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Sofia Esteves

Fundadora e presidente do conselho da Cia de Talentos, Co-fundadora do Bettha.com e Presidente do Instituto Ser+
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Escritório: de local de trabalho a centro de convivência

O trabalho presencial vai voltar. Mas não porque os profissionais precisam estar lá, sob supervisão, para desempenhar suas funções.

Por Sofia Esteves
Atualizado em 7 dez 2021, 13h08 - Publicado em 3 dez 2021, 11h04

Você já deve ter lido muitas notícias sobre empresas que diminuíram seus espaços de trabalho — talvez, você tenha vivido isso na pele. Organizações que ocupavam vários andares de um prédio comercial e que, na pandemia, perceberam que poderiam continuar operando no modelo remoto ou, pelo menos, no híbrido.

Não à toa, pesquisas como a da Canuma Capital mostraram que o mercado imobiliário comercial de São Paulo, por exemplo, chegou a uma vacância média de 22,7% no terceiro trimestre de 2021. Esse índice foi visto pela última vez em 2016.

Com as várias mudanças dos últimos tempos, o espaço físico que comportava 100% dos colaboradores pareceu um tanto quanto sem sentido. Inclusive, há quem questione se é, de fato, necessário um espaço físico. Afinal, pra que ter um escritório se muitos profissionais podem muito bem realizar suas atividades à distância? Não faz mais sentido simplesmente extinguir esses espaços? Deixá-los para trás, como uma memória de tempos passados e ultrapassados? Bem, eu acho que não.

Mas, calma, isso não significa que tudo deve permanecer como na “era pré-pandêmica“. A questão aqui não é uma defesa apaixonada do escritório, mas do que ele pode representar e proporcionar. Estou falando daquela antiga convivência, lembra dela?

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Se antes o escritório servia principalmente como um local para reunir todos os colaboradores de uma empresa, se antes muitos achavam que as pessoas precisavam estar lá para conseguirem desempenhar suas funções, agora, essa visão está cada vez mais distante. Aos poucos, nos aproximamos da idade de um espaço de encontro.

Afinal, o escritório é, antes de tudo, um espaço de convivência!

Por isso, quando falamos em retornar para endereços corporativos, a nossa mentalidade e dinâmica também devem ser outras. Voltamos não por obrigação, não porque o gestor precisa ficar de olho na equipe e nem porque um negócio só funciona na base do comando e controle. Aliás, espero que, a essa altura do campeonato, esse tipo de ideia já tenha caído por terra.

Nesse novo contexto, os colaboradores não saem das suas casas, pegam o transporte público, a bike ou o carro para se deslocarem até o trabalho por obrigação. Eles vão ao escritório não só por necessidade — de infraestrutura, de melhor conexão de internet etc —, mas por vontade. As pessoas querem estar lá (mesmo que não todos os dias da semana) por entenderem que existe algum ganho nisso e que a convivência digital é diferente da presencial. E também por sentirem falta dessa convivência no mundo físico e tudo o que vem com essa conversa, troca, aprendizado e construção fora das telas.

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Isso não quer dizer que o digital não funcione ou que não é possível se conectar com outros colegas e seus projetos via internet. Não se trata de uma “plataforma” ser pior do que a outra. Não é nada disso!

O ponto central é que realidades distintas geram interações, criações e resultados também diferentes. No fim das contas, talvez, o melhor caminho seja o do meio: combinar um pouco de cada.

Quando olhamos para trás, lembramos que os escritórios já tiveram várias caras: de cubículos criados para isolar o barulho e manter os colaboradores concentrados, às mesas compridas com lugares fixos para cada um, mas sem barreiras físicas separando as pessoas, até os ambientes informais com os famosos pufes coloridos e videogames nas grandes empresas de tecnologia. Para cada fase da história e para cada demanda, um formato diferente. Qual seria o de agora?

Hoje, depois de quase dois anos reclusos, acredito que precisamos resgatar nossa capacidade de nos conectarmos fora das telas. Isso significa prestar atenção, de verdade, no que o outro está dizendo em vez de desviar o olhar para as redes sociais, o e-mail ou qualquer outro aplicativo; captar os detalhes da comunicação não-verbal e conseguir entender melhor o colega; aprender desde atividades operacionais até soft skills pelo exemplo prático, não só pela fala. Na minha opinião, esses são alguns dos elementos que vão nos ajudar a desenvolver maior inteligência coletiva dentro da organização e, portanto, entregar mais soluções diferenciadas para os de fora.

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Por isso, este é o momento ideal para reforma: não só do escritório, mas da nossa mentalidade de porquê ele existe. Uma reconstrução de conceito, que coloca de pé uma ideia: a de um espaço físico que deixa cada vez mais de ser apenas uma estação de trabalho e que é elevado ao posto de ambiente de integração e criação.

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