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Brasil e sua mania de ter metas em aberto

País 'flexibiliza' meta da inflação e teto de gastos ao mesmo tempo. Entenda o que pode dar errado.

Por Tássia Kastner, Camila Barros
24 jun 2022, 08h20

Quando a presidente Dilma Rousseff afirmou que não iria colocar uma meta, e depois dobraria a meta, virou motivo de chacota. Isso foi em 2015. Em 2022, virou tendência.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que não vai perseguir a meta de inflação em 2023, “vai deixar em aberto”. O compromisso do BC seria de levar a inflação dos escorchantes 11,73% ao ano de volta aos 3,5% ainda em 2022. Para 2023, o alvo é 3,25%. Ou era.

Campos Neto disse que, agora, o alvo é alguma coisa abaixo de 4% ao ano. Ok, ainda estamos falando da margem de tolerância, que vai até o teto de 4,75%. Mas dizer que o objetivo não é mais o alvo central é um problema.

O Banco Central tem uma função primordial: preservar o poder de compra do dinheiro. Se a inflação sai do controle, ele não está cumprindo com a sua tarefa. Serão pelo menos três anos com os preços acima do compromisso. Uma hora, você deixa de acreditar que a inflação vai ficar controlada. Se há uma quebra de confiança, os preços começam a subir ainda antes, por precaução. 

Do lado do BC, o que ele pode fazer é subir juros. A Selic já anda em 13,25% ao ano, a maior taxa de juros desde 2017, e um novo aumento deve vir em agosto.

Subir juros significa enxugar dinheiro da economia para desacelerar a alta de preços. Todo o mundo está fazendo isso agora.

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Só que essa virou uma batalha inglória. Enquanto o BC tenta drenar dinheiro, o governo Bolsonaro continua tentando irrigar as engrenagens da economia com mais grana (e inflação).

O plano agora é subir o Auxílio Brasil para R$ 600 e pagar um “vale-caminhoneiro” de R$ 1.000, um jeito de recuperar a popularidade com quem mais sofre com a alta de preços.

O problema é a fonte de dinheiro. Bolsonaro quer driblar o teto de gastos, o instrumento que existe para evitar que os gastos do governo cresçam de maneira ilimitada. No extremo, o teto de gastos existe para que o trabalho do BC de conter a inflação não seja uma missão impossível.

Furar o teto é deixar uma meta em aberto. E depois dobrá-la, para pior. E aí a inflação tem tudo para subir sem limites. Vale lembrar que o Brasil só conseguiu ter preços civilizados a partir do plano real, quando a economia passou a ter uma meta de inflação e também regras para aumento dos gastos do governo. 

O mercado financeiro percebeu a cilada. O Ibovespa acumula cinco pregões abaixo dos 100 mil pontos, na mínima desde novembro de 2020. O dólar sobe 1,56% na semana.

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As bolsas americanas começaram o dia de bom humor, com os futuros em alta. O Brasil até pode pegar carona no movimento, após tantos dias em baixa. Mas para que seja sustentável, será preciso compromisso com as metas estabelecidas.

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humorômetro: o dia começou com tendência de alta
(VCSA/Você S/A)

Futuros S&P 500: 0,75%

Futuros Nasdaq: 0,88%

Futuros Dow: 0,65%

*8h10

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Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 1,47%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 1,32%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,81%

Bolsa de Paris (CAC): 1,85%

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*às 8h11

Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 1,17%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 1,23%

Hong Kong (Hang Seng): 2,09%

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Commodities

Brent*: 1,17%, a US$ 111,34

Minério de ferro: -3,35%, a US$ 113,90 por tonelada em Singapura

*às 8h11

Agenda

9h IBGE divulga o IPCA-15 de junho

11h EUA divulgam dados de vendas de moradias novas em junho

market facts

Secura de IPOs

Já estamos quase no meio do ano, e até agora nada de IPO na B3 em 2022. No ano passado, já tinham rolado 29 aberturas de capital no mesmo período. Ou seja: será o semestre mais fraco nesse quesito desde 2016, que também não teve nenhum – o levantamento é da Bloomberg. Além do aumento das taxas de juros ao redor do mundo e preocupações com uma possível recessão global – fatores que deixam os investidores mais avessos ao risco –, a instabilidade de ano eleitoral pode ajudar a explicar porquê as empresas não querem abrir capital agora. Além disso, os resultados das novatas não animam muito: segundo o mesmo levantamento, os preços das ações que estrearam no ano passado caíram em média 39%.

Vale a pena ler:

Dancinha bilionária

O TikTok foi o app mais baixado do mundo em 2021, e teve receita de US$ 3,9  bilhões (contra US$ 1,4 bilhão no ano anterior). E o faturamento deve triplicar neste ano, de acordo com a empresa de pesquisa eMarketer. Enquanto isso, os executivos da Meta estão apressados para desvendar e aplicar a fórmula de sucesso do TikTok, na tentativa de reviver o crescimento do Facebook e do Instagram. E o Google também está se sente ameaçado. Esta reportagem da Bloomberg examina o modelo de negócios do TikTok e explica porquê os concorrentes têm mesmo motivos para se preocupar.

Greenwashing

Não é simples saber se uma empresa é ESG para valer ou se a preocupação dela com a parte ambiental e social é só uma fachada marketeira – greenwashing. E o fato é que a dificuldade de mensurar objetivamente os investimentos de uma empresa nessas áreas acabam dando espaço para o charlatanismo empresarial. Esta reportagem do Financial Times, traduzida pela Folha, conta o caso recente de uma gestora de fundos alemã que exagerou nas próprias credenciais ESG, o que causou problemas com a polícia e levou à renúncia do CEO.

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