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Superquarta vira superquinta: Ibovespa +1,59%

Bolsa brasileira ignora “ameaça” de mais pagamentos de auxílio emergencial neste ano e fica com o otimismo lá de fora. O alerta vermelho ficou nas taxas de juros.

Por Tássia Kastner, Bruno Carbinatto
23 set 2021, 18h36

A superquarta, quem diria, virou uma superquinta. É que o afago de Jerome Powell aos mercados ontem agradou tanto que o apetite por risco seguiu em alta. O S&P 500 subiu mais de 1% pelo segundo dia seguido, puxando também o nosso Ibovespa para uma alta portentosa.

O Banco Central americano anunciou ontem que pretende começar o tapering, o movimento de retirada de estímulos à economia, em novembro. Mas garantiu que o processo vai ser leve e gradual e respeitar a recuperação da economia. Todo mundo sabia que, uma hora ou outra, o Fed teria que diminuir o seu ritmo de compra de títulos que injetam US$ 120 bilhões por mês no mundo. A grande questão era quando, e com que velocidade, isso aconteceria.

Foi como rivotril. Se o Fed tirar o dinheiro, é porque a economia vai bem e as empresas vão lucrar como nunca. Bora comprar ações. Se a coisa não estiver tão bem assim, a grana segue pingando. Bora comprar ações. É ganha-ganha.

Hoje, inclusive, saiu uma notícia pró torneiras de dinheiro abertas. O número de novos pedidos de auxílio-desemprego, um dado liberado semanalmente, foi de 351 mil, acima da expectativa de 320 mil. Isso pode dar sinais de que a recuperação ainda está tropeçando e convencer o Fed a ser mais generoso na ajudinha.

China

Se as Bolsas continuaram a subir, agradeça também à China. Faz só três dias que o mundo se via ameaçado por um novo Lehman Brothers, mas agora os ânimos serenaram. É que o governo chinês finalmente quebrou o silêncio. Ele continua pouco disposto a salvar a empresa, mas está agindo para evitar um estrago.

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Primeiro ele apertou a empresa bem ao estilo chinês, obrigando-a a pagar parte de suas dívidas em dólar no curto prazo. Depois, começou a alertar governos locais para protegerem a economia caso a Evergrande quebre, como proibir demissões. E, por fim, o regime injetou US$ 17 bilhões no sistema financeiro do país para acalmar o mercado, a maior intervenção desde janeiro de 2021. Se a companhia realmente falir, os bancos terão alguma grana em caixa para atravessar o período mais duro da crise sem um efeito cascata.

Simbolismo

O Partido Comunista Chinês tem resistido a salvar a Evergrande porque quer usá-la como um símbolo. Desde o final do ano passado, ele vinha pressionando para que empresas do setor reduzissem suas dívidas.

Símbolos são importantes. A B3 não tem negociações viva-voz há mais de uma década, mas o prédio é um marco. Tanto que nesta quinta ele foi tomado por manifestantes, em um protesto organizado pelo Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST). O grupo reclamava de desemprego, inflação e fome. Eles acessaram a área aberta para visitação em um protesto pacífico que durou pouco mais de uma hora.

Obviamente não afetou as atividades da bolsa.

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Inflação

Claro que a Faria Lima acompanhou o protesto. Mas importante mesmo era outra coisa. Na noite de ontem, o BC decidiu subir a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 6,25%. Era o esperado. O lance é que a inflação não dá sinais de arrefecer, e o BC já contratou mais 1 p.p. para a próxima reunião, no final de outubro.

Nisso, as ações dos bancos dispararam, já que eles ganham dinheiro com juros. O resultado foi um ganho de 1,59% no Ibovespa, que recuperou os 114 mil pontos. Fechou a 114.064 pontos.

Em geral, a gente pensa em inflação como gasolina a conta de luz mais caras. Natural, é como ela destrói o nosso salário e faz com que a gente se sinta mais pobre. Mas o que leva à inflação mesmo não é simplesmente a gasolina mais cara, é dinheiro demais circulando por aí. Nisso, o BC tem um inimigo dentro de casa: o governo.

Derrubando o teto

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Começou a circular hoje o plano (ou seria chantagem?) de que o governo Bolsonaro estuda prorrogar o auxílio emergencial com parcelas de R$ 400, acima do teto atual de R$ 300, caso o Congresso não aprove a PEC dos precatórios e a reforma do IR “para ontem”. As duas medidas são consideradas essenciais para que Bolsonaro tire do papel o plano de um Bolsa Família turbinado. Neste, o governo havia planejado financiar o gasto adicional com o aumento no IOF, que já está em vigor.

O lance é que o auxílio emergencial fica de fora do teto de gastos, ou seja, libera o governo a gastar mais, colocando novo dinheiro na economia e realimentando a inflação. Há ainda o questionamento se haveria uma justificativa plausível (fora o desemprego, claro) para o uso do auxílio, já que as mortes por Covid estão caindo, a economia está reaberta e quase 40% da população já tomou as duas doses da vacina.

Esse risco fiscal fez com o que o dólar virasse no meio da tarde, fechando em alta, e os juros futuros também subissem. É o mercado sinalizando que cobrará juros ainda mais altos para emprestar a um governo que aumenta gastos sem parar. Pode parecer ótimo se você é fã da renda fixa, mas é um péssimo negócio para o país. Até amanhã. 

Maiores altas

Embraer: +12,16%

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Ultrapar: +9,51%

Usiminas: +9,25%

CVC: +6,91%

Gerdau: +5,63%

Maiores baixas

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Eztec: -5,18%

Cyrela: -4,33%

Magazine Luiza: -2,88%

Americanas (AMER3): -2,63%

MRV: -2,66%

Ibovespa: +1,59%, aos 114.329 pontos

Em Nova York

S&P 500: +1,21%, aos 4.448 pontos

Nasdaq: +1,04%, aos 15.052 pontos

Dow Jones: +1,48%, aos 34.765 pontos 

Dólar: +0,10%, a R$ 5,3096

Petróleo

Brent: +1,39%, a US$ 77,25

WTI: +1,48%, a US$ 73,30

Minério de ferro: sem negociações devido a feriado em Qingdao, China

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