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Tesla quer “guerra de preços” com outras montadoras

A empresa de Elon Musk diminuiu o preço de seus carros seis vezes só neste ano, sacrificando margens de lucro em troca de market share. Agora, eles estão mais baratos que a média dos carros americanos.

Por Bruno Carbinatto
12 Maio 2023, 06h24

Para além das polêmicas no Twitter, Elon Musk comprou com força uma nova briga, desta vez na Tesla. A montadora vem diminuindo agressivamente o preço dos seus modelos para os menores níveis históricos, em busca de novos clientes.

Só nos quatro primeiros meses deste ano a Tesla já cortou o preço dos seus carros elétricos seis vezes nos EUA. Com isso, o Modelo Y – o veículo do tipo mais vendido no mundo – agora custa US$ 46.990 por lá, uma redução de quase 30% desde o começo do ano.

O produto ficou mais barato que o preço médio dos carros americanos em cerca de US$ 700. E nem é o veículo mais em conta da Tesla. O preço do Model 3, veículo mais modesto da linha, caiu para US$ 39.990.

Cortes também ocorreram em outros locais, incluindo China e Europa. A estratégia é clara: sacrificar a margem de lucro em troca de market share num mercado cada vez mais competitivo.

Fica visível nos resultados da empresa. No primeiro trimestre deste ano, a Tesla entregou um recorde de 422.875 veículos para clientes mundo afora, um aumento de 36% na comparação anual. A receita subiu 24%, para US$ 23,3 bilhões.

O lucro, por sua vez, caiu 24%. Os menores preços explicam: a margem operacional, importante mediador de lucratividade, retraiu dos 19,2% do ano passado para os atuais 11,4%.

Segundo Musk, a estratégia é sacrificar lucro conquistando mais clientes para, no futuro, recuperá-lo vendendo softwares para seus carros, inclusive os de automatização na direção. Além de fidelizá-los: a pessoa que começa com um Model 3 pode uma hora trocar por um Model Y, ou por um Model X (US$ 120.990). Algo à la Apple: vender muitos celulares para depois lucrar com as vendas na Apple Store, e com as eventuais atualizações para modelos mais caros.

Muitos duvidam do plano. Elon Musk, porém, insiste que a estratégia – que ele nega ser uma “guerra de preços” – é a correta e vai continuar. O objetivo é entregar 1,8 milhão de veículos este ano, 37% a mais do que em 2022.

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Joga em prol da pioneira o fato de que suas margens ainda estão acima de outras gigantes do mercado, que sofrem com custos altos ao tentar navegar no mundo dos elétricos. A margem operacional da Ford foi de cerca de 4% em 2022, e a da General Motors, 6,6%, segundo a consultoria FactSet.

Por enquanto, as concorrentes têm evitado entrar de cabeça na briga dos preços. Mas estão de olho. O italiano Luca de Meo, CEO da Renault, disse que a empresa vai “resistir” aos cortes e que a montadora tem que focar em fazer mais dinheiro, de outra forma o negócio “não será saudável”. Quando perguntada qual será o foco da GM diante do cenário, a CEO Mary Barra foi enfática: aumentar a lucratividade.

No ano, as ações da Tesla sobem 27% até o final de abril. É uma recuperação em relação a 2022 – pior ano da história dos papéis, com queda de 65%. No acumulado de 12 meses, caem 46%.

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