Banco Central Europeu aperta torniquete e sobe juros em 0,75 p.p.
Armamento pesado pode ter efeitos colaterais: levar Europa à recessão. Petróleo é negociado abaixo de US$ 90 pelo segundo dia seguido.
Bom dia!
O Banco Central Europeu decidiu subir a taxa de juros do bloco em 0,75 ponto percentual. É a segunda alta em 11 anos – a primeira, de 0,50 ponto percentual, foi em julho.
Investidores estavam indecisos sobre quão agressivo o BCE, liderado por Christine Lagarde, seria. As apostas se dividiam entre outro aumento de 0,50 ponto ou a paulada. Venceu a paulada, e com um detalhe: o BCE havia subido os juros em 0,75 p.p. uma única vez. Havia sido lá no começo da criação do Euro, e 1999. O BCE é conhecido por ser mais cauteloso em seus juros. Ou era. Em julho, investidores apostavam num aumento de 0,25 p.p. – veio 0,5 p.p.
As bolsas mergulharam para o negativo com vontade depois que Lagarde concedeu entrevista a jornalistas para explicar a decisão e deixar claro que a mão continuará pesada por lá.
E até dá para entender. A alta de juros na Europa é uma medida para tentar conter a inflação, que escalou a 9,1% em agosto. O BCE era o último bastião da política de juro baixo, e vinha resistindo a enxugar dinheiro da economia. O argumento foi usado por um tempo pelo Fed (o Banco Central americano). As altas de preços estavam concentradas principalmente nos custos de energia.
Só que o tom mudou completamente. Lagarde deu alguns recados bem duros: que a inflação ainda pode subir mais no curto prazo, que as altas de preços estão se espalhando por mais setores e que a crise do gás no bloco pode piorar a inflação (essa última tava fácil, né?).
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, os preços do gás dispararam. Os russos estão usando o combustível que move indústrias e esquenta casas no inverno como uma arma de guerra.
E teve ainda a disparada do petróleo, aquela que o globo todo sentiu, não apenas os europeus.
Subir juros quando o problema é falta de produto e não excesso de demanda é arriscado. Acaba sufocando a economia e criando uma recessão. E esse já é uma possibilidade para a Zona do Euro. A alta nos preços de energia e a necessidade de economizar combustíveis para o inverno minou a confiança de empresas e consumidores. As economias da Alemanha e da França, por exemplo, já estão desacelerando.
O risco de recessão é tão palpável que dá para ver nos preços do petróleo. Após o primeiro mês de guerra, as cotações do barril do tipo Brent bateram US$ 130. Nesta quinta, valiam US$ 88, o segundo dia seguido abaixo de US$ 90 e uma queda de 30% em relação ao pico. Trata-se de um patamar pré-guerra, visto pela última vez em janeiro.
A queda abrupta do petróleo, causada pela expectativa de menor demanda daqui para frente, fez a Opep+ (o cartel dos exportadores) anunciar um corte de produção para outubro. Não foi suficiente para mudar o rumo do mercado.
É uma notícia positiva para os bancos centrais mundo afora, que ganham um aliado no combate à inflação. Ainda assim, é de um sinal ruim para a economia: queda do petróleo significa que a economia global como um todo está esfriando.
E isso, por sinal, também não é boa notícia para o Brasil, já que nossas exportações de suco de dinossauro vão gerar menos dólares para a economia. Do lado das empresas, a Petrobras (PETR4) também deve ter um dia difícil – e deixar o Ibovespa com o freio de mão puxado.