mais: o documento cita apenas brevemente a atividade econômica fraca. A ênfase na inflação dá a entender que o Banco Central está disposto a apertar a mão nos juros mesmo com uma economia raquítica (há que preveja recessão em 2022, como o Itaú e Credit Suisse).

O tom duro do Copom fez o mercado revisar suas projeções da Selic para 2022, com um cenário de juros mais altos e por mais tempo.  O UBS BB, por exemplo, elevou a projeção de 11,5% para 12%; o Barclays, de 11,25% para 11,75%; e o banco BV de 11,0% para 11,75%.

Quem paga o pato é o Ibovespa, já que fica cada vez mais difícil para as empresas entregarem uma rentabilidade maior que a da renda fixa. Das 91 ações do índice, só 9 não fecharam no vermelho. 

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Na decisão, o Copom também citou um cenário externo menos favorável, com vários países agora trabalhando com a ideia de que a inflação é bem mais persistente do que se esperava. Sim, Fed, estamos falando de você – toda a atenção agora está no dado da inflação americana que sai amanhã de manhã. E todos esperam que seja alta – até o presidente Joe Biden admitiu hoje que o preço salgado da energia deve engordar o número.

Na semana que vem, o Fed se reúne para sua decisão monetária. Assim como aqui no Brasil, a inflação deve pesar. Em grande parte de 2021, Jerome Powell vinha adotando uma postura leve, sempre indicando que a inflação deveria ser transitória (posição que não era unânime no mercado e nem entre os dirigentes do Fed, diga-se). Nisso, o tapering, processo de retirada de estímulos à economia, começou só em novembro, e num ritmo gradual e lento. Os juros, que permanecem próximos a 0%, não viam horizonte de aumento num futuro próximo – havia quem apostasse que eles subiriam só lá em 2023.

Só que o jogo virou, e agora o próprio Jerome Powell concorda que a inflação não é um problema transitório, assim como a maior parte do mercado. Mas ainda não está claro o quão duro o Fed está disposto a ser para combater o aumento dos preços depois de tanto tempo sendo suave em suas decisões. O mercado começa a apostar que os juros podem aumentar em junho do ano que vem, e que o ritmo do tapering seja acelerado. Espera-se que a decisão do órgão na semana que vem dê indícios mais concretos. Até lá, as bolsas americanas andam sem direção certa. As ações de tecnologia, especialmente sensíveis aos juros, são as que mais sofrem: o índice Nasdaq caiu 1,71% hoje, por exemplo.

Nubank

Nada capaz de estragar a estreia do Nubank, que conta como empresa tech, nos EUA. As  ações do agora o maior banco da América Latina fecharam em forte alta hoje, após o IPO ontem na Nyse. Precificados a US$ 9, os papéis do roxinho abriram custando US$ 11,25, e, na máxima, foram aos US$ 12,24. Fecharam mais modestamente: US$ 10,31, mas ainda uma generosa alta de quase 15%.

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Por aqui, na B3, aproximadamente 815 mil pessoas compraram BDRs da fintech, o que fez da oferta a maior em número de investidores de varejo no mercado local. Outras 7,5 milhões aceitaram a doação do pedacinho da empresa pelo programa NuSócios, que ficarão por um ano presos no próprio Nubank, e depois as pessoas deverão decidir o que fazer com esse investimento. (Ainda que seja um número grande, foi bem menor do que a fintech esperava: o “mimo” gratuito custou, no total, R$ 63,2 milhões para a empresa, bem abaixo dos R$ 180 milhões reservados).

Passada a euforia, o Nubank – assim como o Ibovespa – vai ter que lidar com a realidade. E aí inflação e juros altos devem cobrar a fatura. Vamos acompanhar. Até amanhã.

Maiores altas

Gol (GOLL4): 3,59%

CSN (CSNA3): 1,49%

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WEG (WEGE3): 1,28%

Equatorial (EQTL3): 1,27% 

Hypera (HYPE3): 0,41%

Maiores baixas

Lojas Americanas (LAME4): -9,24%

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Americanas (AMER3): -8,56%

Magazine Luiza (MGLU3): -7,78%

Banco Inter – Units (BIDI11): -7,77%

Via (VIIA3): -7,11%

Ibovespa:-1,67%, aos 106.291 pontos

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Em Nova York

S&P 500: -0,72%, aos 4.667 pontos 

Nasdaq: -1,71%, aos 15.517 pontos

Dow Jones: estável, aos 35.755 pontos

Dólar: 0,70%, a R$ 5,5738

Petróleo

Brent: -1,85%, a US$ 74,42

WTI: -1,96%, a US$ 70,94

Minério de ferro: -2,55%, a US$ 108,53 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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