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Cris Kerr

Por VOCÊ S/A
Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada em Inclusão & Diversidade, professora da Fundação Dom Cabral, Mestra em Sustentabilidade e idealizadora do Super Fórum Diversidade & Inclusão.
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Para as mulheres, o ambiente corporativo ainda é uma mata fechada

O que precisamos fazer para conquistar o nosso espaço em uma cultura que questiona o potencial feminino e nos resume ao papel de mães e cuidadoras?

Por Cris Kerr
22 Maio 2024, 14h50
Mulher trabalhando com computador no colo no meio da floresta
 (IPGGutenbergUKLtd/Getty Images)
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“Hoje, sei que posso ser igual a vocês”, disse uma trainee que havia sido contratada como executiva há pouco tempo. É uma frase aparentemente simples, dita ao final de uma das minhas consultorias de diversidade em empresas, mas que me marcou muito.

As mulheres presentes estavam contando como o processo de coaching em grupo de mulheres as ajudava a se verem como as profissionais corajosas, fortes e com potencial que elas são. E essa nova executiva pediu a palavra para agradecer todas as trocas. 

Trago esse episódio porque ele resume algo que acredito muito: só conquistaremos nosso espaço no ambiente corporativo juntas, com sororidade. A metáfora que faço é que o mercado de trabalho para as mulheres é como uma mata densa, fechada. O problema é que recebemos apenas um canivete para abrir a trilha.

Os vieses de gênero, estereótipos e crenças culturais ainda estão presentes no ambiente corporativo e também nas nossas próprias famílias. Quando estamos em busca de progredir na carreira, nós, mulheres, costumamos ser questionadas: por que almejar um cargo de liderança? Você não tem um marido que já é o provedor?

Eu mesma já escutei algo semelhante – e da minha própria mãe. Era uma época em que eu estava viajando muito a trabalho. Certa vez, cheguei em casa e ela falou: “Você está sendo uma péssima mãe”. 

Na hora, a frase me machucou. Mas depois cheguei à conclusão de que aquilo não era meu; era dela. Minha mãe havia sido uma excelente secretária bilíngue, recebia um salário maior que o do meu pai, que era engenheiro. Mas ele foi trabalhar em uma hidrelétrica, e ela, como esperado para a época, teve que largar o emprego. Por outro lado, não repeti essa história e resolvi seguir a minha carreira.

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A diferença entre nós duas é que, na época da minha mãe, a maioria das mulheres dependiam financeiramente do homem. Hoje não. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) de 2023 mostrou que 50,9% dos lares no Brasil são providos por mulheres. Ganhamos uma independência financeira que não tínhamos antes. Passamos a ocupar espaço na mesa de decisões, mesmo sendo questionadas se temos certeza do que estamos dizendo.

Por isso, precisamos também abrir espaço dentro das nossas casas. Derrubar as crenças culturais de que o lar, a família e as crianças são responsabilidade exclusiva da mulher. Transformar esse ambiente, compartilhar funções. Isso vem assustando alguns homens, mas tenho visto bons exemplos.

Ao final de uma mentoria com o CEO de uma empresa multinacional, ele me falou que saía do trabalho todos os dias às 18h. Convidei ele para palestrar no nosso Fórum “Conversando com os homens”, e assim que ele contou este fato, o olhar dos outros homens foi de indignação, mas ele explicou: “Eu entro às 8h e saio às 18h. No horário certo. Faço questão de buscar meu filho e minha filha na escola todos os dias”. 

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) de 2023 mostrou que 50,9% dos lares no Brasil são providos por mulheres.

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Depois disso, muitos homens presentes comentaram que gostariam de fazer o mesmo e iam tentar respeitar o horário, mas que a cultura das suas empresas incentivava as pessoas a ficarem no escritório até tarde da noite. Sabemos que é pior ainda para homens e mulheres que não têm criança, pois é entendido que terão mais tempo para se dedicar ao trabalho – mais uma ideia culturalmente enviesada.

Desconstruir os vieses de gênero do dia a dia não é um trabalho fácil. Em meu livro “Cultura organizacional livre de assédio”, faço esse questionamento: que mulher nunca ouviu algumas das seguintes frases? 

“Ela deve estar de TPM” 

“Ela foi promovida tão rápido só porque é mulher e agora tem meta na empresa”

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“A gravidez pode ser um empecilho para a sua carreira”

Sabemos que é pior ainda para homens e mulheres que não têm criança, pois é entendido que terão mais tempo para se dedicar ao trabalho – mais uma ideia culturalmente enviesada.

Muitas dessas frases são proferidas por colegas de trabalho, amigos e familiares. E também por outras mulheres. Ainda existe uma cultura de rivalidade feminina a ser superada. Desde cedo aprendemos a competir umas com as outras. 

Nos filmes, vemos a irmã que quer matar a Cinderela por inveja. A Rainha que precisa ter certeza de que é a mais bela do reino. E, na vida real, o colega de trabalho que foi promovido mesmo sendo menos competente do que a outra pessoa.

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Abrir uma trilha em uma mata fechada com apenas um canivete não é nada fácil. Exige esforço. Mas não precisamos fazer isso sozinhas. Com sororidade entre as mulheres e colaboração dos homens, conseguiremos fazer isso com mais eficiência e rapidez. E, à medida que abrimos essa mata, criaremos o caminho para as outras mulheres que estão vindo atrás e que também precisam do nosso apoio.

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