Um protesto, uma Copa, uma seca e um novo recorde do Ibovespa
Bolsa brasileira supera 126 mil pontos pela primeira vez, enquanto o país se tornava sede da Copa América com a terceira onda da pandemia batendo à porta.
Não é só o WhatsApp que ganhou a função acelerar: o Brasil tá no mesmo ritmo. Enquanto o país ainda digeria os protestos contra o governo Bolsonaro, foi anunciado que a Copa América será sediada no Brasil. Em um primeiro momento, essas notícias não têm ligação direta com a bolsa de valores, que, por sinal, bateu novo recorde nominal nesta segunda após romper pela primeira vez o patamar simbólico de 126 mil pontos. O que conta é o estado de ânimo do país.
Do começo: a adesão aos protestos, que ocorreram em dezenas de capitais tem como consequência direta o enfraquecimento político de Bolsonaro, o que resulta em uma conta maior a pagar ao Centrão, caso deseje aprovar reformas. Só que o presidente não é muito dado a reformas. Nesta segunda, o Broadcast revelou uma conversa entre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e Paulo Guedes. Nela, o ministro teria dito que Bolsonaro não quer a reforma administrativa e não trabalhará pelo projeto.
O Ibovespa ignorou a notícia negativa para as contas públicas lá na frente, talvez concentrada no retrovisor. Mais cedo, o Banco Central anunciou que a dívida bruta do governo caiu 2,2 pontos percentuais em abril, para 86,7% do PIB (Produto Interno Bruto).
Foi assim que o índice subiu 0,52%, a 126.215,73 pontos. Dessa vez ele foi sozinho, já que as bolsas de Nova York não abriram nesta segunda. Os americanos celebraram hoje o Memorial Day, em homenagem aos mortos de guerra.
Isso significa também que o volume de negócios foi menor, o que ajuda a sustentar a alta. O volume total negociado ficou em R$ 21 bilhões, ante média diária de R$ 35 bilhões neste ano.
Bem, a gente também pode dizer que ficou todo mundo ocupado com o anúncio da Copa América no país. O evento esportivo está marcado para começar no dia 13 de junho, mas a Conmebol desistiu de realizar os jogos na Colômbia, por causa dos protestos contra o governo, e na Argentina, por causa do agravamento da pandemia. A entidade até tentou transferir os jogos para os Estados Unidos, mas foi rejeitado.
O governo brasileiro nem pestanejou. Respondeu de bate-pronto que aceitaria, resta saber em quais estados. Isso apesar dos mais de 460 mil mortos pela pandemia no país, a iminência de uma terceira onda da doença e todo o debate sobre a crise hídrica que ameaça o país com blackouts. Nada como o futebol para tentar distrair o povo, não é mesmo?
A partir de amanhã a sua conta de luz ficará mais cara. A bandeira tarifária, aquela que ajuda a pagar a conta da geração de energia elétrica a partir de usinas térmicas, irá para o nível máximo (bandeira vermelha 2). E esse nem é o maior dos problemas. O país entra na estação seca com o nível dos reservatórios de água tão baixos que especialistas discutem a necessidade de racionamento para evitar blackouts nos horários de pico. Quer dizer, mesmo ligando as térmicas, ainda pode faltar energia. E com um risco adicional: que a crise energética dificulte a retomada da economia depois que a vacinação avançar, aquilo que a gente torce que ocorra no segundo semestre.
Enquanto isso, o governo se vira como dá. A principal estratégia tem sido o acionamento das usinas térmicas, o que explica a alta das ações da Eneva nesta segunda. Ela é uma das principais do setor. Por outro lado, as geradoras de usinas hidrelétricas estão sofrendo na bolsa porque, bem, terão menos matéria-prima (a água) para produzir energia. Isso explica as quedas da Equatorial, da Copel.
Cosan
Mas a maior alta do dia foi da Cosan, por um motivo muito particular. A companhia anunciou que o fundo Atmos fará um investimento de R$ 810 milhões na Compass, a subsidiária de gás e energia (que é dona de uma parte da Comgás, em São Paulo). A Compass foi criada pela Cosan no ano passado para fomentar investimentos na área de gás na esteira da abertura do mercado prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Para frente é que se anda
No fim, o Ibovespa terminou maio no positivo, emendando três meses de alta. Apesar de tudo. Agora, o mercado financeiro deve colocar uma dose extra de otimismo nas previsões para o Ibovespa no fim do ano. Mais casas de análises, bancos e corretoras apostam que o índice deverá ficar entre 140 mil e 150 mil pontos, o que dá uma valorização adicional de 19% até dezembro.
A justificativa é o crescimento maior que o esperado do PIB. Nesta terça, o IBGE divulgará os dados do primeiro trimestre. A ver como a economia brasileira se virou na segunda onda da pandemia. Até amanhã.
MAIORES ALTAS
MAIORES BAIXAS
Ibovespa: +0,52%, a 126.215,73 pontos
Nova York: sem negociação
Dólar: +0,25%, A R$ 5,2249
Petróleo
WTI: US$ 66,91 (+0,59%)
Brent: US$ 69,32 (+0,87%)
Minério de Ferro
+4,37%, a US$ 198,83 a tonelada no porto de Qingdao