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Luciana Camargo

Diretora estratégica da Associação Brasileira de RH (ABRH-SP). Escreve sobre carreiras, liderança, diversidade e inclusão e desenvolvimento pessoal

Uma provocação: estamos mesmo mudando e evoluindo?

É cada vez mais evidente que as novas gerações não se identificam com os modelos de organização tradicionais. Até que ponto as empresas estão de fato questionando como podem evoluir?

Por Luciana Camargo
Atualizado em 26 abr 2024, 14h41 - Publicado em 18 abr 2024, 11h56
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 (alphaspirit/Getty Images)
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Tenho acompanhado discussões e análises acerca das mudanças do mercado de trabalho, o surgimento de novas demandas e profissões, novos momentos de profissionais que abrem e fecham ciclos, e empresas que mudam sua força de trabalho para impulsionar a produtividade por meio da automação e da inteligência artificial.

É inegável que estamos passando por mudanças significativas. A inteligência artificial, por exemplo, está ampliando o impacto sobre nossas atividades cotidianas, que agora exigem novas competências, como a habilidade de formular perguntas pertinentes e de questionar o que nos é apresentado como verdade.

Da mesma forma, ao longo da pandemia, aprendemos lições valiosas sobre a importância da saúde mental, a flexibilidade para conciliar o trabalho com nossas vidas, as expectativas em relação ao trabalho e a conexão com nossos propósitos profissionais. Isso sem falar na oportunidade de encontrarmos talentos que muitas vezes não estão no local da posição ou necessitam da flexibilidade para conciliar suas demandas pessoais. Agora, observamos um movimento significativo em direção ao modelo pré-pandemia, com ênfase na presença física. Será este um retrocesso ao comando e controle?

Evito rotular as gerações, embora reconheça que há pesquisas sobre os comportamentos geracionais. É cada vez mais evidente que as novas gerações não se identificam com os modelos de organização tradicionais. Até que ponto as empresas estão de fato questionando como podem evoluir?

A inteligência artificial inevitavelmente moldará o futuro do trabalho, exigindo adaptações comportamentais e desenvolvimento de novas habilidades. Em que medida os líderes estão se preparando para essa nova realidade e quanto tempo as pessoas estão sendo encorajadas e se dedicando ao seu próprio desenvolvimento?

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Somos responsáveis por nossa própria carreira e destino. Os programas de carreira rígidos e inflexíveis já não se funcionam mais. Mas, de acordo com a pesquisa Inteligência Emocional & Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, feita por The School of Life e Robert Ralf, 47,7% dos profissionais entrevistados associam a falta de um plano de carreira claro a infelicidade. Transparência e políticas claras para oportunidade de desenvolvimento e de carreira para os profissionais são importantes, mas temos que considerar a importância de assumirmos o protagonismo de nossas próprias carreiras. A pesquisa também mostrou que 88,36% dos profissionais entrevistados acreditam que, se tivessem mais autoconhecimento, poderiam tomar melhor decisões na carreira.

É preocupante pensar que em um cenário desafiante, de profundas mudanças, as pessoas não estão dedicando tempo para refletir quem são, o que os movem e realizam.

Outro tema que me instiga é o do ESG. Embora as práticas de ESG tenham evoluído ao longo dos anos, ainda enfrentam muitos percalços por se pautar em métricas que muitas vezes refletem esforços para atingir números, mas não compromisso profundo com a mudança cultural.

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O relatório da AMCHAM e Humanizadas de 2023, mostra que 38% dos respondentes enfrentam dificuldades na mensuração e monitoramento de indicadores ESG. O mesmo estudo diz que 32% dos participantes demonstram ausência de uma cultura forte de sustentabilidade.

Podemos acompanhar também os esforços para promover a diversidade, equidade e inclusão (DEI), e o crescimento tímido da diversidade de gênero e raça em posições de liderança. Segundo pesquisa do Instituto Ethos sobre perfil social, racial e de gênero, as pessoas negras representam 56,1% da população brasileira e ocupam apenas 4,7% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país.

Ao trazer à tona essas reflexões, meu objetivo não é apenas reagir às transformações do mercado de trabalho, mas sim encorajar uma análise crítica e contínua para navegar pelas complexidades desse cenário em constante evolução. Negar-se a explorar novos temas e conceitos é limitar nossa capacidade de compreender os desafios que enfrentamos e de promover mudanças significativas.

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Quando estamos abertos a diferentes perspectivas, somos capazes de mudar comportamentos, buscar diferentes soluções para os mesmos problemas e nos adaptar às demandas em constante evolução do mundo profissional. Acredito firmemente que o futuro é o resultado do que somos e construímos hoje.

Todas as preocupações em relação ao futuro do clima, da saúde, do trabalho, das desigualdades e a falta de equidade, da educação e das organizações estão intrinsecamente ligadas às nossas ações e escolhas no presente. Cabe a nós assumir a responsabilidade por nossas carreiras, nosso desenvolvimento pessoal e nosso impacto no mundo. Somente pelo compromisso com a abertura para aprender e mudar comportamentos, e pela busca pela igualdade e justiça, podemos moldar um futuro mais promissor e sustentável para todos.

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