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Bittersweet: entenda o lado positivo e o negativo do crescimento do mercado de trabalho americano

Bolsas reagem de forma esquizofrênica aos dados surpreendentes sobre a criação de novos postos de trabalho nos EUA. Veja por quê.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 18 out 2024, 14h21 - Publicado em 4 fev 2022, 18h39
 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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A gestão da economia de um país tem duas metas. Só duas mesmo: gerar empregos e impedir a inflação. O dilema: esses dois objetivos não conversam bem. Batem cabeça. 

Para fomentar a geração de empregos, governos imprimem dinheiro e emprestam para os bancos a juros mínimos – no caso dos EUA, de 0,08% por ano. Só que fazer isso por tempo demais dá ruim. Passa a haver mais dinheiro em circulação do que coisas para comprar com esse dinheiro. As coisas (produtos e serviços) entram em leilão. Os preços sobem. 

É o que aconteceu no mundo todo nos últimos tempos. No Brasil, ela chegou aos dois dígitos: 10,7%. Nos EUA, quase isso: 6,9% – o que para eles já é pesadelo (os americanos não veem um índice tão alto desde 1982, uma época que já pertence a outra era geológica).

O grande gestor da economia, em qualquer país decente, é o banco central – não a pessoa que estiver na cadeira de presidente da república – que, mesmo em países decentes, costuma ser um analfabeto econômico (posto que entender de economia não rende votos, vide o que aconteceu com Henrique Meirelles nas eleições de 2018).     

Bom, quando o banco central entende que a geração de empregos vai bem, mas que a inflação saiu do controle, ele pega e toma uma providência: começa a drenar dinheiro da economia. Em vez de imprimir dinheiro e ceder aos bancos, ele passa a pegar emprestado dos bancos – em troca de juros altos. É isso que acontece quando os juros sobem – coisa que o nosso banco central começou a fazer há um bom tempo (mesmo com a geração de empregos em baixa por aqui). O BC entendeu que a inflação não era um problema transitório. Precisava ser combatida na raiz, mesmo às custas de deprimir a economia. 

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Nos EUA foi diferente. Os juros seguem no mesmo patamar, próximos de zero, desde o início da pandemia. Eles causaram inflação, de fato. Mas também aqueceram a economia. O desemprego caiu de 14,8%, em abril de 2020 (o mais alto da história deles), para os atuais 4% (um dos mais baixos de todos os tempos, e que os economistas já consideram como uma situação “de pleno emprego”) – por aqui, o pico foi de 14,6%, em meados de 2020; depois disso, caiu, mas segue num patamar perigoso: 11,6%.

Tem mais. Hoje, nos EUA, saiu o “payroll” de janeiro, dado que mostra a criação de postos de trabalho no mês. O consenso das previsões dos analistas apontava para 125 mil novas vagas. Veio muito mais: 467 mil

Isso pode deixar claro para o Fed, o banco central deles, que a parte da criação de empregos já está resolvida. E que a porteira para combater a inflação, via altas nos juros, está definitivamente aberta. Não que isso já não estivesse claro. Mas os dados de hoje aumentam a chance de que a alta venha de forma mais rápida e intensa do que se imaginava.

E isso traz sentimentos dúbios para o mercado financeiro. Os juros altos que os bancos passam a receber do Fed se transformam em juros mais altos pagos aos clientes nas aplicações de renda fixa. Com mais dinheiro pingando na renda fixa, a renda variável (ações) fica menos atraente. Passa a haver menos gente comprando papéis. Com a demanda em baixa, o preço delas cai. 

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O mercado, então, antevê esse período de queda de passa vender ações antes mesmo de os juros subirem. Basta um sinal de que eles vão subir de fato para engatar uma baixa. Foi o que aconteceu no início do dia hoje: queda de quase 1% no S&P 500, seguida pelo Ibovespa (os investidores internacionais passam a fugir de todos os mercados, afinal, não só do americano).  

Mas esse é só um dos lados da moeda. A iminência de uma alta nos juros é o lado meio vazido do copo. Mas também há um lado meio cheio, e bem óbvio: a criação de novas vagas num ritmo surpreendente mostra que a economia americana vai bem. E isso num cenário particularmente complicado: o número de mortes pela Ômicron está em 2.600 por dia na média móvel – um patamar que começa a se aproximar ao do auge da pandemia por lá, em janeiro de 2021, quando média móvel chegou a 4 mil. 

A resiliência da economia numa realidade dessas é algo positivo demais para o mercado ignorar. Isso fez com que os índices virassem para o azul no meio do dia. No  fim, ganhou o lado meio cheio do copo (o que faz todo o sentido): 0,49% de alta no Ibovespa (aos 112.244 pontos); 0,52% no S&P 500, 1,58% no Índice Nasdaq, que ganhou uma forcinha com a alta de 13% da Amazon

A decolagem adicionou US$ 180 bilhões ao valor de mercado da companhia (e US$ 18 bilhões à fortuna de Jeff Bezos, já que o fundador tem 10% dos papéis da empresa) – tudo graças ao espantoso lucro do 4T21, divulgado ontem após o fechamento do mercado: US$ 14 bilhões, o dobro do mesmo período de 2020. Uau.   

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Petróleo a US$ 93

Com Putin e seus 100 mil soldados jogando War na fronteira com a Ucrânia, o petróleo segue para o alto e avante. Refinarias do mundo todo passam a encher seus estoque, no receio de que será bem mais difícil comprar óleo da Rússia (membro mais importante da Opep+ ao lado da Arábia Saudita) caso eles dêem início a uma guerra – os EUA, para começar, dariam início a um embargo, impedindo as empresas locais de adquirir petróleo russo.  Com todos enchendo os tanques à espera do pior, o Brent renovou sua máxima. Foram mais 2,37%, a US$ 93,27 – maior cotação desde 2014.

E quem melhor surfou foi, naturalmente, a PetroRio. Alta de 7,34%. A Petrobras ficou nos 1,75%. É aquela história já clássica: quando o barril sobe demais, sempre há a possibilidade de o governo mandar a empresa vender gasolina e diesel abaixo do preço de custo, minando os lucros que a estatal tira com a exportação de óleo cru. Pense nisso na próxima vez em que alguma estatal “convidar a população para virar sócia”, como a Petro fez em 2010 para levantar R$ 120 bilhões. Como sócio, o Estado está mais para aquele cunhado que pede dinheiro para abrir uma esfiharia e nunca mais devolve. 

Bom fim de semana!     

MAIORES ALTAS

Locaweb (LWSA3): 11,33%
PetroRio (PRIO3): 7,34%
Cielo (CIEL3): 6,39%
Braskem (BRKM5): 5,27%
Assai (ASAI3): 3,20%

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MAIORES BAIXAS

Eztec (EZTC3): -6,41%
EcoRodovias (ECOR3): -6,38%
Via (VIIA3): -5,80%
Qualicorp (QUAL3): -5,55%
BRF (BRFS3): -5,54%

Ibovespa: 0,49%, aos 112.244 pontos

Em Nova York

S&P 500: 0,52%, aos 4.500 pontos
Nasdaq: 1,58%, aos 14.098 pontos
Dow Jones: -0,06%, aos 35.089 pontos

Dólar: 0,50%, a R$ 5,3220

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Petróleo

Brent: 2,37%, a US$ 93,27
WTI: 2,26%, a US$ 92,31

Minério de ferro: feriado na China

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