Xi Jinping sempre deixou claro que queria evitar bolhas no preço do minério de ferro – matéria-prima que seu país importa vorazmente (1 bilhão de toneladas por ano, a mais de US$ 100/ton a preços correntes). E agora esse objetivo está mais próximo.
A China criou neste ano uma mega estatal voltada a concentrar boa parte das compras de minério de ferro. É o Grupo de Recursos Minerais da China (CMRG, na sigla em inglês). De acordo com o site Mining.com, ela será maior do que a encomenda. Irá representar sozinha as 20 maiores siderúrgicas da China.
Como comprador de volumes mastodônticos, o CRMG terá um poder de barganha nunca antes visto, o que vai pressionar para baixo o preço do minério. Péssima notícia para o Brasil. E que colaborou para a queda de 1,71% da Vale, e de 0,85% no Ibovespa. Na semana, marcada pela nomeação de Aloizio Mercadante para o BNDES, grossos 4,34%.
Mas não foi só isso, claro. NY sucumbiu de novo ao fantasma dos juros altos a perder de vista, que tornam cada vez mais provável um cenário de recessão global para 2023.
Historicamente, os EUA passam 11 meses sob um patamar elevado de juros até que o Fed comece os cortes.
Diante desse fato, a diretora do Fed Mary Daly comentou: “Acho que 11 meses é um bom ponto de partida. Mas estou preparada para mais do que isso se for preciso”. O mercado, então, sentou na escada e ficou olhando para a parede. Tombo de 1,12% no S&P 500. Na semana, -2,08%.
IPCA+Mercadante
Por aqui, o mercado de juros é que respondeu com mais força ao efeito Aloizio. E segue respondendo. O IPCA+ 2026 chegou nesta sexta a 6,53% – maior taxa de sua história. O 2035 tinha chegado a 6,37% no dia da nomeação. Aí ensaiou um recuo para a casa dos 6,20%, mas voltou a subir, marcando 6,33%.
Rentistas do mundo, uni-vos.
O curioso caso da Marfrig
Ontem a Marfrig visitou um território por onde não andava havia tempos: o ranking de maiores altas do Ibovespa. Motivo: o frigorífico de Marcos Molina anunciou o pagamento de dividendos rechonchudos: R$ 0,909518 por ação. R$ 0,91, basicamente.
Rechonchudos porque, um dia antes, os papéis tinham fechado a R$ 7,16. Para quem comprou nesse dia, os R$ 0,91 sozinhos representam um dividend yield (DY) de 12,7%.
A empresa já tinha pagado R$ 0,75 em dividendos neste ano. Só que aí o yield foi menor. No dia 11 de agosto, véspera do anúncio desse provento, o papel valia 14,30. Ou seja, um ganho de 5,2% para quem comprou imediatamente antes de o anúncio dos dividendos colocar o preço para cima – chegaria a R$ 15,51 no dia 19/08, o último dia em que a compra do papel dava o direito a receber esse provento (a essa altura com um DY mais mirrado, claro, de 4,8%).
Bom, ontem a Marfrig subiu 4,95% (maior alta da quinta) na esteira dos novos dividendos. Hoje, mais 1,57%. As ações fecharam esta sexta em R$ 7,76. E o yield segue atraente: 11,7%. A data final para comprar com direito ao provento é a segunda agora, dia 19. A partir do 20 ela passa a ser negociada ex-dividendos.
O caso da Marfrig é bem particular. O papel tombou mais de 70% desde o pico (de R$ 27,70, em outubro de 2021). O tal pico veio após dois balanços maravilhosos: 1,7 bilhão de lucro no 2T21 e 1,6 bilhão no 3T21 (neste último caso, 148% acima do mesmo período do ano anterior, que já tinha sido bom).
Na época, a Marfrig surfou na onda da matéria prima barata nos EUA, seu maior mercado. A pandemia diminuiu a demanda dos frigoríficos americanos. Começou a sobrar boi gordo, e os preços foram ao chão. Comprando barato e vendendo caro (a carne vermelha para o consumidor subiu 20% nos EUA ao longo de 2021) a companhia passou exibir lucros de arregalar os olhos.
De lá para cá, porém, a realidade mudou. Passou a faltar boi. O preço do gado subiu 50%, e segue em ascensão. Aí os lucros diminuíram: R$ 109 milhões no 1T22 e R$ 431 milhões no 1T21.
Mas ei: cadê o 2T22? Então. O lucro reportado ali foi uma brutalidade: R$ 4,2 bilhões. Mas tinha um detalhe. O grosso desse bolo (R$ 3,8 bilhões) veio de uma inclusão contábil: Alocação do Preço de Compra (PPA na sigla em inglês) relativa à compra de 33% da BRF. É que, quando uma empresa compra parte de outra, o valor desses novos ativos entra em seu balanço patrimonial (quem faz o cálculo é sempre uma consultoria independente). E a entrada rolou no balanço do segundo trimestre deste ano.
Fora esses R$ 3,8 bilhões, então, o lucro da empresa foi de mais mundanos R$ 400 milhões no 2T22. Com o que conta para o cálculo de P/L é o lucro contábil todo, com os R$ 3,8 bi no bolo, a ação é hoje uma das mais baratas do mundo, co P/L abaixo de 1. Deixando de fora o lançamento contábil do PPA, esse P/L estaria em 3 – ainda baixíssimo. Ou seja: o mercado teme que as margens da empresa sigam pressionadas pela alta do boi gordo nos EUA. Mas, claro, só o futuro dirá se esse desconto está exagerado ou não.
Vale o mesmo para todo o mercado de ações. No mundo inteiro.
E é isso. Que você tenha um fim de semana sem recessão.
Maiores altas
Dexco (DXCO3): 3,44%
Energisa (ENGI11): 1,90%
Marfrig (MRFG3): 1,57%
Banco do Brasil (BBAS3): 1,47%
Maiores baixas
Magalu (MGLU3): -9,23%
Americanas (AMER3): -7,89%
CVC (CVCB3): -7,58%
Pão de Açúcar (PCAR3): -6,04%
Gol (GOLL4): -5,40%
Ibovespa: -0,85%, aos 102.855 pontos.
Em NY:
S&P 500: -1,12%, aos 3.852 pontos
Nasdaq: -0,97%, aos 10.705 pontos
Dow Jones: -0,85%, aos 32.920 pontos
Dólar: 0,41%, a R$ 5,29; na semana, 0,92%
Petróleo
Brent: -2,67%, a US$ 79,04; na semana, alta de 3,9%
WTI: -2,22%, a US$ 74,46; na semana, alta de 4,8%
Minério de ferro: 0,49%, a US$ 117,70 a tonelada na bolsa de Dalian