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Bradespar (BRAP4) e Itaúsa (ITSA4): vale a pena investir via holdings?

Entenda por que esses papéis tem um desconto em relação às ações normais.

Por Alexandre Versignassi
14 dez 2023, 09h45

Para começar, é importante definir o termo. Holding é uma empresa que controla outras empresas. Pense na Ultrapar. Ela existe para administrar três companhias: Ultragaz, Ultracargo e postos Ipiranga. Nenhuma dessas tem ações na bolsa. Se você quiser ser sócio da Ipiranga, vai ter de comprar Ultrapar (UGPA3), e ficar exposto também à performance da Ultragaz e da Ultracargo. Normal. 

Estamos falando aqui de outro tipo de holding: empresas com ações na bolsa mas que detêm grandes participações em companhias de capital aberto – e cujo fluxo de caixa depende dos dividendos que essas empresas geram. 

O caso mais emblemático é o da Bradespar (BRAP4). Tudo o que ela faz da vida é deter 3,79% das ações da Vale (VALE3). Trata-se de um naco maior do que parece: a maior acionista da mineradora é a Previ, com 8,71%. 

Mas fica o dilema lógico. Se todo o dinheiro que entra na Bradespar vem de dividendos da Vale, por que há quem compre BRAP4 em vez de pegar VALE3 de uma vez? 

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Porque existe um desbalanço no mercado de capitais. Ações de holdings tendem a embutir um “desconto” em relação aos papéis normais. O caso da Bradespar ajuda a entender direitinho. 

O valor de mercado daqueles 3,79% da Vale que ela possui era de R$  11,2 bilhões ao final de outubro de 2023. Já o preço somado de todas as ações da Bradespar era de apenas R$  8,5 bilhões. Ou seja: se você comprasse a Bradespar inteira, ficaria com 163 milhões de ações da Vale (os 3,79%) por um valor 25% abaixo do de mercado.

E isso também conta para quem adquirir uma única ação da Bradespar, claro. Fazer isso significa comprar Vale com 25% de desconto. Ponto. 

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É assim porque holdings têm custos administrativos. E também porque elas embutem certos riscos. Se a holding não quiser repassar aos acionistas tudo o que recebeu em dividendos, não repassa. Também tem a questão de ser uma empresa apoiada em outra. Um acionista da Vale corre o risco de a mineradora ter algum problema jurídico e se ver obrigada a pagar uma multa milionária. Um acionista com BRAP4 na carteira carrega esse risco mais o de a própria Bradespar se ver diante de algum problema. Dupla exposição.

Considera-se normal, então, um desconto de holding próximo a 20% – em qualquer companhia do tipo. Mas, como o mercado não é uma entidade racional, essa porcentagem muda o tempo todo. Quanto maior ela for, mais barata está a ação. O da Bradespar mesmo flutuou de 18% a 31% desde 2017 (levando em conta médias anuais – no dia a dia a volatilidade é ainda maior). O RI da Bradespar publica um boletim periodicamente para mostrar a quantas anda o desconto – todas as holdings fazem isso.

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O desconto não é só uma abstração, claro. Ele materializa-se na hora dos dividendos. Como você paga menos por ação ao investir via holding, a tendência é receber mais por real investido. 

Em 2022, por exemplo, quem colocou R$  10 mil em VALE3 no início do ano recebeu R$  728 em proventos. Um dividend yield de 7,28%. Quem pôs R$  10 mil em BRAP4 amealhou mais: R$  1.038. Yield de 10,38%.     

É por essas que há quem prefira virar acionista da Vale através de Bradespar, em vez de ir direto na fonte. 

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Itaúsa (ITSA4)

Mais um caso emblemático de holding é o da Itaúsa (ITSA4). Ela é a dona de 37% do Itaú (ITUB4), e a taxa de desconto no final de outubro estava em 22%.

O patrimônio da Itaúsa não é 100% Itaú. Ela também tem ações da Alpargatas (ALPA4), da CCR (CCRO3), da Dexco (DXCO3) e da XP (XPBR31), além de participações societárias em três companhias de capital fechado: Aegea, de saneamento, Copa, de distribuição de GLP, e NTS, de gasodutos.

Todas essas outras, porém, respondem por apenas 9,5% do patrimônio da holding. Os outros 90,5% estão em papéis do Itaú mesmo. Então o mais justo é comparar os dividendos da Itaúsa com os do banco que ela controla. E o que temos é: em 2022, o dividend yield de ITSA4 ficou em 16,4% (em relação ao preço do papel para quem comprou no começo do ano). Para o mesmo período, ITUB4 entregou apenas 3,7%.

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Bom, outras holdings de grande porte da B3 são a Cosan (CSAN3) e a Metalúrgica Gerdau (GOAU4). 

A primeira é dona da Raízen (RAIZ4), da Rumo Logística (RAIL3), e de mais duas empresas de capital fechado – Moove, de lubrificantes, e Compass, de gás natural. Tudo isso mais 4,9% da Vale. Seu desconto de holding está em 46%.

Já a Metalúrgica Gerdau é como a Bradespar: holding de uma empresa só – a própria Gerdau (GGBR4). O desconto ali é de 23%.   

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