Sorry: falta pelo menos 20% para o Ibovespa bater seu recorde real
O topo de verdade rolou em maio de 2008, e segue imbatível. Os 120 mil pontos intraday de hoje não passam de um valor nominal.
Foi como um gol de bicicleta no ângulo aos 48 do segundo tempo. Na manhã do último pregão de 2020 o Ibovespa rompeu a marca dos 120 mil pontos – nunca nos 52 anos de história deste índice viu-se um número tão alto.
Mas é só um número mesmo. O recorde verdadeiro da bolsa aconteceu durante um pregão de 12 anos atrás. Foi no dia 19 de maio de 2008, quando o índice chegou a uma pontuação que, em valores de hoje, seria de 145.203. Para checar até lá, ainda faltam longos 21%.
Calma que a gente explica. A máxima intraday de 19/05/08 foi de 73.794. Um número bem menor que os 120 mil de hoje. Mas tem um detalhe: desde o início do plano real, o índice não é corrigido pela inflação (antes, na época dos cruzeiros, cruzados e cruzeiros de novo, houve diversos cortes de zeros, igual aconteceu com as moedas de antanho).
O recorde mais importante não é o intraday, diga-se. É a máxima de fechamento (o valor do Ibovespa ao fim do pregão, ignorando os picos ao longo do dia). Esse rolou em 20 de maio de 2008: 73.517 pontos. Ajustando pela inflação, 144.658.
Ou seja: no dia em que o Ibovespa terminar um pregão acima desse valor, teremos o novo recorde real de fechamento. Antes disso, nada feito: só teremos recordes nominais mesmo. Caso do último, os 119.528 pontos, marcados em 23 de janeiro – que só não foi renovado hoje porque o Ibovespa perdeu a tração da manhã e acabou fechando numa leve baixa de 0,33%, a 119.017 pontos.
O S&P 500 não tem esse problema. O índice mais importante dos EUA vive um recorde real. Mesmo ajustando os valores do passado pela inflação, nenhum supera os 3,7 mil pontos de hoje.
Em valores reais, o pico mais duradouro que eles tiveram estendeu-se por 16 anos. Foi o de agosto de 2000: 2,2 mil pontos em valores corrigidos (1,5 mil no nominal da época). O índice americano só recuperaria esses 2,2 mil de valor real em 2016. Dali em diante, todas as pontuações recorde foram recorde para valer.
Não existe a tradição de corrigir índices de bolsa pela inflação, e vários especialistas dizem que isso não faz sentido. Motivo: se você tivesse uma carteira de ações que copiasse o Ibovespa desde 2008, teria recebido 12 anos de dividendos. No mundo real, o que temos são os fundos que replicam o Ibovespa (caso dos ETFs), que diluem o dinheiro dos investidores nas dezenas de companhias que compõem o índice.
Nesses casos, a grana do dividendos é reinvestida, e o bolo de cada cotista vai aumentando mesmo que o índice não suba. Dessa forma, a perda para a inflação não é tão grande. Mesmo assim, ela existe, já que poucas empresas do índice pagaram dividendos acima da inflação nesses últimos 12 anos.
Tem outra: mesmo quem torce o nariz para a ideia de calibrar índices pela inflação sabe da importância de outro fator de correção: o dólar. Para os investidores estrangeiros só o ganho em dólar importa – não aceitam reais nas barraquinhas de cachorro quente de Wall Street, afinal.
Para saber qual é o valor do Ibovespa em dólar, é só pegar a pontuação do dia e dividir pela cotação da moeda americana do dia – e isso vale para qualquer dia.
Em 19 de maio de 2008, eram aqueles 74.794 do intraday com o dólar a R$ 1,66 (cante com a gente: tempo bom/que não volta nunca mais…). Dá 45.056.
Na manhã de 30 de dezembro de 2020, foram 120.149 de pico, com o dólar a R$ 5,18. Dá 23.194. Ou seja: por esse parâmetro, ainda faltam 94% para o recorde – bem mais do que resta pelo critério da inflação.
Isso mostra outra coisa também: que a bolsa brasileira ainda está extremamente barata em dólar, dado o câmbio atual. Por isso mesmo a participação de investidores estrangeiros tem crescido nos últimos meses. Em dezembro (até dia 28, data do dado mais recente), eles entraram com R$ 307 bilhões e tiraram R$ 289 bilhões. Um saldo positivo de R$ 18 bilhões. Em novembro, esse saldo foi ainda melhor: R$ 33 bilhões – o recorde histórico para um mês.
E é isso. Que 2021 venha com mais recordes. Reais, de preferência.
Feliz Ano Novo 😀
Maiores altas do dia
Cielo: 5,82%
Azul: 4,33%
CVC: 4,31%
PetroRio: 3,49%
Klabin: 3,48%
Maiores baixas do dia
Usiminas: -3,12%
Santander: -2,99%
Via Varejo: -2,53%
CCR: -2,15%
Hering: -2,11%
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Maiores altas do ano
CSN: 123%, de R$ 14,26 para R$ 31,85
WEG: 115%, de R$ 34,90 para R$ 75,31
PetroRio: 106%, de R$ 33,70 para R$ 69,75
Magalu: 105%, de R$ 12,20 para R$ 25,02
Bradespar: 65%, de R$ 38,61 para R$ 63,95
Maiores baixas do ano
IRB Brasil: -79%, de R$ 39 para R$ 8,17
Cogna: -61%, de R$ 12,20 para R$ 4,66
Embraer: -56%, de R$ 20,20 para R$ 8,85
Cielo: -53%, de R$ 8,5 para R$ 3,96
CVC: -51%, de R$ 42,07 para R$ 20,36
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Dólar: +0,11%, a R$ 5,18
Em NY
S&P 500: 0,13%, a 3.732 pontos
Nasdaq: 0,15%, a 12.870 pontos
Dow Jones: 0,24%, a 30.409 pontos
Petróleo
Tipo Brent (referência internacional): +0,49% (US$ 51,34)
Tipo WTI (referência nos EUA): +0,83% (US$ 48,40)