Selic para de subir – voltar a cair são outros 500
Inflação continua à espreita: BC prevê alta bruta para preços administrados para 2023.

O BC decidiu ontem à noite manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. Era o esperado. A surpresa foi que Roberto Campos Neto e seus colegas de Copom (o comitê que decide a taxa de juros do país) colocaram a possibilidade de novas altas no radar, isso enquanto investidores já sonhavam com uma queda. Pois é.
No comunicado, o BC afirmou que a decisão de manter os juros nos patamares estratosféricos é a correta por agora, mas que não haveria problema nenhum em recomeçar o ciclo de altas caso a inflação saia da linha.
E eles continuam tendo isso no horizonte. Para este ano, a expectativa é que a inflação termine em 5,8%. Em 2023, ela cairia a 4,6%. E depois a 2,8% em 2024. Beleza.
O problema é que o Copom prevê um solavanco nesses preços. Neste ano, a inflação está caindo não apenas porque a alta de juros tirou dinheiro da economia, mas porque os preços administrados (como conta de luz, planos de saúde e até combustíveis) vão registrar deflação de 2% no acumulado do ano.
Em 2023 vem o rebote, com uma expectativa de alta de 9,3%. É um risco nada desprezível causado pelo represamento conduzido pelo governo Bolsonaro nesse período eleitoral.
Daí porque o BC afirmou no comunicado que será preciso avaliar se manter os juros altos será o bastante para conter a inflação – ou se os aumentos precisarão voltar.
Esse foi o maior ciclo de aumento de juros em 23 anos. A Selic saiu de 2%, em março de 2021, para os atuais 13,75% – a maior taxa desde 2017.
O Brasil só está interrompendo a alta de juros agora porque começou antes de todo mundo. E tem hoje a maior taxa de juros real entre as principais economias do mundo.
Ontem, o Fed (BC americano) subiu a ‘Selic’ dos EUA em 0,75 p.p., também como era esperado. Mas colocou o mercado financeiro em crise ao apontar que a taxa de juros deverá terminar o ano bem acima do que se esperava até junho.
Investidores estão tentando digerir essa notícia. Os futuros das bolsas americanas oscilam entre perdas e ganhos nesta manhã, enquanto as bolsas europeias continuam em queda.
Bons negócios.
Futuros S&P 500: 0,08%
Futuros Dow: 0,17%
Futuros Nasdaq: -0,01%
às 8h01
Índice europeu (EuroStoxx 50): -0,52%
Bolsa de Londres (FTSE 100): -0,27%
Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,54%
Bolsa de Paris (CAC): -0,63%
*às 8h
Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,88%
Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,58%
Hong Kong (Hang Seng): -1,61%
Brent*: 0,35%, a US$ 90,14
Minério de ferro: -0,56%, a US$ 97,55 por tonelada em Singapura
*às 8h01
S&P -40%?
E se as bolsas americanas ainda estiverem longe do fundo do poço? Essa é a aposta do economista Nouriel Roubini, prêmio Nobel de economia e um dos famosos por ter previsto a crise financeira de 2008. Ele espera uma recessão global no final deste ano, com potencial de durar até o final de 2023. E, se isso se confirmar, o S&P 500 poderá tombar 30%. No pior cenário, o índice americano poderia despencar 40%.
Roubini acredita que, quando a recessão chegar, os governos não poderão oferecer grandes pacotes de estímulos. Primeiro, porque eles estão ficando endividados demais para isso. Depois, porque oferecer mais estímulos fiscais significaria alimentar mais ainda a inflação – inimigo número 1 dos bancos centrais no momento. Por isso, o economista prevê uma estagflação tão ruim quanto na década de 70, acompanhada de um endividamento tão grande quanto na crise de 2008. “Não será uma recessão curta e superficial, será severa, longa e feia”, disse em entrevista à Bloomberg.
Vez dos chatbots
Foi-se a era dos call centers: agora, as centrais de atendimento das empresas estão tomadas por robôs que auxiliam os clientes via apps de mensagens (como WhatsApp, Telegram, e direct do Instagram). São os chamados chatbots. Um levantamento calcula que o atendimento dos robôs é dez vezes mais barato do que um call center tradicional, já que não gera custos com mão de obra e ligações. Outro estudo estima que, em 2023, as empresas e consumidores ao redor do mundo vão economizar 5 bilhões de horas com o uso de chatbots. Aqui, a Folha explicou a tendência e conversou com empresas que a adotaram.
Produtividade em queda nos EUA
Na economia, “produtividade” é a quantidade de bens e serviços produzidos pelos trabalhadores em determinado período de tempo. A taxa de produtividade de um país é calculada dividindo a produção nacional (valor de todos os bens e serviços daquele período) pela quantidade de horas trabalhadas pelos funcionários (que podem ser formais, informais ou trabalhadores domésticos não-remunerados). No primeiro trimestre deste ano, a produtividade nos Estados Unidos despencou mais de 7% – maior queda em 74 anos. No segundo, caiu mais 4,6%. Neste vídeo, o Wall Street Journal relembra choques de produtividade antigos e explica por que, agora, o indicador fraco pode piorar o cenário de inflação elevada.
8h Reino Unido, Turquia e África do Sul (10h) divulgam decisão de taxa de juros
9h30 EUA divulgam pedidos de seguro-desemprego na semana encerrada em 17 de setembro