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Sorry: falta pelo menos 20% para o Ibovespa bater seu recorde real

O topo de verdade rolou em maio de 2008, e segue imbatível. Os 120 mil pontos intraday de hoje não passam de um valor nominal.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 4 jan 2021, 22h45 - Publicado em 30 dez 2020, 18h36

Foi como um gol de bicicleta no ângulo aos 48 do segundo tempo. Na manhã do último pregão de 2020 o Ibovespa rompeu a marca dos 120 mil pontos – nunca nos 52 anos de história deste índice viu-se um número tão alto.

Mas é só um número mesmo. O recorde verdadeiro da bolsa aconteceu durante um pregão de 12 anos atrás. Foi no dia 19 de maio de 2008, quando o índice chegou a uma pontuação que, em valores de hoje, seria de 145.203. Para checar até lá, ainda faltam longos 21%. 

Calma que a gente explica. A máxima intraday de 19/05/08 foi de 73.794. Um número bem menor que os 120 mil de hoje. Mas tem um detalhe: desde o início do plano real, o índice não é corrigido pela inflação (antes, na época dos cruzeiros, cruzados e cruzeiros de novo, houve diversos cortes de zeros, igual aconteceu com as moedas de antanho).

O recorde mais importante não é o intraday, diga-se. É a máxima de fechamento (o valor do Ibovespa ao fim do pregão, ignorando os picos ao longo do dia). Esse rolou em 20 de maio de 2008: 73.517 pontos. Ajustando pela inflação, 144.658. 

Ou seja: no dia em que o Ibovespa terminar um pregão acima desse valor, teremos o novo recorde real de fechamento. Antes disso, nada feito: só teremos recordes nominais mesmo. Caso do último, os 119.528 pontos, marcados em 23 de janeiro – que só não foi renovado hoje porque o Ibovespa perdeu a tração da manhã e acabou fechando numa leve baixa de 0,33%, a 119.017 pontos. 

O S&P 500 não tem esse problema. O índice mais importante dos EUA vive um recorde real. Mesmo ajustando os valores do passado pela inflação, nenhum supera os 3,7 mil pontos de hoje. 

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Em valores reais, o pico mais duradouro que eles tiveram estendeu-se por 16 anos. Foi o de agosto de 2000: 2,2 mil pontos em valores corrigidos (1,5 mil no nominal da época). O índice americano só recuperaria esses 2,2 mil de valor real em 2016. Dali em diante, todas as pontuações recorde foram recorde para valer.  

Não existe a tradição de corrigir índices de bolsa pela inflação, e vários especialistas dizem que isso não faz sentido. Motivo: se você tivesse uma carteira de ações que copiasse o Ibovespa desde 2008, teria recebido 12 anos de dividendos. No mundo real, o que temos são os fundos que replicam o Ibovespa (caso dos ETFs), que diluem o dinheiro dos investidores nas dezenas de companhias que compõem o índice. 

Nesses casos, a grana do dividendos é reinvestida, e o bolo de cada cotista vai aumentando mesmo que o índice não suba. Dessa forma, a perda para a inflação não é tão grande. Mesmo assim, ela existe, já que poucas empresas do índice pagaram dividendos acima da inflação nesses últimos 12 anos. 

Tem outra: mesmo quem torce o nariz para a ideia de calibrar índices pela inflação sabe da importância de outro fator de correção: o dólar. Para os investidores estrangeiros só o ganho em dólar importa – não aceitam reais nas barraquinhas de cachorro quente de Wall Street, afinal.

Para saber qual é o valor do Ibovespa em dólar, é só pegar a pontuação do dia e dividir pela cotação da moeda americana do dia – e isso vale para qualquer dia. 

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Em 19 de maio de 2008, eram aqueles 74.794 do intraday com o dólar a R$ 1,66 (cante com a gente: tempo bom/que não volta nunca mais…). Dá 45.056.    

Na manhã de 30 de dezembro de 2020, foram 120.149 de pico, com o dólar a R$ 5,18. Dá 23.194. Ou seja: por esse parâmetro, ainda faltam 94% para o recorde – bem mais do que resta pelo critério da inflação.  

Isso mostra outra coisa também: que a bolsa brasileira ainda está extremamente barata em dólar, dado o câmbio atual. Por isso mesmo a participação de investidores estrangeiros tem crescido nos últimos meses. Em dezembro (até dia 28, data do dado mais recente), eles entraram com R$ 307 bilhões e tiraram R$ 289 bilhões. Um saldo positivo de R$ 18 bilhões. Em novembro, esse saldo foi ainda melhor: R$ 33 bilhões – o recorde histórico para um mês.   

E é isso. Que 2021 venha com mais recordes. Reais, de preferência. 

Feliz Ano Novo 😀 

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Maiores altas do dia 

Cielo: 5,82%

Azul: 4,33%

CVC: 4,31%

PetroRio: 3,49%

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Klabin: 3,48%

Maiores baixas do dia

Usiminas: -3,12%

Santander: -2,99%

Via Varejo: -2,53%

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CCR: -2,15%

Hering: -2,11%

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Maiores altas do ano

CSN: 123%, de R$ 14,26 para R$ 31,85

WEG: 115%, de R$ 34,90 para R$ 75,31

PetroRio: 106%, de R$ 33,70 para R$ 69,75 

Magalu: 105%, de R$ 12,20 para R$ 25,02

Bradespar: 65%, de R$ 38,61 para R$ 63,95 

Maiores baixas do ano

IRB Brasil: -79%, de R$ 39 para R$ 8,17

Cogna: -61%, de R$ 12,20 para R$ 4,66 

Embraer: -56%, de R$ 20,20 para R$ 8,85

Cielo: -53%, de R$ 8,5 para R$ 3,96

CVC: -51%, de R$ 42,07 para R$ 20,36

—-

Dólar: +0,11%, a R$ 5,18

Em NY

S&P 500: 0,13%, a 3.732 pontos  

Nasdaq: 0,15%, a 12.870 pontos 

Dow Jones: 0,24%, a 30.409 pontos  

Petróleo

Tipo Brent (referência internacional): +0,49% (US$ 51,34)

Tipo WTI (referência nos EUA): +0,83% (US$ 48,40)

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