Programa busca dar protagonismo a mulheres no mercado segurador
Women in Insurance (WIINS), liderada pela chinesa Jing Liao, da Solera Foundation, chega ao Brasil para aumentar a representatividade delas num setor de tradição masculina. Confira a entrevista com a executiva.
Durante décadas, a indústria automotiva e o mercado de seguros foram territórios pouco amigáveis à presença feminina em posições de liderança. Apesar de representarem mais de 50% dos consumidores desses setores, as mulheres seguiam sub-representadas nas estruturas de poder e nas decisões que moldam produtos, serviços e políticas.
Esse descompasso entre quem compra e quem decide foi o ponto de partida para uma transformação global que nasceu dentro da Solera, empresa global de soluções integradas de gerenciamento de dados e software para o setor de seguros e automotivo.
A chinesa Jing Liao, hoje à frente da Solera Foundation, foi uma das responsáveis por conduzir uma integração empresarial complexa, consolidar dezenas de negócios diferentes e, paralelamente, criar a WIINS, um movimento estruturado para desenvolver e elevar mulheres em mercados historicamente dominados por homens, passando por criar espaços de conexão para que elas troquem experiências e se fortaleçam pela união.
O resultado extrapolou fronteiras. Programas de formação, redes globais de mentoria e parcerias com associações internacionais passaram a multiplicar oportunidades, criando um efeito de onda que chegou à Ásia, Europa, América do Norte… e agora desembarca no Brasil.
Mais do que ampliar a representatividade, a iniciativa se baseia em um princípio simples: apoiar o sucesso, seja de mulheres, seja de todo o ecossistema ao redor. Nesta entrevista, Jing compartilha sua trajetória, as escolhas que moldaram sua liderança e as ambições de um projeto que quer romper barreiras culturais, sociais e estruturais para redesenhar o futuro do mercado segurador.
Você liderou a integração global da Solera. Como essa experiência inspirou o programa WIINS?
Foi tudo extremamente recompensador. Quando cheguei, a Solera era um conjunto de 50 ou 60 empresas independentes, sem integração. E reconstruímos tudo: criamos uma máquina operacional, unificamos culturas e fizemos a empresa se tornar muito mais lucrativa. Mas para isso precisávamos de pessoas e de uma comunidade forte. E foi nesse processo que percebi um vazio: quase não havia mulheres em posições sêniores – o que, para mim, mostrou não só um problema, mas uma oportunidade enorme.
Como começou a WIINS dentro da Solera?
Criamos a Women in Insurance (WIINS) como um programa estruturado de liderança. Desenvolvemos um playbook para treinar, apoiar e fazer as mulheres crescerem. Passamos por várias versões – 1.0, 2.0, 3.0 – e aquele grupo se tornou o núcleo da nossa cultura de liderança. Depois, esse conhecimento se espalhou: as próprias líderes passaram a ensinar o playbook para o restante da empresa.
Esse movimento interno inspirou a criação da Solera Foundation?
Sim. Percebemos que poderíamos ampliar impacto e começamos a colaborar com organizações como a Women of Color in Automotive Network, nos EUA. Muitas líderes nunca teriam acesso à formação se não fosse essa parceria. Com isso, decidimos formalizar o projeto e criar a Solera Foundation para expandir esse efeito globalmente.
Por que focar em indústrias tradicionalmente masculinas, como seguros e de automóveis?
Porque é onde o impacto é mais urgente. Mais de 60% dos sinistros automotivos [quando um veículo com seguro sofre uma intercorrência, como uma batida de trânsito] passam pelos sistemas da Solera, e percebemos que quase não havia líderes mulheres entre nossos parceiros. Também não existia uma associação global de mulheres em seguros, então decidimos criar a primeira. Expandimos o movimento para Ásia, Europa, América do Norte e agora para a América Latina.
O Brasil entrou nesse mapa recentemente. O que encontrou aqui?
Uma desigualdade ainda muito severa, mas também uma paixão enorme, de mulheres e homens, em apoiar a liderança feminina. Foi muito encorajador ver líderes nos procurando para trazer o programa ao país. Aqui encontramos parceiros ideais para ampliar o movimento.
Como a WIINS vai funcionar no Brasil?
Vamos adaptar o modelo ao contexto local, mas sempre mantendo o espírito global. Criamos grupos de líderes mulheres que se conectam, trocam experiências e fortalecem suas redes. Isso é vital. Liderança feminina depende muito de acesso: visibilidade, mentoria e comunidade.
Haverá eventos, fóruns e presença em grandes conferências?
Sim. Vamos aproveitar eventos relevantes do setor, como o CQCS Insurtech & Inovação, o maior evento de inovação em seguros da América Latina, reconhecido como um dos principais do mundo, para trazer a perspectiva global e conectar com realidades locais. Queremos evitar a lógica de dividir para conquistar. A força vem da união: um mais um precisa ser maior que dois.
Como você compara a presença feminina no mercado segurador do Brasil com a de outros países?
Fiquei impressionada com o talento e a determinação das líderes brasileiras. O desafio agora é elevar visibilidade e profissionalização. É preciso um ecossistema inteiro, incluindo mídia, empresas e associações, para sustentar essa evolução.
Que conselho você dá às mulheres que querem crescer no mercado de seguros?
Primeiro: coloquem a máscara de oxigênio em si mesmas. Segundo: nunca comecem uma frase com “desculpa”. Na WIINS temos essa regra. Queremos que cada mulher se reconheça como valiosa. E isso inclui se permitir ter ambição, se apoiar e aceitar apoio.
E sua trajetória pessoal? Que escolhas definiram sua liderança?
Sou ambiciosa e sempre busquei ir além. Isso abriu portas, atraiu mentores e me colocou ao lado de pessoas que me ensinaram muito. Minha maior ambição hoje é retribuir: criar mais oportunidades para outras pessoas.
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