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A queda e a ascensão da Tesla

A montadora perdeu quase US$ 1 trilhão em valor de mercado após suas ações terem caído 70%. Mas o último balanço deixou o mercado mais confiante, e deu um boost nos papéis. Ainda vale apostar na montadora de Elon?

Por Alexandre Versignassi
10 fev 2023, 06h53

O noticiário de trivialidades econômicas começou 2023 com uma anedota: a de que Elon Musk se tornou “a primeira pessoa da história a perder US$ 200 bilhões”. Natural. O grosso da fortuna do aspirante a marciano está em ações da Tesla, e a montadora perdeu US$ 900 bilhões em valor de mercado desde o pico, em abril de 2021, até o final de 2022.

E isso nos leva ao que interessa: a Tesla virou um mico? Resposta curta: não. Primeiro, todo o mercado concorda que houve uma bolha lá atrás. No pico, a montadora chegou a um valor de mercado de US$ 1,29 trilhão. Enquanto isso, a Toyota, primeira colocada em produção e faturamento, US$ 215 bilhões. A Volkswagen, segunda colocada, US$ 160 bilhões. Ou seja: o mercado esperava que, um dia, a Tesla lucraria três vezes mais do que as duas maiores montadoras da Terra juntas. Haja otimismo.

A queda simplesmente colocou o valor de mercado da Tesla num patamar menos surrealista: R$ 388 bilhões. Ainda é alto, sem dúvida, só que a montadora tem respondido com um crescimento sólido. Em 2021, produziu 936 mil carros. Em 2022, 1,31 milhão. E o lucro cresceu 77%, de US$ 5,5 bilhões para US$ 12,6 bilhões.

Ainda é um patamar distante das maiores. A Toyota fez US$ 27,1 bilhões nos últimos 12 meses (entre o 3T21 e o 3T22, data dos últimos resultados de ambas até o fechamento desta edição). A Volkswagen, US$ 24,8 bi.

Mas tem uma diferença pesada aí. A produção anual da Volkswagen está em 8,3 milhões de automóveis. A da Toyota, em 9,2 milhões. A japonesa e a alemã, então, lucram US$ 3 mil por carro. A Tesla, US$ 9,6 mil. A Tesla se dá a esse luxo, em parte, porque o número de encomendas ainda é maior do que aquilo que a empresa consegue produzir.

Mas esse cenário pode estar mudando. Entre dezembro e janeiro, ela anunciou uma redução maciça de preços, de até 20%. Elon mesmo já disse que, vendendo a preços altos, “você reduz de forma exponencial o número de pessoas que podem comprar os seus carros”. Com o corte, o modelo mais em conta da Tesla passou a custar o equivalente a R$ 225 mil nos EUA. Os elétricos mais baratos de outras montadoras, menos requintados e eficientes, não saem por menos R$ 180 mil. Ou seja: o corte também pode significar a busca por um público “exponencialmente” maior agora que a Tesla consegue produzir mais.

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O mercado também renovou suas apostas em janeiro, após a divulgação dos resultados de 2022. A ação subiu 40%, elevando o valor de mercado ao norte dos US$ 500 bilhões. Isso corresponde a 40 vezes o lucro anual. Por essa métrica, Toyota (10x) e Volkswagen (4x) estão bem mais baratas. Mas quem cresce aí é a Tesla.

E a pergunta de US$ 1 trilhão é: até onde pode ir tal crescimento? Com todas as montadoras ampliando ferozmente seu portfólio de elétricos, o mercado fica mais duro. Principalmente entre os modelos mais caros, de maior margem, porque a concorrência aí é com Mercedes, BMW, Jaguar, Porsche… Todas já oferecem elétricos capazes de brigar com os Teslas topo de linha. Talvez Elon devesse de fato se preocupar menos com o Twitter, porque a guerra dessa nova era da indústria automotiva está só começando.

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