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Tensão pré-Powell joga a bolsa no buraco

Ibovespa tomba 0,94% na esteira do resto do mundo, que espera chorando pelo discurso do presidente do Fed em Jackson Hole.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 21 out 2024, 10h23 - Publicado em 24 ago 2023, 17h35
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 (Kauan Machado/Fotos: Getty Images/VOCÊ S/A)
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A espera pelo discurso de Jerome Powell em Jackson Hole não está fácil. O presidente do Fed só fala amanhã, mas a onda de pessimismo com os rumos dos juros americanos se alastra. Queda de 0,94% no Ibovespa, acompanhando o mercado internacional: lamentáveis -1,35% no S&P 500 e -1,87% na Nasdaq (mesmo a Nvidia, que abriu em alta de 4%, após registrar um lucro fabuloso, fechou em meros 0,10%, e já virou para o vermelho no aftermarket). Mais cedo, o índice europeu Stoxx 50 tinha fechado em nada alvissareiros -0,81%.  

Pausa cultural: Jackson Hole não é uma cidade. É um acidente geográfico: um vale entre duas cadeias de montanhas no Wyoming, estado ao norte do Colorado e a leste de Idaho. Todo ano, presidentes de bancos centrais de vários países, entre outras autoridades econômicas, se reúnem no Jackson Lake Lodge, um hotel  (R$ 2 mil a diária) encravado num parque nacional. E discursam para seus pares, e para o planeta. 

Amanhã, a partir das 11h05, Powell sobe no palco. O mundo das finanças, então, ficará em silêncio para ouvir se dali sai alguma perspectiva mais sólida sobre a caminhada dos juros nos EUA – atualmente em adiposos 5,5%, a maior desde 2001.  

No ano passado, a fala de Powell durou só 10 minutos. A inflação americana estava em 8,5% (ainda próxima do pico desta era econômica – 9,1%, em junho de 2022). E os juros só começavam sua escala ainda em 2,5%. Mesmo assim, havia gente insana o bastante para achar que Powell viria com um discurso dovish. Mas ele foi gaviônico (ou gavioso – traduza “hawkish” com quiser). O fato é: com a lógica e o cuidado de sempre, Powell disse que “em algum momento, depois de termos apertado ainda mais a política monetária [subir os juros], será apropriado reduzir o ritmo de aumentos”. Em outras palavras: “Vamos apertar até doer”.

Bastou para o S&P 500 desabar 3,4% naquele dia. 

A situação agora é outra, sempre vale lembrar. O placar hoje é Inflação 3,2% X 5,5 Juros, uma reviravolta ante o Inflação 8,5% X 2,5 Juros de um ano atrás. 

A alta no “IPCA+” dos EUA   

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Mesmo assim, a esperança com a sinalização do fim da curva de alta tem minguado. Há dados que corroboram para essa visão, sem dúvida. Nesta quinta, o Tesouro americano lançou US$ 8 bilhões em títulos de inflação com vencimento em 30 anos (é um “IPCA+” deles, chamado TIPS) . No final do ano passado, a taxa de juro real do TIPS (ou seja, o montante que ele paga além da inflação) era de 1,02%. Os títulos novos chegaram pagando CPI+1,97%, quase o dobro. Ou seja: o mercado acredita em juros num patamar alto por um bom tempo. 

O termômetro do CME Group indica a mesma coisa. Até ontem, 88% dos analistas pesquisados pela instituição acreditavam na manutenção dos juros na próxima reunião do Fomc, daqui a 27 dias. Esse percentual baixou para 80,5%. Quem saiu dessa, engrossou o grupo que acredita numa nova alta, de 0,25% pp. Ontem, eram 12%. Hoje, 19,5%. Dureza.     

Também não ajudou aquela estatística de toda quinta-feira, a do número de pedidos de entrada no seguro-desemprego. Na semana passada, foram 240 mil pedidos. Nesta, caiu para 230 mil – abaixo das previsões, que apontavam para a manutenção lá dos 240 mil. Bom para quem trabalha, ruim para quem investe. Um mercado de trabalho forte libera o Fed para seguir com os juros lá no alto por mais tempo, de modo a perseguir a meta de 2% para a inflação, sem o temor de que isso cause uma recessão. 

Sem grandes perspectivas de queda para os juros americanos, a renda variável sofre no mundo inteiro. Em agosto, até agora, investidores estrangeiros retiraram R$ 10,8 bilhões do Ibovespa, baixando o saldo positivo no ano para pífios R$ 13,3 bilhões.

Por conta disso, uma das maiores quedas na bolsa foram das ações da… própria bolsa. B3SA3 fechou em -3,59% 

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Com juros altos lá fora, também diminuem as perspectivas de longo prazo para a redução por aqui (ainda que o Banco Central já tenha cantado três novos cortes de 0,5 pp para daqui até o final do ano). A taxa do IPCA+2035, por exemplo, subiu hoje para 5,26%, ante 5,23% de ontem. Para quem tem o título na carteira, isso significa uma perda de 0,30% – bastante para um dia em se tratando de renda fixa.  

E tem o dólar. Quanto mais tempo a curva de juros altos durar por lá, mais força a moeda americana ganha (você precisa delas para comprar títulos públicos dos EUA, logo, a demanda aumenta. Hoje a alta foi de 0,51%. E a perspectiva para o futuro próximo não é das melhores. Logo, empresas mais sensíveis a escaladas do dólar sofreram mais neste pregão, caso de Gol, Azul e CVC (veja abaixo). Mas o fato é que as quedas foram generalizadas mesmo. Da 86 ações ações do Ibovespa, 68 fecharam no vermelho.    

Bom, agora é ver se Powell diz algo amanhã capaz de animar as bolsas. Que baixe o santo no hômi. 

MAIORES ALTAS

Raízen (RAIZ4): 3.32%

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Alpargatas (ALPA4): 2,28%

IRB (IRBR3): 2,02%

Eletrobras ON (ELET3): 1,39%

Eletrobras PN (ELET6): 1,38%

MAIORES BAIXAS

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Azul (AZUL4): -5,31%

Gol (GOLL4): -4,57%

Grupo Soma (SOMA3): -3,96%

CVC (CVCB3): -3,95%

B3 (B3SA3): -3,59%

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Ibovespa: -0,94%, aos 117.025 pontos. 

Em Nova York:

S&P 500: -1,35%, aos 4.376 pontos

Nasdaq: -1,87%, aos 13.463 pontos

Dow Jones: -1,09%, aos 34.098 pontos

Dólar: 0,51%, a R$ 4,88

Petróleo

Brent: 0,17%, a US$ 83,36

WTI: 0,20%, a US$ 79,05

Minério de ferro: 0,86%, a US$ 111,41 por tonelada em Dalian

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