Como cultivar criatividade com ética na era da IA
De acordo com o Relatório Futuro do Trabalho 2025, do Fórum Econômico Mundial, a criatividade é uma das soft skills mais desejadas no mercado.

ecentemente, o Brasil foi homenageado como o “Creative Country of the Year” no Cannes Lions 2025, festival internacional de criatividade e comunicação que rendeu mais de cem estatuetas para agências brasileiras. E essa não é a primeira vez que o país é prestigiado.
Só a título de curiosidade: nosso país também teve 14 municípios reconhecidos pela Unesco como Cidades Criativas, iniciativa que promove o desenvolvimento sustentável por meio da cultura e da inovação. Manaus e São Paulo, inclusive, foram recentemente selecionadas como candidatas ao título, reforçando o protagonismo criativo do Brasil em diversas frentes: da gastronomia à literatura, da música ao design.
Ou seja, parece que essa habilidade está mesmo no nosso DNA: somos um povo cheio de ideias, inventivo, com amplo repertório. E isso é ótimo não só para a imagem do país, mas para quem busca se destacar no mercado de trabalho.
Afinal, você já deve ter ouvido falar que a criatividade é uma das soft skills mais desejadas no mercado, certo?
De acordo com o Relatório Futuro do Trabalho 2025, do Fórum Econômico Mundial, ela está entre as competências mais valorizadas hoje, e a boa notícia é que deve continuar assim por uns bons anos. Isso porque o estudo mostra que a criatividade está entre as menos suscetíveis à substituição pela inteligência artificial generativa.
Ainda assim, existe um outro lado dessa notícia, que não necessariamente é ruim. Se é verdade que a IA não ameaça essa “habilidade natural” do povo brasileiro, também é verdade que ela a ressignifica.
Em outras palavras: ser uma pessoa criativa na era da inteligência artificial vai além da simples geração de ideias. Requer alguns cuidados e ajustes importantes.
O que isso significa na prática?
Em primeiro lugar, precisamos aprender a atuar com nossa nova parceira de trabalho: a IA. Para tanto, devemos entender seus limites, reconhecer os vieses embutidos nos algoritmos e garantir que as decisões criativas sejam transparentes e responsáveis, preservando a integridade do processo; o que nos leva para o segundo ponto, o da ética.
Claro que esse aspecto sempre deve estar presente em tudo o que fazemos, mas a questão central aqui é que, com os avanços da tecnologia, devemos nos preocupar também em estabelecer princípios claros que orientem o uso da inteligência artificial. Assim, evitamos impactos negativos, como a desinformação, a discriminação ou o desrespeito às questões de autoria.
De acordo com o Relatório Futuro do Trabalho 2025, do Fórum Econômico Mundial, a criatividade é uma das soft skills mais desejadas no mercado.
A partir disso, chegamos a uma terceira recomendação prática: combinar o melhor dos dois mundos. Aprenda a identificar em quais etapas do processo criativo a IA pode impulsionar seu trabalho e quais devem permanecer em mãos humanas. Isso porque alguns estudos já mostraram que a IA é especialmente útil nas fases iniciais de geração de ideias e exploração de possibilidades, mas tende a limitar a originalidade quando usada em excesso ou sem criticidade.
Essa dica pode parecer óbvia, mas não a subestime. Preste atenção a essa distribuição de tarefas porque aplicar a tecnologia de forma indiscriminada pode levar a soluções medianas, baseadas em padrões já existentes; o exato oposto do que se espera de uma contribuição criativa autêntica. O que fará diferença nessa parceria é saber quando seguir com apoio do agente de IA e quando confiar na sensibilidade humana para interpretar contextos, inovar com propósito e dar significado às escolhas.
Nessa mesma linha, tenho uma quarta e última recomendação. Na verdade, é mais um lembrete: a skill do futuro depende também de interações humanas diversas. Criatividade não nasce do vazio; ela é alimentada por repertório, escuta e convivência com diferentes pontos de vista.
Por mais avançada que seja, a IA só consegue gerar novas ideias a partir do que já existe. Se limitarmos nosso processo criativo ao que ela nos oferece, corremos o risco de reduzir nosso campo de visão e empobrecer nossas soluções. Portanto, não se isole com a sua parceira digital.
Buscar o contato humano é um movimento contrário à passividade e à comodidade de apenas receber insumos gerados por uma máquina. É essa troca, aliada às demais recomendações, que vai garantir que sejamos pessoas criativas de verdade na era da IA.