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Cris Kerr

Por VOCÊ S/A
Cris Kerr é CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada em Inclusão & Diversidade, professora da Fundação Dom Cabral, Mestra em Sustentabilidade e idealizadora do Super Fórum Diversidade & Inclusão.
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Lugar de fala x representatividade: a importância desses conceitos e como eles devem ser usados

Entenda as definições desses termos que ganham espaço nas discussões sobre diversidade e inclusão.

Por Cris Kerr
Atualizado em 15 jun 2022, 16h11 - Publicado em 15 jun 2022, 15h40
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 (10'000 Hours/Getty Images)
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No mundo atual, as pautas de diversidade e inclusão estão, finalmente, ganhando mais espaço. Novos termos acabaram surgindo para ajudar na reflexão dessas questões. No entanto, nem sempre conseguimos acompanhar o que cada um deles significa, e como podemos aplicá-los. E com a desinformação, também surgem os medos, quer seja o da pessoa perguntar, o de ‘falar algo preconceituoso” ou de ser mal-interpretada. E, dentre as inúmeras dúvidas que cercam o tema diversidade e inclusão, a confusão entre lugar de fala x representatividade ainda é muito presente.

A falta de conhecimento sobre o que significa o lugar de fala não pode servir de desculpa para a isenção de posicionamento. Como diz a filósofa Djamila Ribeiro: “Todos nós temos um lugar de fala e podemos usá-lo para diminuir as disparidades sociais”. Este lugar é importante principalmente para ter consciência do espaço que ocupamos, e dos privilégios que ele abarca. Todas as pessoas são importantes e devem ser escutadas e consideradas na construção de uma sociedade mais igualitária.

Portanto, não se deve ter medo de, por exemplo, como um homem, falar sobre as desigualdades sociais que as mulheres sofrem no trabalho. Como membro da sociedade, é necessário ter senso crítico e exercer o seu poder para oferecer uma maior igualdade para grupos sociais menos favorecidos. O que não se deve fazer é querer falar sobre o assunto como protagonista de um movimento que não lhe pertence, mas sim como uma pessoa aliada que quer aprender e não almeja tomar o protagonismo de quem realmente sofre as consequências da situação em pauta.

Aí entramos no nosso segundo ponto, já que todas as pessoas têm o direito de comunicar sua visão sobre as desigualdades sociais de acordo com o seu lugar de fala, então o que de fato significa representatividade? 

A representatividade coloca como protagonistas do debate das questões sociais quem, de fato, é personagem ativa dessa história. Quando tratamos de feminismo, por exemplo, quem deve liderar esse diálogo são aquelas que estão no centro da questão, no caso, uma mulher branca, preta, amarela, indígena, com e sem deficiência, trans, lésbica, bi. Os homens podem, e devem, colaborar para que esse tema alcance cada vez mais pessoas. Porém, é preciso ter em mente que no centro da conversa devem estar sempre as mulheres, com as questões levantadas por elas.

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Para esclarecer a diferença entre lugar de fala e representatividade, podemos analisar o feminismo, movimento plural cuja origem do conceito é atribuída a Charles Fourier (1772-1832) que defendia o avanço na conquista de liberdade para as mulheres como pré-requisito para o progresso de toda a sociedade. O movimento passou por várias fases. Em meados do século XIX até as primeiras décadas do século XX, o feminismo tinha entre suas principais reivindicações o direito ao voto e ao acesso igualitário à educação entre homens e mulheres. 

Em geral, as mulheres que reivindicavam eram brancas e de classe social alta. Posteriormente, o movimento conquistou mulheres trabalhadoras e de raças e etnias diversas, além da defesa de outras pautas, como a igualdade salarial. A dupla opressão sofrida pelas mulheres negras, de gênero e raça, já vinha ganhando voz no movimento feminista no início do século XX, mas foi a partir da década de 60, que as mulheres negras ganharam espaço, para que a discussão dos temas raciais pudessem estar lado a lado aos temas de opressão de gênero.

Em 1981, a professora e ativista Angela Davis lança o livro “Mulheres, raça e classe”, considerado um ponto de reflexão nas discussões sobre o tema, e que deu voz às reivindicações das mulheres negras. Já em 1990, a filósofa Judith Butler lança o livro “Problemas de gênero”, onde defende que o gênero é fluido, não binário e performativo, o que contribuiu para as discussões a respeito da teoria queer e que possibilitou a atuação além das mulheres cisgênero no movimento feminista.

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Como vimos, é importante considerar diferentes pontos de vista para um mesmo tema para, assim, fazer valer a representatividade dos movimentos. O feminismo, por exemplo, não pode ser pautado apenas pelas questões da mulher branca hétero cis. O papel da sociedade é dar voz às pessoas com diferentes lugares de fala para, assim, criar um ambiente social cada vez mais favorável para todos os grupos.

No livro “O Que é Lugar de Fala?”, da filósofa Djamila Ribeiro, ela fala sobre como o lugar de fala deve ser usado e os cuidados necessários: 

“Todas as pessoas possuem lugares de fala, pois estamos falando de localização social. E, a partir disso, é possível debater e refletir criticamente sobre os mais variados temas presentes na sociedade. O fundamental é que indivíduos pertencentes ao grupo social privilegiado em termos de locus social consigam enxergar as hierarquias produzidas a partir desse lugar e como esse lugar impacta diretamente na constituição dos lugares de grupos subalternizados.”

Portanto, é preciso compreender que ambos os conceitos – lugar de fala e representatividade – não são a mesma coisa e são de extrema importância para que os movimentos sociais em busca de igualdade atinjam cada vez mais espaços. No entanto, é preciso ter consciência do lugar de fala que ocupamos, e quem são as pessoas representantes de cada movimento. Entendendo e respeitando o que cada uma dessas posições traz para as conversas, será possível dar voz para conversas cada vez mais justas e equilibradas.

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