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Bolsonaro e PL fazem nova investida contra resultado da eleição; dólar escala 1,30%

Ibov recua 0,65% com tentativa de anular mais da metade dos votos da eleição. PETR4 era alvo, mas reduz queda para 0,60% no fim do pregão.

Por Tássia Kastner, Camila Barros
Atualizado em 22 nov 2022, 19h04 - Publicado em 22 nov 2022, 18h39

Bolsonaro, virtualmente quieto desde que perdeu a disputa para um segundo mandato à Presidência, quebrou seus dias de silêncio – e conseguiu seu próprio rebuliço no mercado financeiro. O PL, partido do presidente não reeleito, decidiu contestar o resultado da eleição junto ao TSE, e organizou uma entrevista coletiva para dizer que Bolsonaro, derrotado, na verdade venceu o pleito.

O resultado foi uma queda de 0,65% no Ibovespa, a 109.036 pontos. No pior momento do pregão, o índice chegou a afundar nos 107.867 pontos. Já o dólar partiu em disparada de 1,30%, cotado a R$ 5,3797.

Ok, formalmente não foi Bolsonaro quem falou. O porta-voz da ação contra o resultado legítimo das eleições foi o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. No final de semana, ele já havia afirmado em redes sociais que as urnas fabricadas antes de 2020 deveriam ser invalidadas porque não seriam auditáveis. É a mesma ladainha que o PL já havia feito antes do primeiro turno, e que o atual ocupante do Planalto repete mesmo tendo sido eleito, em 2018, por esse sistema.

O que rolou nesta terça é que o partido abriu uma ação no TSE pedindo que 279 mil urnas fossem anuladas, o que cobriria mais da metade dos votos do país. A ação do PL ainda aproveitou para escrever que, anulando esses aparelhos, Bolsonaro teria vencido a eleição com 51% dos votos. 

O resultado oficial, reconhecido pelo TSE, é que Lula venceu a eleição com 60.345.999 votos, o equivalente a 50,90% dos votos válidos. Bolsonaro, por outro lado, arrematou 58.206.354 votos, ou 49,10% do eleitorado.

A nova tentativa de melar o resultado já reconhecido da eleição pegou mal. A Faria Lima pode não estar lá muito contente com a PEC da Transição e a falta de um nome confirmado no ministério da Fazenda. Mas aí a apoiar um golpe, que traz ainda mais incerteza para a economia, são outros 500. 

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A Bolsa já não vinha em um dia muito bom, isso apesar dos ventos favoráveis vindos de Wall Street. Além da função toda da PEC e de qual será o substituto do teto de gastos, a Petrobras vinha ocupando o noticiário (a gente já chega na estatal).

O fato é que, quando Valdemar começou a falar, o mercado financeiro desandou.

Após a entrevista a jornalistas, Alexandre de Moraes, ministro do Supremo e presidente do TSE, deu 24 horas para que o PL, se quiser ter o pedido avaliado, inclua o primeiro turno na contestação dos votos. O PL questionou a validade dos votos apenas na segunda rodada, ainda que os mesmos equipamentos tenham sido usados nas duas datas. O ministro pediu também acesso ao relatório completo produzido pelo Instituto Voto Legal – de novo, para os dois turnos. A ver como Valdemar e o PL vão explicar aos deputados eleitos o pedido para anular urnas que os elegeram.

A Petrobras

Até a patacoada do PL, as atenções estavam todas voltadas à Petrobras. Teve 1) discussões renovadas sobre uma possível alteração na política de preços da companhia, pedido do PT para que a estatal suspenda venda de ativos e até possíveis nomes para a presidência da petroleira na nova gestão.

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No começo da tarde, Jean Paul Prates, senador do PT e integrante do grupo de transição de Minas e Energia, defendeu que a Petrobras suspenda a venda de ativos até a posse de Lula. “Ativos”, no caso, são refinarias, gasodutos e até “pequenas sedes” da companhia. 

Um deles é a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, operadora do gasoduto que importa gás natural da Bolívia para o Brasil desde 1997. A privatização, acordada com o Cade (o órgão de defesa da concorrência) em 2019, deve vender toda a participação acionária (hoje de 51%) da Petrobras na companhia. 

Já a venda das refinarias faz parte de um plano ambicioso alinhado pelo governo com o Cade para ampliar o número de participantes no mercado. Formalmente, não existe barreira de entrada para a construção de novas refinarias no país por empresas privadas. O que economistas argumentam é que a capacidade de a Petrobras controlar os preços dos combustíveis acaba afastando concorrentes. 

O que Prates defendeu é que a decisão de concluir as transações fique sob a alçada da nova gestão. A fala do senador azedou o mercado, que vive na base de ansiolíticos enquanto não recebe mais informações sobre o novo comando da Petrobras, e teme uma mudança radical no modelo de gestão da estatal – que hoje segue uma agenda de privatizações. 

E, se o mercado desaprova a atuação do petista na equipe transição, tem mais é que dobrar a dose de Rivotril mesmo: Prates é um dos cotados de Lula para assumir a presidência da estatal no ano que vem. E ele tem dito que a política de preços da estatal na virada do ano será uma decisão de governo, e não meramente da companhia.

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Desde 2016, a estatal segue a paridade internacional de preços, que leva em consideração a cotação do barril do petróleo e a variação do dólar. Quando foi criada, a política previa alterações diárias. Terminou na greve dos caminhoneiros de 2017. Depois, os repasses mudaram – isso até que Bolsonaro trocou três presidentes da companhia durante a sua gestão até conseguir um que concordasse em congelar os preços dos combustíveis antes das eleições. Na prática, a política de preços não está tão em vigor assim.

De qualquer maneira, a incerteza com o que entrará no lugar fez o mercado financeiro se pronunciar. O UBS-BB, que recomendava a compra de PETR4 e previa que a ação subiria a R$ 47, deu uma guinada de 180 graus. Agora sugere a venda do papel, com alvo em R$ 22. No relatório, o banco, que é ligado ao governo, diz que os próximos anos serão “mais sombrios”. 

O Itaú também divulgou um relatório nesta terça. No documento, o banco afirmou que a mudança na política de preços pode afetar a rentabilidade da companhia, mas que o cenário é turvo demais para prever o tamanho do estrago. Desde a eleição, a companhia já caiu 28%. No ano, a queda é de 18%. Ainda assim, o banco manteve sua recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 38. 

No fim, a PETR4, que chegou a ceder mais de 3,5% durante o dia, fechou numa queda mais comedida, de 0,60%. Menos mal. Certo é que os dias de montanha-russa estão longe do fim.

Maiores altas

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Usiminas (USIM5): 3,92%

CSN (CSNA3): 3,52%

Gerdau (GGBR4): 3,49%

Gerdau Metalúrgica (GOAU4): 3,09%

PetroRio (PRIO3): 2,84%

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Maiores baixas

Azul (AZUL4): -4,87%

Arezzo (ARZZ3): -4,87% 

Grupo Soma (SOMA3): -4,22% 

Gol (GOLL4): -4,04%

Americanas (AMER3): -3,80% 

Ibovespa: -0,65%, aos 109.036 pontos

Nova York

S&P 500: 1,36%, aos 4.003 pontos

Nasdaq: 1,36%, aos 11.174 pontos 

Dow Jones: 1,18%, aos 34.098 pontos

Dólar: 1,30%, a R$ 5,3797

Petróleo

Brent: 0,84%, a US$ 88,36 

WTI:1,14%, a US$ 80,95

Minério de ferro: -2,41%, a US$ 93,10 por tonelada, em Cingapura

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