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Virou passeio: Ibovespa crava 130 mil pontos no 5º dia consecutivo de recorde

Mercado de trabalho nos EUA vai bem, mas não tanto quanto os investidores de lá esperavam. Daquele jeito improvável, foi o que ajudou a bolsa.

Por Bruno Carbinatto, Tássia Kastner
Atualizado em 4 jun 2021, 18h20 - Publicado em 4 jun 2021, 18h19

O Ibovespa parece ter aproveitado o feriado desta quinta-feira para descansar bastante – e voltar com muita disposição para bater o seu quinto recorde seguido. O índice atingiu, pela primeira vez na história, os 130 mil pontos. Ao menos teve o feriado, sabe? Depois de sete altas consecutivas, cinco recordes seguidos e valorização de 3,63% na semana, a gente nem sabe mais como contar o que está acontecendo com a bolsa. Brinks, a gente sabe, sim.

Os Estados Unidos voltaram a nos dar um empurrãozinho nesta sexta. Eles passaram a semana inteira roendo as unhas à espera de um importante dado da economia americana: o payroll. Basicamente, um relatório sobre a criação de novas vagas de trabalho e do desemprego no país. Em maio, os EUA criaram “apenas” 559 mil vagas de trabalho, um dado melhor que o de abril, abaixo da previsão de 700 mil postos. A taxa de desemprego caiu de 6,1% para 5,8%.

Economista nenhum gosta de errar previsões, mas Wall Street decidiu se apegar ao que tinha de bom nesse dado não tão positivo. Se o emprego não está bombando tanto assim, significa que a recuperação dos EUA está um pouco mais lenta do que eles estavam estimando. Isso tem uma compensação financeira. Investidores ficam descansados que o Fed, o banco central americano, vai conseguir manter sua política monetária ultrafrouxa pelo tempo planejado, com juro perto de zero – o próprio órgão declara que só vai subir juros quando o emprego voltar aos níveis pré-pandêmicos. 

O que vinha segurando as bolsas americanas era o risco de a economia dos EUA superaquecer, a inflação pegar. Isso obrigaria o Fed a subir os juros, deixando investimentos em empresas da bolsa menos atrativo. Isso é válido especialmente para as empresas de tecnologia, que vivem à base de expectativa de lucros polpudos no futuro.

Bem, sem o medo dos juros altos, as bolsas americanas voltaram a subir, e ajudaram a puxar o Ibovespa para cima junto. Quem se destacou foram justamente as techs, sendo que o índice Nasdaq, que concentra as ações de tecnologia, teve a maior alta: +1,47%. Tesla subiu 4,66%, Twitter +3,49% e Nvidia +3,63%, por exemplo.

É coisa nossa

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Apesar do empurrãozinho do otimismo ao norte, o Ibovespa já vinha muito bem sozinho, obrigado. A semana toda foi marcada pela onda de otimismo que tomou os investidores quando o PIB do primeiro trimestre foi anunciado no dia 1º deste mês. O número – 1,2% – veio acima das expectativas (0,9%), o que fez que as previsões para o ano fossem revisadas para mais de 4% de crescimento – tem gente, tipo o Goldman Sachs, falando em 5,5%. Daí para frente, só bom humor na Faria Lima.

Especificamente hoje, o começo do dia foi instável, com o Ibovespa ora caindo um pouco, ora subindo, sempre perto da estabilidade. O petróleo ajudou a consolidar o número no azul: o tipo Brent subiu 0,81%, para quase U$ 72 o barril, no maior patamar desde 2019. O tipo WTI (referência nos EUA) saltou 1,18%. A dupla levou consigo as ações da gigante Petrobras e também da Braskem (que figurou entre as maiores altas do dia). O petróleo, assim como o Ibovespa, vem de uma sequência de altas e o principal motivo é o otimismo global com a demanda pela commodity à medida que o mundo começa a se recuperar da pandemia. 

Quem não teve um bom dia foram as empresas do ramo de mineração e siderurgia, que protagonizaram as maiores perdas: Vale caiu 1,66%, Gerdau -2,78%, Gerdau Metalúrgica -3,20%, Usiminas -2,76% e CSN -2,08%. O motivo foi a queda do minério de ferro lá no porto chinês de Qingdao (-1,73%). No caso específico da Vale, outra notícia ajudou a derrubar o preço das ações: a mineradora anunciou hoje a paralisação de suas atividades no Complexo Mariana após notificação da Superintendência Regional do Trabalho para a interdição das atividades em áreas próximas à barragem Xingu. A medida reduzirá a produção em 40 mil toneladas de finos de minério de ferro, estima a empresa.

Dá para colocar na conta da Vale a alta até modesta desta sexta. O resto é que compensou: das 84 ações do Ibovespa, 52 subiram. Fica na conta de quem aposta na recuperação econômica robusta. Depende, você sabe, de algo com nome e sobrenome: vacinação em massa. Após caminhar em passos de tartaruga, o Brasil parece finalmente ter engatado num calendário mais acelerado. João Doria anunciou nesta semana que todos os adultos de São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, deverão ser imunizados com a primeira dose até o final de outubro; o Rio de Janeiro segue um planejamento parecido. Já em nível nacional, o presidente Bolsonaro prometeu, em pronunciamento acompanhado por panelaços, que todos os brasileiros maiores de idade serão imunizados até o final do ano.

A maior alta do dia, diga-se, foi a da CVC – e a indústria do turismo é uma das que mais dependem de uma vacinação massiva para se recuperar. Shoppings e setores do varejo também apresentam altas significativas na mesma linha de raciocínio (veja abaixo).

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Falando em viagem, o dólar continuou sua trajetória de queda: -0,95% nesta sexta-feira, a R$5,0356. Na semana, a queda é de 3,39%. Já dá para sonhar com a Disney, se quiser ter o mesmo otimismo da Faria Lima.

Só que, por outro lado, a Faria Lima parece estar fechando o olho para algumas inconveniências, digamos assim. Especialistas em saúde alertam há algum tempo sobre a “terceira onda” da pandemia que está se aproximando e pode vir mais como um tsunami. Pelo menos 13 estados já tem “fila de espera” para leitos da UTI” e a tendência é de aumento. Ao mesmo tempo, Bolsonaro tem sido pressionado por protestos e pela CPI da Pandemia, o que coloca seu poder político cada vez mais nas mãos do “Centrão”. Isso tudo sem falar no risco de desabastecimento de energia que ameaça o país.

Marfrig e BRF

Entre as maiores baixas do dia, duas empresas do ramo de alimentos foram as protagonistas: a Marfrig e a BRF (dona da Perdigão e da Sadia). Acontece que a Marfrig confirmou que comprou mais ações da BRF e aumentou sua participação  total para 31,7% do capital. 

O mercado viu isso acontecendo ao longo das semanas, com leilões das ações da BRF durante o pregão. A demanda da Marfrig, que já dura duas semanas, levou as ações da BRF a subirem nos últimos dias (a alta da semana foi de 11,26%). 

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Tudo certo, só que agora a festa parece ter acabado. O estatuto da BRF diz que, se um acionista atingir 33,3% de participação, ele obrigatoriamente deve fazer uma oferta para comprar o restante (esse mecanismo se chama poison pill e existe justamente para evitar que alguém passe a controlar uma empresa “na marra”). Como a Marfrig já chegou muito perto desse percentual, quase não tem mais margem para continuar comprando – o que limita a forte demanda pelos papéis da empresa que vinha puxando a alta. Restou aos investidores realizar os lucros nesta sexta-feira e esperar as cenas dos próximos capítulos.

Que é, como estamos todos, para o Ibovespa no geral, né? Haverá um limite para a alta da bolsa brasileira? Bom tema para pensar no final de semana. Bom descanso e até segunda.

 

Maiores altas

CVC: +7,41%

Braskem: +5,35%

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Iguatemi: +5,02%

Multiplan: +4,80%

BR Malls: +4,35%

Maiores baixas

Gerdau Metalúrgica: -3,20%

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Embraer: -3,14%

Gerdau: -2,79%

Usiminas: -2,76%

BRF: -2,48%

Ibovespa: +0,40%, aos 130.125 pontos

Em NY:

S&P 500: +0,89%, aos 4.229 pontos

Nasdaq:+1,47%, aos 13.814 pontos

Dow Jones: +0,52%, aos 34.757 pontos

Dólar: queda de 0,95%, a R$ 5,0356

Petróleo

Brent: alta de 0,81%, aos US$ 71,89

WTI: alta de 1,18%, a US$ 69,62

Minério de ferro: queda de 1,73%, a US$ 207,35 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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