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Sofia Esteves

Fundadora e presidente do conselho da Cia de Talentos, Co-fundadora do Bettha.com e Presidente do Instituto Ser+
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Sam Bankman-Fried dormia só 4h, em um pufe. Não seja esse personagem.

Dormir melhor, e não dormir menos, é uma boa resolução de Ano-Novo para quem quer progredir na carreira: não se deixe seduzir por excentricidades, nem encare qualidade de vida como algo secundário.

Por Sofia Esteves
16 dez 2022, 12h07

Depois de ler as notícias recentes sobre o fundador da FTX, uma das maiores corretoras de criptomoedas do mundo, a minha dica de resolução de Ano Novo para você, que me lê, é: invista em uma boa noite de sono.

Parece conselho de mãe ou recomendação de especialista em saúde na hora do check-up, mas esse hábito básico é um investimento seguro e que vai trazer bons retornos para a sua vida profissional. Pode parecer um ativo que está em baixa no mercado, como se dormir fosse para quem é fraco, mas não se engane. Dormir bem vale muito!

Pensei nisso ao saber dos escândalos atuais envolvendo Sam Bankman-Fried. É que, dentre as muitas coisas pelas quais o jovem era conhecido, uma delas era dormir apenas quatro horas — muitas vezes em um pufe na própria empresa. Em uma busca rápida pela internet, você encontra facilmente tweets e trechos de entrevistas em que SBF (sigla pela qual o ex-bilionário é conhecido) diz dormir no escritório para sua mente permanecer no “modo de trabalho”. 

Eu sei que todos nós passamos por momentos intensos de trabalho, aqueles períodos durante os quais acabamos abrindo mão de bons hábitos porque estamos muito envolvidos em um projeto ou com um desafio extremamente importante. Acontece!

Sei também que é muito simplista explicar o escândalo da FTX como uma consequência da privação de sono. Não estou querendo dizer que a situação dramática da corretora é resultado de pouco tempo de descanso ou que uma noite bem dormida é o segredo da sustentabilidade de um negócio.

O meu ponto aqui é que existe uma mentalidade comum ao meio corporativo que coloca trabalho duro e descanso em extremos opostos, como se tivesse sido instituído que, para ter sucesso, uma pessoa não pode parar. Afinal, o sono é isso: uma pausa forçada na nossa rotina.

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Conforme essa mensagem vai sendo passada e criando raízes, se fortalece uma cultura de privação de sono. Deitar e relaxar em uma cama confortável se torna um luxo de pessoas pouco ambiciosas, pouco engajadas e pouco dedicadas. 

E o pior é que essa mentalidade parece conquistar adeptos ainda nos dias de hoje, quando se fala mais em saúde mental, bem-estar, equilíbrio de vida etc.

Talvez, seja justamente por isso, justamente por falarmos tanto e há tanto tempo sobre essas questões, que é curioso para mim o quanto ainda precisamos nos convencer da importância de deitar a cabeça no travesseiro, fechar os olhos e dormir. É curioso como depoimentos sobre dormir só quatro horas no trabalho e em um pufe ainda atraem admiradores e inspiram seguidores.

Sonecas rápidas em qualquer lugar se tornam símbolos da rotina de pessoas de sucesso, quando, na verdade, o discurso deveria soar antiquado. 

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Falar sobre isso pode parecer bobeira ou “frescura” de gestão de pessoas. Para alguns, o tema do bem-estar no mundo do trabalho ainda soa como conversa de “abraçadores de árvores” — como o RH costumava ser chamado pejorativamente —, mas, acredite, não é. A verdade é que o comando das empresas deveria prestar muito mais atenção nesses assuntos.

Isso porque a privação de sono leva as pessoas para o caminho contrário ao de um negócio bem-sucedido, longevo e responsável. Pode parecer que quem cochila na própria baia está muito mais comprometido do que o resto e que, portanto, está fazendo entregas bem melhores. Mas a Ciência mostra o contrário.

Um estudo publicado no International Journal of Occupational Medicine and Environmental Health, por exemplo, identificou que noites em claro podem prejudicar a percepção de realidade, afetar a capacidade de manter a concentração, gerar reações mais lentas, diminuir a eficiência na execução de tarefas, aumentar o número de erros e potencializar a agressividade.

Já um artigo destacado na revista médica da Faculdade de Medicina Ocupacional do Royal College of Physicians, em Londres, mostrou que, após longos períodos sem dormir, o desempenho das pessoas foi parecido com o desempenho de quando estavam sob efeito de altas doses de álcool. Essa relação entre os sintomas da privação de sono e os da ingestão de bebidas alcóolicas em excesso já foram demonstrados em diversos estudos. 

Por isso, neste fim de ano, quando você for rever sua jornada e pensar naquilo que você deseja para o novo ciclo, reflita sobre quem são os seus modelos, quem inspira a sua carreira. Olhe para os hábitos que essa pessoa cultiva e não se deixe seduzir por excentricidades que, talvez, sejam só parte de um personagem.

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Existem hábitos que são antigos, simples e comuns. Mas nem por isso, valem menos. O sono é um deles. Que tal incluí-lo na sua lista de resoluções de 2023? Pode ter certeza que esse tempo de descanso não será um desperdício, mas um investimento — e dos bons!

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