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Breno Paquelet

É especialista em negociações estratégicas, professor do MBA em Gestão Empreendedora da Universidade Federal Fluminense (UFF), consultor e autor
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Como conquistar seu aumento salarial em 2022

A pandemia travou a economia e empresas. Mas, profissionais qualificados, ainda existe espaço para a negociação salarial.

Por Breno Paquelet
10 dez 2021, 10h22

A crise provocada pela pandemia adiou os planos de aumento salarial da maioria dos profissionais, que acabaram ficando “satisfeitos” em manter seus empregos (em muitos casos aumentando sua carga de trabalho). No entanto, mais da metade dos profissionais se dizem insatisfeitos com seus empregos e, também, afirmam que a saúde mental foi prejudicada durante a pandemia. Após quase dois anos de aperto financeiro, muitas pessoas nutrem a expectativa de aumentar seu salário em 2022, mas as notícias sobre o cenário econômico acabam inibindo a execução do plano de melhorar a remuneração.

De maneira geral, a situação das empresas e o cenário econômico foram duramente impactados pela crise, o que gerou aumento do desemprego, redução nas contratações e acordos de redução (para manutenção de empregos), fatores que minimizam as chances de sucesso em negociações salariais. Mas é importante considerar que, além do cenário econômico e do momento das empresas, a questão salarial também é influenciada pela disponibilidade e qualificação dos profissionais.

Nesse aspecto, vale ressaltar que a crise atingiu de forma diferente os profissionais, de acordo com sua qualificação. Os profissionais menos qualificados foram os que mais sofreram com a crise, já que a absoluta maioria das vagas fechadas foram de profissionais cuja escolaridade máxima era o ensino médio – muitas funções meramente operacionais deixaram de existir ou foram absorvidas por outros membros da equipe. A combinação desses fatores foi muito desfavorável para a negociação salarial no período.

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Apesar do cenário negativo, houve oportunidades. Na luta pela sobrevivência das empresas, profissionais com histórico de resultados consistentes ganharam importância e acumularam funções (mesmo que nem sempre acompanhadas de aumento salarial nominal imediato, houve possibilidade de negociação de remuneração variável atrelada a entrega de resultados). Outra oportunidade é que, com a adoção do trabalho remoto (diversas empresas sinalizaram que manterão esse formato de alguma forma), os profissionais não ficam mais limitados à atuação local: podem se candidatar a vagas em outras cidades.

Ainda existe espaço para a negociação salarial, principalmente para profissionais qualificados e com bom histórico profissional. O contexto geral impacta, mas não define a empregabilidade e possibilidade de negociação de acordos especiais com a empresa. Antes de se desesperar com os números absolutos, é preciso que o profissional analise mais profundamente as estatísticas, considerando seu perfil profissional individual. Isso não significa que o profissional deve “ignorar a realidade”, mas, sim, entender qual é – efetivamente – a realidade para seu perfil.

Para profissionais qualificados  (acima de 25 anos, com diploma superior), a taxa de desemprego é de menos da metade da taxa geral. Das vagas de trabalho fechadas na pandemia, apenas 1% era de profissionais com nível superior completo. Setores como construção e agropecuária tiveram saldo positivo de geração de empregos no ano passado e a área de tecnologia está sendo mais demandada do que nunca. Em pesquisa do Índice de Confiança Robert Half, 81% dos recrutadores disseram que está mais difícil (ou igual) encontrar profissionais qualificados durante a pandemia.

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No meu livro “Pare de Ganhar Mal’, apresento os três principais fatores que impactam a negociação salarial: merecimento (o profissional precisa verdadeiramente merecer a remuneração superior), viabilidade (o aumento precisa ser viável para a empresa), e convencimento (é preciso agir e convencer os tomadores de decisão). Ou seja, por mais que o profissional mereça um aumento e até tenha condições de convencer o gestor, seu pedido pode ser inviável para a empresa. É preciso avaliar o momento (talvez agora não seja factível, mas daqui a alguns meses, sim) e ter flexibilidade (talvez não seja possível atender ao pedido da forma idealizada, mas seria viável caso fossem considerados outros aspectos da remuneração na negociação).

Ao traçar sua estratégia de negociação, o profissional precisa pensar de forma mais ampla em um pacote total de remuneração e benefícios em vez de dar foco estreito ao salário nominal. “Detalhes” no pacote podem fazer toda a diferença. É preciso pensar em formas criativas de receber compensações que custem pouco para a empresa, mas tenham valor para o funcionário, como o pagamento de um curso, flexibilização no horário de trabalho, dias livres, formato de trabalho remoto ou híbrido, verba para refeição ou viagem, ser designado para projetos especiais, ser responsável pelo atendimento de um grande cliente, mudança de área na empresa ou até mesmo um título mais relevante para o seu cargo.

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Tentar negociar um formato que combine remuneração fixa com variável sobre novas receitas ou resultados gerados, pode ser muito vantajoso para o profissional e ter fluxo mais fácil aprovação na empresa. Em momentos de crise, a empresa certamente terá uma preocupação maior em onerar sua folha, mas pode ver com bons olhos a possibilidade de incentivar o profissional na busca por resultados adicionais.

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