Autoajuda em Nova York leva Ibovespa de volta aos 122 mil pontos
Dólar teve um dia volátil, mas terminou perto dos R$ 5,22, queda de 3,76% na semana.
A semana no mercado financeiro termina com uma sexta-feira que parece ter saído diretamente de um livro de autoajuda. É que os investidores americanos resolveram ver o lado bom das coisas mesmo após dados aparentemente negativos, o que, juntamente com o otimismo na Europa e na China, levantou o Ibovespa com força: um aumento de 1,77%, fechando na máxima de 122.038. O índice não batia o patamar dos 122 mil pontos desde 14 de janeiro.
O dia começou marcado por uma notícia que, à primeira vista, pode parecer negativa: o Departamento do Trabalho dos EUA anunciou que o país criou “apenas” 266 mil empregos em abril. Acontece que as previsões falavam em um milhão de novas vagas. Pois é: erraram feio.
O resultado jogou um balde de água fria em parte dos analistas que previam uma recuperação da maior economia do mundo em velocidades surpreendentes. Não era um sonho distante: de fato os índices de desemprego no país estavam sendo melhor do que os esperados nos últimos tempos. Mas hoje deixou claro que não é bem assim – e até Joe Biden e Janet Yellen, secretária do Tesouro americano, admitiram que a caminhada para a recuperação é um pouco mais longa do que o ideal, mas ocorre.
O fato é que a notícia não abalou Wall Street não – pelo contrário. A leitura do mercado decidiu seguir o caminho otimista e tirou conclusões boas do dado. Se a economia não está se recuperando tão rápido assim, isso significa que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, não vai reverter sua política de estímulos atual e aumentar o juros tão cedo. E isso agradou os investidores, fazendo as principais ações subirem e o índice S&P 500 renovar sua máxima histórica. Por outro lado, o dólar caiu frente às moedas emergentes, incluindo em relação ao real.
A ideia de que os juros ficarão baixos por mais tempo nos EUA anima investidores a buscarem investimentos de risco, como é o Brasil. Aí o dinheiro volta a entrar no país. Fazia tempo que o dólar não beijava os R$ 5,20 – ainda que tenha sido um dia bem volátil. O dólar encerrou em baixa de 0,93%, cotado a R$ 5,2286, depois de oscilar entre a mínima de R$ 5,2048 e a máxima de R$ 5,2952. Quase R$ 0,10 em um único dia é o típico teste para cardíaco. Na semana, a moeda acumulou baixa de 3,74%.
Foi também marcado por otimismo o dia na China e na Europa, mas, nesses casos, não houve a necessidade de seguir os manuais de autoajuda para interpretar os números – os dados por si só foram positivos. A China divulgou hoje que registrou um impressionante superávit comercial de US$ 42,85 bilhões em abril, contra previsão de apenas US$ 28,2 bilhões.
Na Europa, o Índice Stoxx 600 Europe, que reúne as principais empresas do velho continente, também subiu com o otimismo chinês e a divulgação de bons dados internos, liderados pela Alemanha. Na maior economia da UE, a produção industrial na Alemanha cresceu 2,5% de março para fevereiro, acima do esperado; o crescimento em um ano foi de 5,1%. Os balanços positivos de empresas como Adidas e Siemens também ajudou a animar os investidores.
Com um dia marcado sem grandes novidades no noticiário nacional, o cenário ensolarado e florido l[á fora foi o principal driver que levou o Ibovespa a subir fortemente.
Destaques
Por aqui, a CCR, que administra rodovias no Brasil, liderou com folga as altas, por um motivo específico: a AG Participações, braço de investimentos da Andrade Gutierrez, recebeu uma proposta de compra para a sua fatia da concessionária. A oferta avaliou a empresa acima do atual valor de mercado, o que animou investidores a apostar na companhia. As ações saltaram 10,25%.
Quem se deu bem na B3 também, no melhor estilo Inception, foi a própria B3. As ações da bolsa subiram 5% e marcaram presença entre as maiores altas depois da divulgação de seu desempenho no primeiro trimestre: lucro recorrente de R$ 1,3 bilhão, uma alta de 15,5%. O volume de negócios na bolsa continuou a crescer, uma cortesia dos juros baixos e da volatilidade do mercado financeiro. Com mais transações, a bolsa nem precisou se preocupar com a redução de tarifas recente, que tinha tudo para reduzir os resultados da companhia.
Empresas de varejo subiram em bloco também com a expectativa de um Dia das Mães repleto de presentes generosos para as progenitoras. Ajudou também o fato de que o IBGE divulgou hoje os dados sobre o setor melhores do que esperado: as vendas no varejo caíram 0,6% em março em relação a fevereiro, um número menos pior do que as previsões. Uma certa queda, em si, já era esperada: março foi um mês de medidas de isolamento social, em que o comércio em várias cidades ficou parcialmente fechado. De qualquer forma, a notícia foi boa para Lojas Marisa (+6,69%), Hering (+5,31%) e Renner (+4,16%), e também para as redes de shoppings como Iguatemi (+6,84%), BRMalls (+2,81%) e Multiplan (+4,24%).
As notáveis exceções, porém, foram a B2W e a Lojas Americanas. Enquanto a primeira figurou entre as maiores quedas do dia, a Americanas escapou do vermelho por pouco de última hora e subiu 0,29%. Isso porque ambas registraram prejuízos significativos: a Lame ficou no vermelho por R$ 163 milhões no primeiro trimestre de 2021, um valor 231% maior que no mesmo período do ano passado. Já a B2W registrou prejuízo de R$ 163,6 milhões, praticamente o dobro do esperado por analistas. Não custa lembrar que as empresas vivem um momento atípico, após o anúncio da incorporação das Americanas pela B2W em um arranjo societário que o mercado achou bastante confuso.
No porto chinês de Qingdao, o minério de ferro teve um forte salto novamente (+5,14%, a US$ 212,25 a tonelada), após subir consideravelmente ontem (6). Mas, diferentemente da quinta-feira, os impactos não foram tão sentidos na bolsa, já que a sexta foi marcada pela realização de lucros depois de altas nas ações de siderúrgicas e metalúrgicas.
Os bancos também apresentaram tendência de subida porque, além de todo o otimismo que marcou o dia, o Banco do Brasil anunciou ontem que seu lucro líquido ajustado no primeiro trimestre foi de R$ 4,913 bilhões, acima do esperado.
Resta saber quanto tempo o otimismo do exterior vai conseguir alavancar o Ibovespa – afinal, por aqui ainda pairam os fantasmas da CPI da Covid-19, a própria pandemia e toda a instabilidade política. Por enquanto, vale seguir a autoajuda de New York e apostar nas coisas boas – afinal, é sexta-feira. Bom fim de semana ;).
Maiores altas
CCR: +10,25%
Embraer: +7,40%
Iguatemi: +6,84%
B3: +5,00%
Multiplan +4,24%
Maiores baixas
Locaweb: -2,63%
Usiminas: -1,82%
WEG: -0,92%
B2W: -0,83%
Gerdau Metalúrgica: -0,31%
Ibovespa: +1,77%, aos 122.038 pontos
Em NY:
S&P 500: +0,73%%, aos 4.232 pontos
Nasdaq: +0,88%, aos 13.752 pontos
Dow Jones: +0,66%, aos 34.776 pontos
Dólar: queda de 0,93%, a R$ 5,23
Petróleo
Brent: alta de 0,27%, a US$ 68,28
WTI: alta de 0,29%, a US$ 64,90
Minério de ferro: alta de 5,14% a US$ 212,25 a tonelada no porto de Qingdao (China).