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Três perguntas para Caroline Moreira, CEO da Negras Plurais

A startup organiza mentorias, workshops, palestras e encontros para acelerar a carreira de mulheres negras, além de oferecer serviços educativos especializados para empresas.

Por Sofia Kercher
14 fev 2024, 06h00

Pessoas negras agora são maioria entre trainees (58,2%) e aprendizes (57,5%), mas seguem como minorias no quadro executivo (4,7%) e nos cargos de gerência (6,3%). Para mulheres negras, a situação é ainda mais grave: elas ocupam apenas 1,6% das funções gerenciais e 8,2% do patamar logo abaixo, os cargos de supervisão. O levantamento é do Instituto Ethos, que investigou o cenário de 117 das 500 maiores empresas do país.

A startup Negras Plurais, fundada em 2018 por Caroline Moreira, tem como um de seus objetivos mudar essas estatísticas. A empresa organiza mentorias, workshops, palestras e encontros para acelerar a carreira de mulheres negras, além de oferecer serviços educativos especializados para empresas. À VC S/A, Caroline conta como funciona o projeto. E o que vem pela frente.

Como surgiu a ideia da consultoria para mulheres negras?

Antes de fundar a empresa, eu trabalhava em uma produtora voltada para eventos de protagonismo negro, a Três Tons de Preto. Nós organizávamos eventos culturais no país todo. Quando um projeto grande caiu por terra por falta de quórum, eu decidi sair do mercado para entender o que eu queria fazer dali para frente.

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Como poderia gerar prosperidade para mulheres como eu? Como mudar o cenário de racismo estrutural, que debilita, acima de tudo, mulheres negras? Com a expertise que ganhei na produtora, decidi realizar um evento no Rio Grande do Sul voltado para mulheres negras, falando sobre carreiras e negócios em junho de 2018. Eu não esperava muita coisa, mas o evento lotou, e chegou a aparecer em jornais locais. Essa foi a semente que impulsionou a criação da Negras Plurais.

Quais serviços a Negras Plurais oferece para empresas e empreendedoras?

Temos dois. O primeiro é a consultoria a empreendedoras negras, que aprendem como acelerar suas carreiras e negócios. A ideia é pegar a linguagem comercial — explicando conceitos essenciais como captação de recursos, patrocínio, posicionamento da marca etc. — e descomplicá–la, usando a realidade da pessoa negra como centro. Antes, essas sessões eram oferecidas individualmente ou em grupos, pagando uma taxa em torno dos R$ 200. Com uma reestruturação recente, serão gratuitas.

Além disso, também prestamos consultoria para empresas. Já trabalhamos com marcas grandes como a Brastemp, Electrolux, Natura e IBM. São, no mínimo, 12 meses de serviço, 2 horas por mês. A ideia é propor atividades — que podem ser realizadas apenas com a liderança ou com todos os colaboradores — que despertem a consciência racial dos funcionários.

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Também podemos ser contratados para gestão de crise, endereçando algum episódio específico de racismo dentro da empresa.

Fale mais sobre essa reestruturação. O que vai mudar na empresa?

O serviço de consultoria será oferecido apenas mediante patrocínio, dentro da vertente social da empresa, chamada Instituto Negras Plurais. Estamos em contato com Ministérios Públicos e empresas para fazer isso acontecer.

Também estamos ampliando nossa consultoria para grandes companhias, que será o foco principal. Trabalharemos com dois dias de imersão (nesse primeiro momento ela será oferecida a líderes de dez empresas selecionadas), e depois, ao longo do ano, teremos uma série de módulos pensando especificamente para cada uma delas.

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Mais: em vez de concentrar os ensinamentos exclusivamente no racismo, focaremos no “S”, de ESG [o social, sendo que em inglês o “E” se refere a ambiental, e o “G”, a governança]. A ideia é auxiliar a construir uma companhia mais diversa, pensando em pessoas LGBTQIA+, indígenas, e com deficiência. O nome é “Brainstorm ESG”, e a primeira leva de empresas começará a imersão agora, em março.

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