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Demissões e desrespeito na quarentena: veja abusos de chefes e empresas

Leitores da VOCÊ S/A compartilham suas histórias de desligamentos desumanos e de pressão durante a pandemia da covid-19. Veja os depoimentos

Por Elisa Tozzi
Atualizado em 21 Maio 2020, 10h27 - Publicado em 21 Maio 2020, 06h00
 (Niklas Hamann/Unsplash)
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São Paulo – Os reflexos da crise econômica provocados pela pandemia do novo coronavírus já são sentidos pelos trabalhadores brasileiros. Muitos estão enfrentando o desemprego que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu de 11% em dezembro de 2019 para 12,2% em março de 2020 – e a expectativa é de que esse índice aumente em abril.

Como se a demissão não fosse o bastante, leitores de VOCÊ S/A relatam desligamentos conduzidos sem a menor empatia pelos empregadores, além de situações de pressão excessiva ou de assédio moral.

Com subordinados em trabalhando remotamente, líderes viciados em comando e controle estão perdendo a linha conforme mostramos na reportagem Piores empresas para trabalhar: quando o home office é o pesadelo. Os depoimentos foram enviados à redação por meio das redes sociais durante o mês de maio e os nomes dos profissionais são mantidos em anonimato para preservar suas identidades.

Leia algumas histórias a seguir.

‘Agora você vai ter tempo para cuidar do seu filho’. Foi isso que eu ouvi do meu chefe quando ele anunciou o home office.

A empresa usou a pandemia da covid-19 como explicação para me demitir e afirmou se basear na MP editada justamente para evitar demissões. Só aí caíram em contratação. Mas a empresa achou isso pouco: não pagou a multa de 40%, nem o aviso prévio, nem uma bonificação acordada com o sindicato da categoria. E o que pagaram parcelaram em 9 vezes. Isso aconteceu com 53 funcionários.

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Quando o home office começou, meu chefe  disse que não se importaria com o horário a ser escolhido por cada pessoa, desde que participássemos de todas as reuniões e fossemos produtivos. Uma semana depois, começou a exigir respostas às 8h da manhã e a nos cobrar em horários fora do expediente, com e-mails às 3h da madrugada. Além disso, ele exigiu que eu, de atestado médico por uma cirurgia da qual ele tinha conhecimento, enviasse alguns documentos que ele não encontrava. Eu já havia deixado tudo organizado antes da licença, mas ele apagou a pasta e não admitiu o erro. Tive que subir toda a documentação no meu pós-cirúrgico.

A pandemia virou justificativa para gestão ruim. Estou com o contrato suspenso e, quando minha chefia me avisou sobre isso, disse: ‘Aproveita as suas férias’. Mas não são férias! Não há pagamento de salário e a sensação de que sou descartável é enorme. Dei meu sangue para quem nem me liga para saber se estou bem. É triste ver a falta de liderança e empatia em um momento desses.

Fui demitida em uma chamada de grupo. Eram 8h e, do nada, a supervisora me manda mensagens no WhatsApp pedindo para eu entrar numa chamada de vídeo. Entrei. Lá estavam mais cinco pessoas do meu time, além da supervisora, da coordenadora e de dois diretores da área.  A coordenadora falou: ‘Estamos acompanhando a crise da covid-19 no mundo todo e vamos fazer o desligamento de vocês. A empresa vai manter o convênio médico por três meses e não vamos descontar os benefícios que vocês receberam’. Sem mais explicações. Fiquei sem entender porque fomos nós e não o colega que dormia na mesa do escritório.  Não sei se a pior parte foi ser desligada sem explicações ou se foi ser demitida em grupo. Dava pra ouvir as outras pessoas chorando, preocupadas, sem saber o que fazer.

No meu primeiro dia de home office, fui pra sala iniciar o trabalho por volta de 8h e minha filha estava na minha cama tomando o leite e assistindo televisão. Segundos depois, escutei um barulho e muito choro. Corri até o quarto pra ver o que era e vi minha filha sangrando com um corte imenso na cabeça. Precisei levá-la para o hospital onde ela tomou cinco pontos. No mesmo dia, os sócios do escritório queriam marcar uma reunião e expliquei que estava com ela no hospital. Eles ficaram sem acreditar e tive que enviar a foto do acidente. Mesmo assim, passaram o dia me cobrando trabalho, mas não consegui produzir nada e fiquei me sentindo culpada. Depois de alguns dias, resolvi pedir demissão porque eles não tiveram um pingo de humanidade em nenhum momento.

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O meu chefe tem se tornado outra pessoa nessa quarentena. Estou trabalhando remotamente há dois meses e há muita pressão e cobranças porque ele precisa mostrar mais serviço. O meu trabalho está parado durante essa quarentena e a área está focando em projetos de melhorias. Mas claramente há um abuso, com mensagens ríspidas, exposições desnecessárias, broncas em reuniões e ameaças do tipo ‘você precisa manter seu emprego’.

Fui demitido por e-mail depois de 18 anos de empresa. Foi triste.

Sou profissional da área de moda e trabalhei os últimos cinco meses numa empresa. Fiquei o primeiro mês sem registro em carteira. Quando minha contratação aconteceu, foi sem o exame médico admissional. Fui demitida em 8 de abril através de uma mensagem de WhatsApp enviada às 21h, fora do meu horário de trabalho. Além disso, a rescisão veio com um valor muito menor porque a empresa alegou que cortou os dias que fiquei em casa devido à quarentena. Minha área de atuação sofre com empresas que costumam tratar seus funcionários dessa forma. Nesse período de pandemia isso ficou ainda pior.

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