Para este CEO, despreparo para novas tecnologias pode afetar sua carreira

Amin Toufani, CEO da T-Labs, diz que a inteligência artificial e a renda básica universal tornariam a economia mais criativa, colaborativa e humana

Por Alexa Meirelles
Atualizado em 16 out 2024, 19h00 - Publicado em 27 Maio 2019, 06h00
Amin Toufani, CEO da T-Labs e professor na Singularity University  (Foto: Alexandre Battibugli/VOCÊ RH)
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O canadense Amin Toufani parece ter saído de uma máquina do tempo para quem o escuta falar de tecnologia, economia e mercado de trabalho.

CEO da T-Labs, empresa de inteligência artificial e blockchain com sede na Califórnia, e professor de finanças na Singularity University, uma das mais respeitadas do Vale do Silício, ele é enfático sobre o futuro: até 2030, as mudanças no mundo profissional serão rápidas e não estamos preparados para enfrentá-las.

Em visita ao Brasil para participar do Experience Club, em São Paulo, o executivo, que é formado em inteligência artificial pela University of British Columbia, no Canadá, com especialização em política econômica pela Universidade Harvard, conversou com VOCÊ  RH sobre os desafios da liderança frente à disrupção.

Para ele, quem não souber se adaptar será engolido pelo tsunami tecnológico.

Para este CEO, despreparo para novas tecnologias pode afetar sua carreiraQuais são os maiores desafios de ser um CEO no mundo de hoje?

O que costumava funcionar não funciona mais. Isso requer constante reinvenção e aprendizado. E não somos educados a desaprender. Outro desafio é encontrar membros da equipe que sejam adaptáveis.

Não temos ideia do que vamos fazer daqui a dois anos, quanto mais daqui a cinco ou dez. A única coisa que sabemos é que os profissionais precisarão se adaptar. Hoje, três coisas predizem a felicidade no trabalho: autonomia, domínio e propósito.

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A questão é que 73% das pessoas afirmam que autonomia significa trabalhar sozinho. Todo mundo comenta sobre colaboração, certo? Só que os indivíduos estão dizendo que querem trabalhar sozinhos. Esse é um problema e ninguém está falando dele.

De que maneira essas questões mudarão o  jeito como os chefes terão de lidar com os funcionários?

O papel do líder como aquele que diz para onde todos devem ir está quase desaparecendo. Um desafio muito difícil é desistir do controle exatamente o que os CEOs não querem fazer.

Mas, se você não abrir mão disso, nunca conseguirá o melhor nível de adaptabilidade de sua equipe. A liderança deve criar um ambiente seguro para as pessoas desaprenderem e se comportarem de forma adaptável.

E como você se relaciona com seus funcionários?

Eu vejo membros da minha equipe como colegas, não como subordinados. E isso significa que tenho um voto, não um veto. Eu posso ser demitido. Não de minha empresa, mas de um projeto dentro da companhia. E esse é o nível de empoderamento que acho necessário para trazer o melhor das pessoas.

Queremos capacitá-las, queremos que tenham autonomia e domínio, e isso significa ajudá-las constantemente no autodesenvolvimento e na busca de um propósito. Penso que, se você fortalecer sua equipe, poderá capturar mais oportunidades. O maior risco hoje é não pensar grande o suficiente.

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Eu quero que os profissionais estejam atentos às mudanças. Mas também quero que percebam que vivemos no período mais incrível da história humana e que eles podem criar e exceder as próprias expectativas.

Quais setores mais sofrerão para se adaptar a essas mudanças tecnológicas?

Ninguém vai ficar imune. A próxima década será lembrada por supremacias da biotecnologia, da energia, da blockchain e da inteligência artificial. Quando você pensa em todas essas tecnologias e em suas convergências, não há uma única indústria que não será afetada de maneira direta, radical e imediata. É por isso que a hora de planejar é agora.

Quer dizer que todos os profissionais serão substituídos?

Nenhum trabalho está a salvo. Por isso, precisamos pensar em duas questões. Uma delas é: existe vida depois do trabalho? Sabe como os romanos antigos responderiam a essa pergunta muito confortavelmente? “Sim, existe.”

Afinal, eles quase não trabalhavam porque tinham escravos. Talvez a inteligência artificial seja o equivalente aos nossos escravos e ela fará o trabalho. A outra pergunta é: precisamos de trabalho para definir o significado em nossa vida? Eu acredito que não.

Uma nova economia vai emergir, na qual trabalharemos para o propósito, não para a compensação. Talvez seja um mundo em que as pessoas se ajudem muito mais e promovam o senso de comunidade, família e humanidade.

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Para chegar lá, precisamos de sistemas de apoio social. E é por isso que minha equipe e eu acreditamos que até 2030 todos os países do planeta terão um debate público sobre renda básica universal.

O que isso significa?

É o conceito de dar dinheiro a todos na sociedade para cobrir suas despesas básicas. Há mais de 30 estudos que analisam o impacto que isso teria em uma comunidade. O equívoco é pensar que a sociedade se tornaria mais preguiçosa. Na verdade, em quase todos os estudos, o empreendedorismo dispararia.

Uma vez que as pessoas não estariam preocupadas com suas necessidades básicas, poderiam ir além e usar o tempo para fazer coisas criativas e surpreendentes.

Para este CEO, despreparo para novas tecnologias pode afetar sua carreiraComo os profissionais mais velhos ficam em meio a tantas transformações?

Não acredito que empresas e governos estejam preparados para o tsunami que se aproxima. Eu e minha mulher chamamos a próxima década em nosso livro [Exonomics, que será lançado em julho nos Estados Unidos] de “a grande bifurcação”.

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A mudança tecnológica vai dividir sociedades humanas, empresas e grupos de indivíduos em duas comunidades: a dos que estão se beneficiando de tecnologias exponenciais e a dos que não estão. É injusto que esse movimento aconteça baseado em idade ou habilidades.

E a verdade é que precisaremos de melhores sistemas de apoio social. Nos Estados Unidos, promovemos bem o empreendedorismo. Já na Europa a rede de segurança social é muito forte.

Mas ainda não encontramos um governo que faça as duas coisas ao mesmo tempo. Defendemos que isso poderia evitar essa “grande bifurcação”.

Nesse contexto, a graduação será dispensável?

A educação vai mudar drasticamente. Nosso sistema de ensino ainda está à imagem da Revolução Industrial. Despeja muita informação nas pessoas e não promove adaptabilidade. O conceito de graduação é engraçado. “Eu me formei e pronto.”

Acho que, em vez disso, teremos uma educação contínua, em que você nunca para. Vamos ver o começo disso com as massas que voltarão ao sistema educacional pedindo para ser retreinadas porque foram tecnologicamente deslocadas e expostas a um desemprego tecnológico.

O que funciona hoje não é necessariamente o que vai ajudá-lo daqui a dez anos. O sucesso passado não pode atrapalhar o sucesso futuro.

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