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Alta do petróleo mostra que Bolsonaro está certo: ‘Nada está tão ruim que não possa piorar’

No mundo, há uma crise de falta de gás natural que faz os preços explodirem. Nesse caos, a Petrobras convocou a imprensa para dizer que a política dos combustíveis não muda – e ainda piscou com um reajuste.

Por Tássia Kastner
Atualizado em 27 set 2021, 18h27 - Publicado em 27 set 2021, 18h19
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 (Tiago Araujo/Você S/A)
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“Nada está tão ruim que não possa piorar.” Essa foi a mensagem (hm) motivacional de Jair Bolsonaro durante o evento que marcou seus 1.000 dias na Presidência da República. Ele falava sobre a disparada da inflação e a alta do dólar, uma dobradinha que ajuda a minar sua popularidade faltando coisa de um ano para a próxima eleição.

A inflação é sentida na vida real pela alta nos preços dos alimentos, dos combustíveis e da conta de luz. Bateu na casa de todo mundo. A péssima notícia é que Bolsonaro está certo e há sinais de que esse trio que pesa no seu bolso já está piorando. Hoje, os preços do petróleo subiram para o maior patamar desde 2018, e o barril do tipo brent beirou os US$ 80. Não só. Os contratos de gás natural subiram 13% hoje – no ano, o combustível já dobrou de preço.

Combustível caro deixa todo o resto mais caro, já que é insumo de produção – e agora até da nossa conta de luz, já que a falta d’água obriga o país a acionar usinas térmicas.

O alerta veio do Reino Unido, que vive um desabastecimento de combustíveis dramático. Quando imagens de postos sem gasolina para os carros começaram a se espalhar, o mundo se deu conta de que esse não era um problema exclusivamente local, causado pela falta de caminhoneiros e pelo brexit. Os estoques de gás da Europa estão no menor nível em anos, isso porque os países começaram a trocar geração de energia a carvão por fontes menos poluentes, como as usinas movidas a gás natural. 

A oferta do produto não acompanhou conforme a retomada econômica pós-pandemia acontecia. Agora, o hemisfério norte se pergunta se haverá gás para aquecer as casas quando o inverno chegar. 

Não é só esse o problema. Gás natural é matéria-prima em fábricas de fertilizantes, de alumínio e cerâmica. Essas atividades poderiam parar, elevando o custo de produção de alimentos e da construção, turbinando a inflação.

Não posso interferir

Aí, enquanto anunciava o apocalipse, Bolsonaro mais uma vez disse que não poderia interferir nos preços da Petrobras. O que o mercado financeiro ouviu? Que ele quer segurar os preços dos combustíveis. Afinal, faz só um mês que o presidente disse no cercadinho do Alvorada que gostaria de começar a “trabalhar” os preços da gasolina e do diesel.

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Em seguida, a estatal convocou uma coletiva de imprensa para a última meia hora do pregão. O que o mercado achou? Que viria o anúncio da intervenção, claro. As ações passaram a cair. Mas só até o presidente da companhia, general Joaquim Silva e Luna, dizer que nada mudaria na estatal.

O lance é que os preços da Petrobras já estão 14% abaixo da paridade do mercado internacional, segundo a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis. E o gap vai aumentando com a alta do petróleo e do dólar. No pior momento da estatal sob o governo Dilma Rousseff, a Petro vendida gasolina e diesel com desconto de 25% em relação ao mercado internacional

Os executivos reconhecem a sinuca de bico, tanto que o gerente executivo de comercialização, Claudio Mastella, disse que a companhia olha “com carinho a possibilidade de reajuste dos preços dos combustíveis”. Entendeu, né? Mais reajuste por aí.

Só tem um detalhe nisso tudo. Essa foi uma coletiva de imprensa sem notícias. Veja bem, ela existiu para reafirmar aquilo que Silva e Luna diz desde que foi indicado para a Petro. Que a política de preços segue, que a estatal não sofrerá interferências etc etc.

Por tabela, porém, o que a Petrobras fez foi brincar de day trader. Os papéis subiam com o petróleo, caíram quando ela chamou a coletiva e repicaram para uma alta de mais de 1% no instante que Silva e Luna disse “Não há nenhuma mudança na política de preços dos combustíveis”;

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Os papéis preferenciais subiram 0,89%, a R$ 27,14, enquanto os ordinários (cuja maioria está com o governo) avançaram 1,56%.

Empurrão

Essa virada no fim do dia ajudou a colocar o Ibovespa no azul, isso mesmo com o S&P 500 no negativo. O Ibov ganhou 0,27%, a 113.583 pontos. Vale e sua alta puxada pela recuperação do minério de ferro também contribuiu. Ainda assim, das 91 ações do índice brasileiros, 56 começaram a semana com queda.

Mais um problema na conta

A Petrobras tem um segundo problema para fazer a conta da gasolina fechar: o dólar. A paridade internacional leva em conta o preço do barril de petróleo lá fora e o câmbio.

Para desespero do brasileiro, a moeda americana voltou a subir. Acontece que no final do ano é normal que o dólar avance, dado que empresas aumentam a demanda por moeda para remeter lucros ao exterior. Então, na sexta passada o BC decidiu começar a oferecer dólares no mercado já agora, em um movimento que inicialmente foi considerado uma medida para reduzir a volatilidade do mercado.

De início, a moeda deveria cair. Aconteceu o contrário. Veio um efeito rebote, e o dólar passou a subir. É que o mercado virou a chave e entendeu que o Banco Central quer usar o câmbio para controlar a inflação. Com medo da política mais leniente do BC, os juros futuros também subiram, aquele sinal de que investidores estão cada vez mais avessos ao Brasil.

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No fim, não foi só um problema do Brasil, e o dólar subiu ante mais moedas. O caos global causado pelo desabastecimento de combustíveis levou o mercado financeiro a repensar a velocidade com que países precisarão elevar suas taxas de juros para fazer frente à alta da inflação. Investidores ficaram tão apreensivos, que as taxas dos títulos públicos americanos dispararam, funcionando como um ímã de dólares espalhados pelo mundo.

Isso que nos EUA ninguém espera uma alta de juros tão cedo. A Selic deles está em zero desde março do ano passado, e só subirá desse patamar depois que o Fed enxugar o programa que injeta todo mês US$ 125 bilhões na economia. E mesmo isso foi anunciado para começar em novembro, num processo gradativo. Dado o cenário de hoje, investidores não acreditam que será tão lendo assim.

Esse medo atingiu em cheio as empresas de tecnologia, que dispararam na esteira do juro muito barato. É aquela novela. Os lucros futuros astronômicos embutidos nos preços das ações só se tornariam realidade num cenário de juro baixo. Agora, a conta muda. Nisso, a Apple, maior empresa do S&P 500 e do Nasdaq, caiu 1,05%.

Na semana passada, a pauta era a Evergrande. O fato é que começamos mais uma segunda com o pé esquerdo. Até amanhã.

MAIORES ALTAS

BRF (BRFS3) +7%

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Marfrig (MRFG3) +7,15%

PetroRio (PRIO3) +5,09%

Santander (SANB11)  +3,78%

CSN (CSNA3) +3,24%

MAIORES QUEDAS

Méliuz (CASH3)  -5,18%

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Via (VIIA3)  -4,71%

Banco Inter (BIDI11) -3,88%

Magazine Luiza (MGLU3)  -3,97%

Grupo Soma (SOMA3) -3,35%

Ibovespa: alta de 0,27%, aos 113.583 pontos

Nova York

Dow Jones: +0,21%, a 34.869 pontos

S&P 500: -0,28%, a 4.443 pontos

Nasdaq: -0,52%, a 14.969 pontos

Dólar: alta de 0,65%, a R$ 5,3788

Petróleo

Brent: alta de 1,69% , a US$ 79,41

WTI: alta de 1,93%,  a US$ 75,41

Minério de Ferro

alta de 7,17% a US$ 119,31 por tonelada no porto de Qingdao, na China

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