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Tesouro IPCA+ agora rende 6% ao ano: vale a pena investir?

Rendimento disparou após a combinação de PEC Kamikaze e altas de juros pelo mundo. Entenda o que esperar dos títulos públicos.

Por Tássia Kastner, Camila Barros
Atualizado em 6 jul 2022, 09h47 - Publicado em 6 jul 2022, 08h08
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 (Guido Mieth/Getty Images)
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Taxa tão polpuda não se via desde 2018. O Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035 voltou a pagar 6% ao ano. É rendimento dos sonhos para quem pensa em turbinar a poupança de longo prazo. 

Em termos práticos, significa o seguinte: se você colocar R$ 10 mil lá, vai tirar R$ 21 mil e uns cascalhos quando 2035 chegar. Isso é o rendimento real, acima da inflação, que é aquilo que realmente importa. A parte “IPCA” do título faz o trabalho de manter o poder de compra do seu dinheiro.

Só que a regra é clara. Só ganha 6% ao ano se colocar o dinheiro lá e não mexer mais até o dia que o Tesouro devolver o seu dinheiro com o ganho.

Isso acontece porque as taxas dos títulos públicos mudam todos os dias. No começo do ano, esse mesmo Tesouro IPCA+ pagava ao redor de 5,20% ao ano. Menos do que hoje. Se você tivesse investido no começo do ano, já não acharia o rendimento tão interessante. Que tal vender e comprar de novo, com a taxa maior?

Bem, se você tentar fazer isso, ninguém vai topar levar o seu investimento para ganhar “míseros” 5,20%, já que agora é possível conseguir um rendimento mais generoso. Daí que, se você precisa vender com desconto – sai no prejuízo. Mas, se mantiver o investimento até o fim, tudo certo. Seus 5,20% estão garantidos. A gente explicou o passo a passo aqui, ó.

E essa mudança não acontece só de um mês para o outro, mas de um dia para o outro. Quando você compra um título público, está emprestando dinheiro para o governo. E a taxa de juro é maior ou menor, conforme você tem mais ou menos confiança que a mãe Tesouro devolverá seu dinheiro de volta como combinado.

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E a confiança em receber a grana de volta é inversamente proporcional ao apetite do governo de ser mais gastão. E aí chegamos ao motivo para o Tesouro estar com taxas de juros tão altas. Na semana passada, o Senado aprovou, com o apoio do governo Bolsonaro, uma proposta de aumento de gastos que ganhou o apelido de PEC Kamikaze. A Proposta de Emenda à Constituição abre a torneira do populismo para tentar alavancar a popularidade de Bolsonaro, que está na lama. O projeto libera dinheiro para turbinar o Auxílio Brasil (o novo Bolsa Família, que não fez cócegas nas intenções de voto do presidente) e ainda para um Bolsa-caminhoneiro e um Bolsa Taxista, duas categorias que faziam parte base de apoio do ocupante do Planalto, mas que agora penam com a alta dos combustíveis.

Os picos recentes na rentabilidade dos títulos públicos coincidem com períodos eleitorais – e outras crises políticas. Em 2018, o auge foi lá por agosto, na mesma faixa de 6% ao ano. Em 2016, o mesmo Tesouro IPCA 2035 bateu a marca de 7,80% ao ano. Ali, investidores calculavam os riscos de impeachment enquanto o Congresso armava uma série de pautas-bomba – com aumento de gastos públicos.

Em 2014, Dilma Rousseff estava em plena campanha à reeleição, e também abria a torneira de gastos.

Gráfico de rendimento do Tesouro IPCA+ 2035
(Reprodução/Você S/A)

Mas trata-se, também de uma confluência astral. Em 2018, não havia apenas o período eleitoral no Brasil. Naquela época, o Fed (o banco central dos EUA) estava subindo a taxa de juros do país para a faixa de 2,5% ao ano pela primeira vez desde a crise de 2008. Foi um desalinhamento de chacras nas finanças internacionais. O juro mais alto por lá faz investidores baterem em retirada de países mais arriscados, o que obriga o Tesouro a pagar mais juros se quiser reter investidores por aqui.

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Foi no final de 2015, por sinal, que o Fed subiu a Selic americana pela primeira vez desde a crise de 2008. E, em 2014, a economia global vivia uma ressaca que derrubou os preços do petróleo e arrebentou as finanças públicas justamente quando o governo queria gastar mais. 

Dito isso, vale a pena comprar Tesouro IPCA+ agora ou a taxa vai subir ainda mais?

Depende. Se a irresponsabilidade fiscal do governo parar onde está, talvez os juros estejam perto de um teto. E se a economia global de fato começar a desacelerar, também. O problema é que ninguém tem bola de cristal para responder a essas duas perguntas.

Uma coisa é certa. Rendimento de 6% ao ano é para garantir a aposentadoria.

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