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A retomada da bolsa: como surfar essa onda

Dos últimos 10 ciclos de baixa na Selic, oito foram seguidos por altas de longo prazo no Ibovespa. Conheça os setores que mais têm a ganhar. E veja também as boas oportunidades que restam na renda fixa. 

Por Tássia Kastner e Júlia Moura | Ilustração: Fernando Molina | Design: Juliana Krauss | Edição: Alexandre Versignassi 
Atualizado em 11 set 2023, 21h30 - Publicado em 11 ago 2023, 05h14
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 (Vini Capiotti/VOCÊ S/A)
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 mercado financeiro é o habitat natural dos chamados engenheiros de obra pronta. Depois que uma ação estoura, sempre há o grupo gritando “eu sabia” para dizer que previram o fenômeno – e lucraram muito. A verdade é que investidores não têm bola de cristal, e antecipar altas (e também baixas) do mercado está mais para um chute informado do que uma certeza.

Ainda assim, sopra na Faria Lima um vento de otimismo, do tipo que diz ser IM-POS-SÍ-VEL a bolsa brasileira não subir. Nos sete primeiros meses do ano, a valorização foi de 10,7%, para 122 mil pontos. Do buraco que batemos em 23 de março, quando o Ibov foi a 97 mil pontos, a subida é de 24%, entrando num bull market – quando o índice supera os 20% de alta.

Essa é a maior valorização do Ibovespa desde 2021. E as apostas são de que a alta continuará. O Santander, por exemplo, espera que o índice bata em 140 mil pontos até junho do ano que vem. Se confirmado, seria um ganho de mais 15%. XP e Safra falam em 130 mil pontos ao final de 2023, ou seja, 6,5% em quatro meses – acima do que um Tesouro Selic pagaria.

É nessa dicotomia que mora a chave das projeções para a bolsa brasileira. O Banco Central submeteu o Brasil à mais rápida alta de juros do mundo pós-pandemia, tudo para frear a inflação que chegou a indigestos 12,13% em abril do ano passado. Fomos de 2% a 13,75% em 15 meses. Deu certo, o IPCA caiu para dentro da meta, a 3,16% ao ano, e agora a Selic finalmente começa a cair. 

O primeiro passo foi dado pelo Copom no começo de agosto, quando a taxa foi reduzida em 0,50 p.p. no dia 2 de agosto. E mais importante: o Comitê de Política Monetária anunciou que os diretores “anteveem reduções da mesma magnitude nas próximas reuniões”. Há mais três até o fim do ano. Logo, a Selic deve terminar 2023 em 11,75% – abaixo das previsões do último Boletim Focus pré-Copom, que apontava para 12%. Em 2024, caso não haja pressão inflacionária, a taxa volta a um dígito.    

Essa queda de juros foi a cereja em cima de um bolo com muitas camadas açucaradas. Mesmo com a Selic nas alturas, a economia brasileira estava em boa forma no primeiro trimestre, e cresceu 4% na comparação com o início de 2022. Depois, houve a aprovação do novo marco fiscal brasileiro, que substituiu o teto de gastos implementado no governo Temer. O novo sistema, ainda alvo de críticas de economistas, foi bem visto pelas agências de classificação de risco, pagas para estimar a probabilidade de calote de um emissor de dívida, sejam países ou empresas. 

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(Fernando Molina/VOCÊ S/A)

Em junho, a S&P alterou o viés da nota brasileira de neutro para positivo, uma espécie de aviso de que a situação da dívida brasileira parou de piorar. Em julho, a Fitch elevou o rating de BB- para BB, deixando o país a dois degraus para recuperar o grau de investimento, uma espécie de selo de bom pagador. 

Esse upgrade da nota é uma chancela que ajuda a atrair estrangeiros para o mercado brasileiro – e, com mais dinheiro, maior o potencial de alta das ações. O Brasil ganhou pela primeira vez o grau de investimento em abril de 2008 – em maio daquele ano o Ibovespa bateu seu recorde até então. Então, houve um mergulho causado pela crise financeira americana até o ponto mais baixo, em outubro. Dali, a bolsa subiu avassaladores 143% em sete meses. 

Para coroar a atual boa fase brasileira, em julho houve a aprovação da Reforma Tributária na Câmara, com a expectativa de que ela avance no Senado no segundo semestre. Esse é um projeto de longo prazo, que começa a ser implementado em 2026. Mas o mercado financeiro vive disso: de apostas no potencial futuro de decisões tomadas hoje. Tudo isso leva antes a uma queda no risco e a uma baixa nos juros de longo prazo, algo que se confirma quando o Copom reduz a Selic, a taxa mais curta que existe – como fez na reunião de 2 de agosto.

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Inspiração no passado

O Santander fez um levantamento que recuperou o desempenho do Ibovespa toda vez que o Banco Central iniciou um ciclo de corte de juros. Desde 1999, foram 10 ciclos de redução de taxa, incluindo aí os de 2020, que levaram a Selic a 2% ao ano. 

Resultado: a mediana da subida do Ibovespa depois do corte inicial de cada ciclo de baixa foi de 12% no primeiro ano e de 29% em dois anos. Em apenas dois ciclos de redução houve queda no índice após 24 meses – 2000 e 2011. No primeiro caso, após essa janela o Brasil passou pela campanha eleitoral que elegeu Lula pela primeira vez – numa época em que o mercado temia fortemente a eventual posse do petista. No segundo, o ciclo de corte de juros foi feito por interferência política, e não por decisão técnica, o que acabaria culminando em inflação e, depois, em recessão.

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Você sabe que resultados passados não são garantia de retorno futuro. Mas, nessa situação, existem motivos para olhar o retrovisor. Primeiro: Ibovespa e juros tendem a caminhar em direções opostas em qualquer situação, e em qualquer país. Natural. Quanto maiores os juros, menos você precisa arriscar seu dinheiro em ações para obter uma rentabilidade decente. Mas, quando eles passam a cair, a tendência é que você volte a direcionar uma grana para a renda variável, para tentar uma engordadinha no pé de meia. 

E fazer isso fica menos arriscado, já que as empresas também se beneficiam com juros menores. Elas passam a consumir menos caixa no pagamento de dívidas. Para o acionista, isso significa um potencial de lucros – e dividendos – maiores, sem falar em mais espaços para investimentos, que potencializam o aumento dos resultados no futuro. 

O BTG estima que o lucro das companhias da bolsa deve cair 18,2% neste ano em relação a 2022. A comparação, porém, pega Petrobras e Vale, as “donas” do Ibovespa, que tiveram lucros descomunais ano passado, com a disparada do petróleo e do minério. Tirando elas, os resultados das companhias ficam praticamente no zero a zero (+0,9%) neste ano. Para 2024, o banco aposta em alta de 10,3%, com Petro e Vale, e de 20,6% sem a dupla. Esse tipo de previsão vai para a conta na hora decidir se uma ação está cara ou barata. 

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A segunda razão pela qual a bolsa poderia continuar a subir, fora a baixa nos juros em si, seria justamente os investidores se convencerem de que as ações estão baratas. Isso a gente vê pelo P/L, o indicador que divide o valor de mercado da companhia pelo lucro anual. Ele é um termômetro universal, um ponto de partida que mostra se uma ação é cara ou barata – quanto mais alto o P/L, mais sobrevalorizada ela está.

Depois da subida do segundo trimestre, as ações do Ibovespa são negociadas, em média, a um P/L de 8,2, ainda abaixo da média histórica – 12,3 nos últimos 15 anos, segundo cálculo da XP. Claro, o P/L pode se ajustar tanto com a alta das ações quanto por queda nos lucros. 

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Mas o resumo é o seguinte: se você está no time das pessoas que acreditam que a queda de juros fará a economia continuar a crescer de forma sólida, turbinando os resultados das companhias, então faz sentido apostar no Ibovespa. E o jeito de fazer isso a custo relativamente baixo é comprar um dos sete ETFs que seguem diretamente o índice (o mais famoso deles é o BOVA11).

Esses momentos positivos são aqueles em que os investidores mais tentam usar a bola de cristal, em busca de setores que parecem ter o maior potencial de valorização. Por isso, é hora de examinar as entranhas da bolsa brasileira.

Os vencedores da queda de juros

Aqui, a jogada óbvia é olhar as empresas que dependem muito de crédito para fechar negócios. São dois os setores principais: construção e as empresas de varejo. 

Das dez maiores altas do Ibovespa entre janeiro e julho, quatro foram do setor imobiliário: Cyrela (88,3%), MRV (83,4%), Ezetec (58,7%) e a empresa de shoppings Aliansce Sonae (48%). Fora do Ibovespa, a Cury Construtora subiu 50,3%, enquanto a Multiplan subiu 30%.

O setor foi um dos que mais sofreu para se recuperar no pós-pandemia. A alta de juros encareceu o crédito e limitou o aumento de preços em um momento em que os custos de produção haviam disparado. Os problemas de fornecimento de materiais também afetaram as entregas. Os resultados minguaram. 

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Quando o cenário econômico começou a se firmar, elas entraram na primeira leva das altas da bolsa. De acordo com um acompanhamento do Itaú, as construtoras avançaram nos últimos 12 meses, em média, 65%, enquanto o Ibovespa ganhou 20% nesta mesma janela. Um segundo motivo para a recuperação foi a renovação do Minha Casa, Minha Vida. O valor dos imóveis incluídos no programa foi elevado, e o governo também aumentou o subsídio aos juros do financiamento.

A notícia foi um dos fatores que empurraram a ação da MRV, que teve em 2022 o seu pior resultado. 2023 também começou no negativo. Isso fez com que a companhia ficasse sem um P/L para chamar de seu. Suas concorrentes, por outro lado, estão com P/Ls acima da média atual do Ibovespa. O da Ezetec é de 17,7; o da Cyrela é 11. A Multiplan, em shoppings, foi a 34.

O crescimento dos resultados ainda está por vir, na avaliação do mercado. O Itaú coletou estimativas que apontam aumento de 5% a 10% nos lucros em 2024. O BTG estima saltos de 22,6% em 2023 e mais 33% em 2024.  

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(Fernando Molina/VOCÊ S/A)

O varejo está na ponta oposta do fenômeno: de acordo com o Itaú, no agregado, as ações caíram 3% em 12 meses até julho – contra a alta de 20% do Ibovespa. A proximidade do início do ciclo de baixa nos juros não mudou esse cenário. Trata-se de um setor heterogêneo que engloba marcas de moda, supermercados, e-commerces e outros segmentos. 

No ramo de moda, Lojas Renner e Grupo Soma ficaram entre as maiores baixas do Ibovespa em julho. Outras varejistas de moda enfrentam mais desafios, como a Marisa (em processo de reestruturação que depende de injeção de recursos de acionistas). O varejo de moda, em suma, foi atropelado pela perda de renda do consumidor e aumento da inadimplência, isso enquanto gigantes chinesas abasteciam o mercado doméstico. 

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O P/L da Renner está em 15, o da Soma, em 26. A Soma, ao lado da Arezzo, foi listada ao longo da alta de juros como uma das companhias mais bem posicionadas para enfrentar o período de crise, porque tem como público-alvo a fatia mais rica da população. Essa segue sendo a estratégia para escolher ações de varejo, mesmo durante a queda de juros. A XP escreveu em seu relatório de recomendações para o segundo semestre que Soma, Vivara e Grupo Mateus eram os destaques do setor de varejo, mas também que Renner e Assaí, voltadas a um público de poder aquisitivo menor, seriam boas apostas para a segunda etapa do ano.

“Continuamos a preferir empresas que são resilientes por conta do segmento ou público-alvo, e que contam com tendência sólida de resultados, têm histórico de entregas comprovado e são negociadas a valuations atrativos”, escreveram os analistas da corretora.

O critério acima explica por que as grandes varejistas Magazine Luiza e Via raramente aparecem nas recomendações. Ao lado da Americanas, as ações dessas empresas foram um fenômeno em 2020 (ou bem antes, no caso da Magalu), mas começaram a afundar justamente quando o juro disparou, a partir de 2021. Passados mais de dois anos, as companhias têm acumulado prejuízos milionários e ceticismo entre investidores. O escândalo da Americanas só agravou a crise de imagem das concorrentes.

Não à toa, nas carteiras recomendadas de agosto, a única entre elas a aparecer é a Via, com uma só recomendação de compra feita pelo Banco do Brasil. O Santander, por exemplo, colocou o argentino Mercado Livre (negociado na Nasdaq, mas disponível na B3 via BDR MELI34) como recomendação do segmento.

O que falta combinar com os russos – e chineses

É difícil pensar em uma alta consistente do Ibovespa sem a presença de respeito de Vale e Petrobras. Juntas, elas respondem por 26% do índice. E têm uma característica de corda-bamba: se há otimismo com o Brasil, elas tendem a subir. Isso porque gringos vão sempre buscar as grandes companhias que representem o Brasil como um todo – ou usar ETFs, que terão 26% de Vale e Petro lá dentro.

Se o mercado olhasse apenas para essa tendência do fluxo de investimentos, daria para cravar que esses papéis iriam para uma única direção: para cima. O problema é que elas dependem umbilicalmente do mercado internacional. E aí o calo aperta. Até julho, PETR4 e PETR3 subiram 27% e 24%, respectivamente, mas o P/L da empresa segue baixo, ao redor de 4. Já a Vale caiu 22% e está com um P/L igualmente nanico, de 4,6. Mas o fato de as ações estarem baratas não significa que o mercado esteja dormindo no ponto. Trata-se de uma projeção de lucros menores para os próximos trimestres. 

No caso da Petrobras, a discussão está no preço do petróleo. As projeções dos bancos internacionais fixam o preço ao fim deste ano no atual patamar, de US$ 85 por barril. É menos do que se previa anteriormente. O ajuste começou a ser feito em junho, contra expectativas anteriores que previam o barril a US$ 90. 

Acontece o seguinte: a tal ameaça de recessão mundial, no radar de economistas e investidores desde o início da alta global de juros, não aconteceu. Assim como o Brasil, países mundo afora conseguiram baixar seus preços sem sufocar a economia.

Isso tenderia a manter a demanda por petróleo elevada, enquanto a Arábia Saudita anuncia cortes de produção e a Rússia vai driblando o embargo ocidental e continua abastecendo o mundo com seu suco de dinossauro – ainda que afirme estar reduzindo o suprimento para controlar os preços. Existe, portanto, uma queda de braço internacional para tentar segurar o preço da commodity.

Só que, na demanda global, há a China. A segunda maior economia do mundo está com dificuldades de voltar a crescer do jeito chinês – e seguir com seu consumo voraz por commodities. O PIB do segundo trimestre avançou 6,3% na comparação anual, enquanto economistas esperavam 7,3%. O país está em deflação (um indicador de economia fraca) e o desemprego entre jovens bateu recorde, ultrapassando os 21%. A produção industrial desacelera e a crise do setor de construção civil, cujo exemplo máximo é a Evergrande, ainda não foi resolvida.

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(Fernando Molina/VOCÊ S/A)

O regime de Xi Jinping chegou a anunciar um plano de estímulo à economia, mas não deu detalhes suficientes para debelar o medo de que o crescimento mingue ainda mais. O Nobel de Economia Paul Krugman comparou recentemente a China ao Japão dos anos 1990 – que entrou numa estagnação sem fim após décadas de crescimento superlativo. E afirmou que a crise atual da China pode ser ainda pior que a do antecessor. Isso porque a economia local sofre de ausência de demanda (olá, deflação) e só continua avançando porque o setor imobiliário está inflado artificialmente.

É uma afirmação de proporções nucleares, dessas difíceis de confirmar na realidade antes que ela exploda. O que se sabe é o seguinte: a China importa 70% da produção global de minério de ferro; no petróleo, a participação é de 15%. Há um peso direto maior sobre as mineradoras e siderúrgicas do Brasil do que sobre as petroleiras. Mas isso desconsiderando, claro, o efeito-cascata de uma economia chinesa em desaceleração. O preço do minério de ferro cai só 5% em 2023, mas é negociado pela metade dos valores registrados em 2021.

Daí por que as ações da Vale tombaram tanto. Ainda assim, ela é uma das empresas que mais aparecem nas carteiras recomendadas das corretoras, atrás apenas da Prio, que subiu 23% neste ano – e 2.700% nos últimos cinco. O P/L da Prio é mais alto que o da Petrobras. Está em 10,8%, mas longe de ser proibitivo. Chevron e Exxon, as gigantes americanas do setor e que não têm muito para onde crescer, operam em patamares próximos, perto de 8.

O fato é que a economia brasileira – e, portanto, a bolsa – tem uma dependência muito grande de commodities. E elas são atreladas à boa forma do PIB global. Em resumo, ainda que existam mais ventos favoráveis do que contrários para investimentos em ações agora, o tempo sempre pode virar. A boa notícia é que, enquanto isso, ainda dá para aproveitar a última onda da renda fixa.

As últimas (boas) oportunidades da renda fixa

A sensação na renda fixa é de hora da xepa, fim de feira. Mas é uma dessas de respeito, com ofertas que ainda valem a pena – especialmente se você tiver uma grana para investir a perder de vista, para a aposentadoria.

O investimento mais recomendado para isso são os títulos públicos atrelados à inflação, como o IPCA+ ou mesmo aquele criado neste ano para a aposentadoria, o Tesouro RendA+. Acontece que esses investimentos chegaram a pagar mais de 6% ao ano acima da inflação no primeiro semestre, justamente quando investidores acreditavam que não haveria um substituto para o teto de gastos e que a economia brasileira como um todo estava numa situação pior.

Daquele máximo, o rendimento desses títulos caiu para a faixa de 5% ao ano mais inflação. Em comparação com o pico, parece ruim. Não é. Planejadores financeiros sempre partem de ganhos de 3% acima da inflação para projetar os investimentos para a aposentadoria, porque taxas polpudas como as atuais são mais exceção do que regra.

Fizemos uma simulação no site do Tesouro Direto com um título do IPCA+ com vencimento em 2045 e a rentabilidade no dia 1º de agosto, a 5,46% ao ano. Coloque R$ 10 mil lá e deixe até o vencimento: quando você resgatar terá R$ 27 mil em dinheiro de hoje (sem contar a inflação). É quase o triplo do valor investido, em termos reais, já descontando taxas e o IR. Multiplicação de patrimônio na veia.

No Tesouro RendA+, a mágica é ainda mais fascinante. Esse título divide o valor acumulado em 20 anos de pagamentos mensais, para que você tenha uma renda extra na velhice. Significa que o dinheiro continua rendendo mesmo depois que você começa a receber as parcelas. No caso do título RendA+ 2045, você travaria 5,45% de ganho anual até 2069.

E há ainda um novo título, o Educa+, voltado para o planejamento da educação dos filhos. Eles garantem pagamentos mensais por cinco anos – o tempo da faculdade. Na prática, porém, também podem servir como um RendA+ de tiro curto, para quem não quer aguardar 20 anos para receber todas as parcelas. Até o fechamento desta edição, todos tinham rendimento acima de 5% ao ano. 

“Os títulos de inflação representam o investimento com mais gordura para queimar. O juro dele estava na casa dos 6% no começo do ano e ainda não caiu muito, mas deve terminar o ano abaixo de 5%”, analisa Alexandre Cabral, professor de derivativos da B3 Educação.

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Quem está com uma grana para planejamento de curto prazo pode se arriscar também em títulos prefixados, mais especulativos. Neles, contrata-se um determinado juro para todo o período de investimento. Mas é uma aposta arriscada, porque se algo der errado na economia ou a inflação voltar a subir, sua rentabilidade que parecia rechonchuda viraum fiapo.

Os rendimentos mais elevados nessa categoria estão nos CDBs de bancos pequenos e médios, como o do Agibank, que, ao fim de julho, pagava 12,56% ao ano até 2026, e o do C6, que tem uma rentabilidade anual de 11,95% no mesmo intervalo, isso antes do IR.

Já o título prefixado do Tesouro que vence em 2026 paga 10,12% ao ano. Descontando o IR, cai para 8,46%, o que transformaria R$ 10 mil em R$ 12,6 mil. O problema é que a inflação média do Brasil desde o Plano Real é de 4,5%. Desconte isso da rentabilidade e seu ganho real cai para 3,96% – menos que os títulos ligados à inflação, e com muito mais risco.

Se você quer uma combinação de títulos de renda fixa, dá para ir de ETFs também. A maioria segue uma carteira de títulos Tesouro IPCA+, com prazos distintos de vencimento. Eles cobram taxas de administração entre 0,20% e 0,25%, o que é mais caro que investir via Tesouro Direto. Procure os fundos B5P211, IMBB11, IMAB11, B5MB11, IB5M11 e NTNS11 (perdão pela avalanche de siglas).

Há ainda ETFs de títulos prefixados (IRFM11), debêntures (DEBB11), juros futuros (FIXA11) e Tesouro Selic (LFTS11) – este último é uma opção para reserva de emergência, que você precisa ter em investimentos tipo Selic independentemente de quanto esteja a taxa de juros do país.

O momento atual, no fim das contas, permite que você faça aquilo que os melhores investidores ensinam: diversificar os mares em que você surfa. Dá para apostar numa maré alta para a renda variável, e ainda cuidar bem do seu dinheiro com as oportunidades que restam na renda fixa. Aproveite a onda. 

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