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Americanas e B2W vão finalmente se fundir – e o mercado gostou (mais ou menos)

O negócio é o mesmo, mas a Lame terminou como a maior queda do dia, enquanto a empresa de e-commerce teve a maior alta. Entenda.

Por Bruno Carbinatto e Tássia Kastner
Atualizado em 14 Maio 2021, 19h55 - Publicado em 29 abr 2021, 19h10

Se juntas já causam, imagina juntas: a notícia de que as gigantes de varejo B2W e Lojas Americanas irão se fundir já era esperada desde fevereiro. Ainda assim, as companhias dominaram a bolsa de valores nesta quinta-feira. Ironicamente, cada uma numa ponta. Enquanto a B2W (BTOW3) liderou as altas, a Americanas (LAME4) teve a maior queda do dia.

Os detalhes do processo de fusão foram divulgados após o fechamento de ontem, com algumas novidades não previstas pelos investidores. Funcionará assim: a Lojas Americanas passará por cisão (ou seja, será dividida em duas partes). A parte com as lojas físicas (aquilo que se pensa quando falamos de Lojas Americanas) será incorporada à B2W, que até então era só online. No futuro, essa B2W turbinada passará a se chamar Americanas e será negociada na B3 sob o código AMER3.

O mercado gostou das possibilidades que a fusão abrem para a B2W, que, somando agora as lojas da Americanas, terá uma rede com mais de 1.700 pontos de venda pelo Brasil, além das novidades que a fusão das operações tratá, como a opção de compra pela internet e retirada do produto na loja física. Até então, a B2W era controlada pela Americanas, com 63% das ações. Ainda assim, as operações eram separadas, algo que não faz mais sentido do ponto de vista de negócio — e nem precisava da pandemia para saber disso. Os principais concorrentes, Magalu e Via (ex-Via Varejo) em especial, avançaram muito antes nessa integração. 

Bem, antes tarde do que nunca foi o que pensaram os investidores. A BTOW3 subiu 7,69% e liderou as altas do Ibovespa.

Acontece que a Lojas Americanas ainda continuará existindo como uma espécie de holding, uma empresa que investe na B2W. Além disso, será criada uma holding com ações listadas nos Estados Unidos, para acessar investidores lá fora — um plano para 2022. O arranjo todo foi considerado bastante complexo por analistas e investidores. Tudo porque esse esquema de holding foi a alternativa encontrada pela empresa para que os acionistas controladores, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira continuassem no controle. Ou seja, a empresa tem um dono. O mercado financeiro curte mais quando a companhia é uma corporation, uma empresa sem investidores capazes de interferir sozinhos nas decisões — o que deixa o negócio menos sujeito a decisões autocráticas e que possam prejudicar os minoritários.

Outro ponto que a Faria Lima usou para a justificar a queda da Lojas Americanas foi que “holding gera despesa”, e que esse tipo de companhia costuma ser negociada com um desconto, um valor 20% mais baixo que a investida. 

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O resultado foi que a Lame4 terminou o pregão em queda de 5,17%, a R$ 21,16. É um tombo de 26% em relação ao pico de R$ 28,95 de fevereiro, logo após o anúncio do plano de fusão entre as duas empresas. Desde então, os papéis passaram por uma forte baixa.

Não significa que as ações estejam necessariamente baratas agora. O indicador P/L (a divisão do valor de mercado da empresa pelo lucro dos últimos 12 meses) ajuda a dar essa dimensão. O número, que o mercado chama de múltiplo, indica quantos anos do lucro atual você precisa juntar para chegar ao valor de mercado da companhia. O da Lojas Americanas está em 95. Comparado com o Magazine Luiza e seus mais de 300 de P/L, a LAME tá de graça. Mas não é bem assim. O P/L da Amazon, por exemplo, é de 82. O da Via é de 18. O Ibovespa tem múltiplo de 10.

Para além do casamento das varejistas, o dia ficou mais para baixo na B3, que fechou em queda de 0,82%, a 120.065 pontos. Pesa a insegurança política em Brasília, com a CPI da pandemia dando seus primeiros passos e fragilizando ainda mais a relação entre Planalto e Congresso. Foi o suficiente para fazer o Ibovespa se descolar do otimismo no exterior – nos EUA, as bolsas abriram com grandes altas após o primeiro discurso do presidente Joe Biden no Congresso, marcado por promessas de ambiciosas fatias de investimentos que foram bem recebidos pelo mercado.

O democrata estreia seu primeiro ano na presidência com um mega plano de U$ 2 trilhões em investimentos em infraestrutura que já havia conquistado a confiança dos investidores há algum tempo. A novidade de ontem foi a confirmação de um outro plano trilionário, voltado para investimentos em temas relacionados às famílias americanas, como em licença remunerada para trabalhadores e acesso a creches e educação para os pequenos.

Biden ainda reiterou o que a imprensa americana já havia anunciado na semana passada: pretende fazer tudo isso aumentando o imposto sobre os americanos mais ricos. Mais especificamente, o governo vai quase dobrar a alíquota paga por investidores ao lucrarem com a venda de ativos (chamado ganho de capitais) para aqueles que ganham mais de 1 milhão de dólares – o que equivale a cerca de 0,3% da população dos EUA.

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Na semana passada, essa mesma notícia fez as bolsas em NY derreterem; mas, logo depois, o mercado parece ter entendido que Biden não vai transformar os EUA na URSS e as bolsas voltaram a subir, o que se repetiu hoje.

Ajudou também o fato de que grandes empresas, como Apple e Facebook, divulgaram ontem após o fechamento dados melhores do que o esperado pelas previsões, o que reforça o otimismo com a recuperação da economia americana, que também aumentou com os dados positivos sobre o PIB e o desemprego no país liberados pelo governo hoje. 

A economia americana cresceu a uma taxa anualizada de 6,4% no trimestre passado.  Lembrando a conta, que é diferente da do Brasil. Esses 6,4% seriam o crescimento que o país teria caso o avanço de fato do trimestre (que foi de 1,6%) viesse a se repetir em todos os outros trimestres do ano. O fato é que o desempenho foi melhor que o esperado e deixa a economia americana apenas 0,9% abaixo do período pré-pandêmico.

Resta saber por quanto tempo o otimismo dos americanos vai durar – e se vai ser o suficiente para respingar por aqui mesmo com CPI da pandemia e a pandemia que já matou 400 mil brasileiros.

Maiores altas

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B2W: +7,69%

EcoRodovias: +4,55%

Sabesp: +4,36%

Pão de Açúcar: +3,91%

Hering: +2,67%

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Maiores baixas

Lojas Americanas: -5,17%

Embraer: -4,31%

Bradesco ON: -3,40%

Itaú: -3,15%

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Bradesco PN: -2,98%

Ibovespa: -0,82%, aos 120.065 pontos

Em NY:

Dow Jones: +0,71%, aos 34.060 pontos

S&P 500: +0,68%, aos 4.211 pontos

Nasdaq, +0,22%, aos 14.082 pontos

Dólar: queda de 1,82%, a R$ 5,36

Petróleo

Brent: +1,90%, a US$ 68,05

WTI: +1,80%, a US$ 65,01

Minério de ferro: -0,48% para US$ 191,60 a tonelada no porto de Qingdao (China).

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