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Os desafios das mães para trabalhar durante a quarentena

60% das mães brasileiras se sentem impactadas emocionalmente por causa do isolamento social. Conciliar várias tarefas sobrecarrega as mulheres

Por Elisa Tozzi
Atualizado em 17 out 2024, 11h33 - Publicado em 8 Maio 2020, 16h00
 (Paul Hanaoka/Unsplash)
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São Paulo – Os tempos estão desafiadores para as mães. O isolamento social, que colocou a maior parte das pessoas em casa por tempo indeterminado, faz com que famílias inteiras precisem dividir o espaço do lar para trabalhar, estudar, comer, faxinar, descansar e ter algum tipo de lazer

Com isso, as mães se vêem às voltas com muitas atividades ao mesmo tempo:  responder e-mails, executar as tarefas do trabalho, participar de reuniões e, paralelamente, atuar na educação dos filhos, preparar as refeições e atender às demandas dos pequenos que, nem sempre, entendem que é hora de trabalhar.

“As mães precisam conciliar vários papéis que antes estavam organizados de formas distintas e para as quais contavam com o apoio da escola, cursos e aulas extracurriculares, além da mão de obra em casa, como babás e diaristas”, diz Jacqueline Resch, fundadora da RESCH, consultoria de desenvolvimento humano e transformação organizacional. 

Não à toa, as mães brasileiras estão abaladas psicologicamente. Um estudo feito pela Catho com 7.000 participantes mostra que 60% delas sentiram os impactos do isolamento social na saúde emocional – 79% estão mais ansiosas. E trabalhar também está difícil para essas mulheres. De acordo com o levantamento, os maiores desafios apontados pelas participantes são: conciliar trabalho, tarefas domésticas e filhos (40,5%), não ter um espaço adequado para trabalhar (23%) e não ter concentração para as atividades profissionais (23%).

Some-se a isso o fato de que as mulheres trabalham quase o dobro do que os homens em tarefas domésticas, de acordo com estudo feito pelo IBGE em 2019, e a sensação de sobrecarga só aumenta.

Mãe, professora e executiva

Equilibrar tantos pratos não é fácil. Para Milena Bizzarri, diretora de comunicação e recursos humanos da auditoria e consultoria Mazars, a questão mais complexa tem sido exercer o papel de professora. Grávida de 7 meses e mãe de dois meninos (de 1 ano e de 7 anos), ela precisa de jogo de cintura para dar conta das atividades escolares das crianças.

“A escola tem nove ou dez professores para ministrar as aulas, cuidar da disciplina das crianças em sala, entretê-las, e, de repente, tudo veio concentrado para os pais administrarem. O tempo disponível para acompanhamento das aulas não é mais após o trabalho, mas durante”, diz Milena. “Ao mesmo tempo que meu filho está tendo aula, dúvidas, ou simplesmente brincando em vez de estudar, é o mesmo momento em que eu estou trabalhando, fazendo minhas reuniões ou elaborando um relatório.”

O que ela tem feito para se fortalecer nesse momento é exercer a paciência e a autoestima, além de tentar diminuir um pouco a exigência. “A tendência é a gente se cobrar demais, cobrar demais dos filhos. No final das contas, todos estão em conflitos internos: as crianças tendo que estudar num quarto enquanto toda a família está em casa; é algo novo pra elas e tudo que elas queriam: ter a família em casa todos os dias”, diz Milena.

Ter essa flexibilidade é fundamental, de acordo com a consultora Jacqueline. “O momento é muito delicado para todos. É hora de muito acolhimento, flexibilidade, acordo e negociação”, explica a especialista.

Mais empatia

Com as rotinas viradas de ponta cabeça, as empresas (e as lideranças) precisam de mais empatia para compreender os momentos de cada funcionário. Na Mazars, Milena conta que os colegas e chefes compreendem caso ela precise remarcar uma reunião ou peça um prazo novo.

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“Temos ministrado muitas palestras para ajudar líderes a focarem no que é essencial: ser simples, evitar burocracias desnecessárias, dar suporte, estar presentes e próximos dos profissionais.  É imperativo que o gestor acompanhe os projetos diariamente para saber hoje se precisará fazer algum ajuste na equipe, não esperar o final da semana ou a data da entrega”, explica ela.

A confiança é outro ponto importante para que as mães consigam trabalhar bem durante essa quarentena. “O foco deve ser nas entregas combinadas e não na carga horária. Talvez seja uma ótima oportunidade para líderes ainda adeptos da gestão que se utiliza da lógica do comando e controle observem que a confiança pode render bons frutos. Para isso, as pessoas precisam estar comprometidas e, para estarem comprometidas, precisam ver suas necessidades contempladas”, diz Jacqueline.

Também não se pode esquecer que as pessoas – mães ou não – estão mais vulneráveis nesse momento, como pondera Jacqueline: “Não vamos esquecer que, além das tarefas concretas, há pessoas angustiadas com parentes doentes ou mesmo em luto com parentes e amigos que não foram poupados pelo vírus. Portanto está na hora dos líderes demonstrarem empatia, respeito e oferecerem acolhimento”.

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