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Ibovespa vence dupla PEC-Copom e fecha quinto dia consecutivo no positivo

BC subiu a taxa de juros em 1,5 pp. para 9,25%. E avisa que o juro vai subir até que a inflação caia para a meta.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
8 dez 2021, 18h55

Dia de decisão de taxa de juros é dia de expectativa. No Brasil em sua versão “Brasília- dependente”, então, nem se fala. Não à toa, o Ibovespa passou a quarta-feira instável até conseguir se firmar com uma alta de 0,50%, aos 108.095 pontos. Só nessa onda de cinco altas consecutivas, a bolsa brasileira já se valorizou 7%. 

Hoje nem precisava tanta ansiedade, já que o Comitê de Política Monetária (o Copom) do Banco Central fez o que havia indicado que faria: subiu a Selic em 1,5 ponto porcentual, para 9,25% ao ano. É a sétima alta seguida, que levou a taxa de juros para o maior patamar em quatro anos. A previsão é de que a taxa continue subindo até  11,25%.

No comunicado, o BC disse que está cauteloso com a inflação e possibilidade de uma nova onda da Covid-19. E que vai continuar subindo juros tanto quanto for necessário até que a inflação caia para a meta e todo mundo acredite que é lá que ela irá ficar. Para 2022, a meta de inflação é de 3,5%, com teto de 5,25%.

A projeção do BC é de que a inflação fique em 4,7% no ano que vem e 3,2% em 2023. Mas para isso, o juro tem que subir. Para a próxima reunião, que acontecerá em fevereiro, o ajuste deve ser de mais 1,5 pp, elevando a taxa básica para 10,75%.

O problema é que o remédio é cheio de efeitos colaterais. O mais agudo deles é levar o país para a recessão. Vamos ver os impactos recentes disso.

Poupança

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A nova taxa de juros muda o cálculo do rendimento da poupança. Quando a taxa básica está abaixo de 8,5%, a caderneta rende 70% do valor da Selic mais a Taxa Referencial (TR), que na prática é zero desde 2017. Quando a Selic está acima dos 8,5%, o rendimento passa a ser de 0,5% ao mês mais a TR.  Dá 6,17% ao ano. 

Não parece lá muito atrativo – e não é mesmo, já que continua perdendo para a inflação e qualquer outro investimento conservador. Mas a vantagem dos concorrentes diminui, já que a poupança é simples e isenta de IR. 

Nisso, o resto dos investimentos começa a sofrer. O primeiro foi a bolsa, claro. A quinta alta consecutiva do pregão de hoje é positiva, mas mascara um fato: estamos muito distantes dos 130 mil pontos que o mercado esperava para o fechamento deste ano. E a razão foi justamente a alta dos juros – e a bagunça em Brasília, já chegaremos neste tópico.

O lance é que juro alto significa que as pessoas têm menos dinheiro para fazer a economia girar, e as empresas pagam mais caro se quiserem investir. Se elas não investem, o potencial de lucros diminui lá na frente. Assim, as ações caem.

E os efeitos da inflação e da alta de juros para combatê-la já aparecem na vida real.

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Varejo

Pela manhã, o IBGE divulgou que as vendas do varejo caíram 0,1% em outubro na comparação com setembro, a terceira queda consecutiva. Claro, as pessoas estão com menos dinheiro disponível, mas o crédito ficou mais caro. 

Quando comparado com outubro de 2020, o varejo despencou 7,1%. Ainda assim, as vendas registram alta de 2,6% no acumulado em 12 meses e no período de janeiro a outubro de 2021.

Os dados caíram como uma bomba nos papéis das companhias do setor, ainda que a maioria tenha conseguido reduzir o estrago ao longo do dia. Exceção nada honrosa foi o Magazine Luiza, que manteve a liderança das baixas do Ibovespa, recuando 10,76%.

A torneira aberta

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Enquanto isso, o mercado financeiro se agarra à PEC dos Precatórios para não afundar. E foi com emoção. Câmara e Senado combinaram, ontem, de promulgar os trechos com que ambos concordavam – e deixar para resolver depois, na Câmara, a parte que o Senado modificou. Saiu nos últimos minutos do pregão.

Para a Faria Lima, tá de bom tamanho, já que o acordo é sobre trocar a forma de cálculo do reajuste do teto de gastos, o bastante para abrir R$ 62,2 bilhões em novos gastos para o governo em ano de eleição. O resto é resto.

Entre o que precisa ser revisto pela Câmara, estão dois pontos principais: o primeiro é o limite para adiamento de precatórios. O plano é que, dos R$ 89,1 bilhões em dívidas que precisam ser pagas pelo governo em 2022, somente R$ 45,3 bilhões serão quitados no ano que vem. Os outros R$ 43,8 bilhões serão adiados para os anos seguintes. Para a Câmara, esse limite seria 2036. Já no Senado, o prazo foi reduzido para 2026. 

Também precisa ser discutido o Auxílio Brasil permanente. O governo queria manter o benefício somente durante o ano eleitoral e a Câmara aprovou isso. Mas o Senado quer que o programa, que substitui o Bolsa Família, não tenha data para acabar. 

Vale lembrar que o objetivo da PEC é exatamente  viabilizar o pagamento de Auxílio Brasil robusto. O benefício começou em novembro, com valor médio de R$ 217,18, mas Bolsonaro prometeu o valor de R$ 400. Como o Congresso está demorando para aprovar de vez a proposta, Bolsonaro editou ontem uma Medida Provisória que garante o pagamento mínimo de R$ 400 aos beneficiários do programa para o mês de dezembro.

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Dose tripla

Dada a confusão em Brasília e o país caminhando para uma recessão, fica fácil entender que a alta de hoje não é mérito exatamente nosso. Investidores comemoraram a notícia da Pfizer de que três doses da sua vacina seriam o bastante proteger da Ômicron. Isso sem falar naquilo que vem se repetindo há alguns dias, que a variante é mais contagiosa, mas menos letal.

A Gol avançou 9,12%, seguida pela Azul, que subiu 5,26%. E isso vem acontecendo ao longo da semana. Quem também aproveitou foi a operadora de turismo CVC, afinal as festas de final de ano e alta temporada de viagens em janeiro vão ser menos afetadas por restrições ou cancelamento de eventos. Os papéis da empresa também dispararam 9,12%. 

Só que a festa não seria possível sem Nova York. O noticiário positivo fez investidores abraçarem o risco e as bolsas americanas subiram: +0,64% no Nasdaq e +0,31% no S&P 500. Até o real se deu bem. O dólar caiu 1,49%, cotado a R$ 5,5348.

Está aberto o bolão: será que amanhã vamos ver a sexta alta consecutiva do Ibovespa?

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Maiores altas

CVC (CVCB3): 9,12%

Gol (GOLL4): 9,12%

Eztec (EZTC3): 6,85%

MRV (MRVE3): 6,14%

Marfrig (MRFG3): 6,12%

Maiores baixas

Magalu (MGLU3): -10,76%

PetroRio (PRIO3): -4,74%

CCR (CCRO3) -3,96%

Getnet (GETT11): -3,51%

Telefonica Brasil (VIVT3): -2,20%

Ibovespa: 0,50%, aos 108.095 pontos

Em NY:

S&P 500: 0,31%, aos 4.701 pontos

Nasdaq: 0,64%, aos 15.786 pontos

Dow Jones: 0,10%, aos 35.754 pontos

Dólar: -1,49%, a R$ 5,5348

Petróleo

Brent: 0,5%, a US$ 75,82

WTI: 0,43%, a US$ 72,36

Minério de ferro: 0,03%, US$ 111,37 no porto de Qingdao (China)

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