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Privatização da Eletrobras mais perto, conta de luz mais cara e Ibovespa na lona

Bolsa brasileira tombou com todos os indicativos de novos aumentos de juros aqui. Só que isso também ajudou na queda do dólar, que está em R$ 5,0225.

Por Bruno Carbinatto, Tássia Kastner
Atualizado em 17 jun 2021, 19h29 - Publicado em 17 jun 2021, 19h27
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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Esta quinta-feira (17) foi azeda na bolsa brasileira, e motivos não faltaram: juros em alta aqui e lá fora, dólar volátil, investigação contra bancos. Um deles, para alegria de quem quer ter uma sexta um pouco mais tranquila, se resolveu depois do fim do pregão. O Senado aprovou o texto-base que permite a privatização da Eletrobras. 

Hoje, as ações da empresa caíram 3,17% (PNB) e 3,04% (ON) porque o mercado financeiro não sabia mais se a aprovação viria e de que maneira ela ocorreria. Agora, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fará uma votação extra na segunda. Depois, o presidente Jair Bolsonaro ainda tem que sancionar a MP – tudo isso até terça-feira (22). É que a Medida Provisória só vale até essa data. Depois disso, danou-se – pela lei, não dá nem para começar do zero no mesmo ano.

O projeto de privatização da Eletrobras, que é uma espécie de venda de novas ações na bolsa para que o governo fique com menor participação da companhia, veio cheio de penduricalhos bastante criticados pelo mercado, como a obrigatoriedade de construção de usinas térmicas em áreas predeterminadas em que não há a oferta de gás, por exemplo. 

Eles foram bastante criticados, e isso foi um dos motivos para o atraso na votação – no final, eles ficaram. O lance é que o governo queria tirar do papel a privatização para prestar contas de promessas feitas ainda na campanha.

No fim, está avançando com um argumento bem forte (ainda que sem relação direta). Bolsonaro começou a dizer que a venda da Eletrobras ajudaria a reduzir a grave crise energética que se aproxima e já deixou as contas de luz mais caras. Isso sem falar no risco de racionamento e apagão.

Juros

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Quem também já trabalha com essa previsão de problemas mais graves na conta de luz é o Banco Central. O BC passou a considerar a alta nos preços de energia um problema a mais para controlar a inflação do país, que já supera com folga o teto da meta do ano (5,25% de teto x inflação em 12 meses acima de 8%).

O Copom (o órgão do BC que decide a taxa de juros) subiu a Selic em 0,75 ponto percentual, para 4,25% ao ano. Beleza, tudo dentro do esperado. O lance é que agora ele “ameaçou” com uma alta maior em agosto, de 1 ponto percentual, e indicou ainda o fim do juro real negativo, aquele que estimula a economia. 

Aí hoje o dia foi de ajuste a essa nova posição mais agressiva do BC de combate à inflação. Agora tem quem aposte na Selic a 7,25% no final de 2021. Isso significa que os juros futuros saltaram na bolsa nesta quinta. 

Já o Ibovespa recuou na terceira baixa consecutiva. A queda foi de 0,93%, a 128.057 pontos. No início do dia, o Ibov até ficou no azul por um tempo, puxado principalmente pelas ações dos bancos na esteira do aumento dos juros. Mas o jogo virou depois do almoço, em parte por causa dos bancos. 

Um fator que ajudou a colocar as ações dos bancos no negativo foi a notícia de que Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) entrou com um pedido de indenização de quase R$ 20 bilhões contra 19 instituições financeiras acusadas de participar de um esquema internacional de cartel na área de câmbio descoberto em 2015. O processo corre na Justiça de São Paulo, segundo informou o Valor.

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Hoje seria mesmo um dia difícil de salvar a bolsa brasileira. Ser uma economia baseada em exportações de commodities não ajudou: Petrobras, Vale e afins tombaram.

Commodities

A discussão de inflação e taxa de juros não é um problema exclusivamente brasileiro. Nos EUA, o Fed (o banco central deles) manteve o juro zero, mas indicou uma alta mais cedo que o esperado – no final de 2023, não mais em 2024.

Só que juro mais alto faz o dólar se valorizar e tende a colocar um freio na alta dos preços das commodities. O petróleo tipo Brent (referência global) caiu 1,76%, e o WTI (referência nos EUA) fechou em -1,54%, isso após recordes recentes. Resultado: Petrobras PN -3,46%, Petrobras ON -3,07%, Petrorio -4,53% e Braskem -5,37%, a maior queda do dia.

Já o minério de ferro até subiu hoje: 3,15%, recuperando parte das perdas de ontem. Mas o cenário mais amplo não agrada investidores: há algum tempo o governo chinês vem aumentando sua intervenção no mercado para controlar as variações violentas observadas no preço após retomada da demanda crescente e desavenças com a Austrália, o maior exportador da commodity no mundo. No ano, a valorização do minério de ferro já passa dos 30%.

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Hoje, Pequim anunciou que novas medidas para a padronização dos índices de preços das commodities entrarão em vigor em agosto. Segundo o governo, a medida vai aumentar a transparência e manter uma inflação saudável no país. Mas o fato é que o mercado não gosta de intervenção estatal – e os investidores ficam com um pé atrás esperando a próxima medida do Partido Comunista Chinês.

Nisso, o minério se salvou, mas as empresas não. Mineração e siderurgia figuraram entre as maiores perdas: Vale -2,08%, CSN -4,95%, Gerdau -3,78%, Gerdau Metalúrgica, -3,65%.

Dólar

A graça é que o real foi uma exceção nesta quinta. O dólar avançou na comparação com as principais divisas do mundo. Isso é medido por um índice chamado DXY, que compara a moeda americana com uma cesta de moedas dos demais países. Esse índice subiu 0,89% porque os EUA agora apostam em uma alta de juros em 2023.

O movimento acontece porque os Estados Unidos são considerados o lugar mais seguro para se ter dinheiro no mundo. Parece banal, mas o lance é que, quando eles sobem os juros, ou todo mundo sobe, ou o dinheiro sai dos lugares mais arriscados e passa a ser investido nos EUA. Então, a primeira reação do mercado financeiro é correr para dólar quando o Fed indica que subirá juros. 

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Para escapar de ver a própria moeda perder valor para o dólar, só subindo os juros mais do que o Fed. É o que está acontecendo aqui no Brasil. Não só o BC subiu os juros ontem após o fechamento do mercado como também indicou que novas altas (possivelmente maiores) estão a caminho.

Agora tem quem aposte em Selic a 7,25% ao final deste ano – enquanto o juro dos EUA continuam em zero. Por isso, mais estrangeiros trazem dinheiro para cá: eles querem lucrar com a Selic alta tanto quanto você com seus investimentos em renda fixa. Essa entrada de dólares faz com que o câmbio fique mais perto de R$ 5 do que dos assustadores R$ 5,50. Dólar também é produto, afinal: quanto maior a oferta deles no Brasil, mais barato ele fica.

Em resumo: hoje o dólar chegou a mínima de R$ 5,0090 e fechou em baixa de 0,74%, a R$ 5,0225. 

Nos EUA 

O dia dos americanos foi misto: o S&P 500, principal índice do país, fechou estável, com uma leve queda de 0,04%; o Dow Jones caiu 0,52%; já o índice Nasdaq, que concentra ações de tecnologia, subiu +0,87%, puxado por gigantes como o Apple (+1,26%), Facebook (+1,64%) e Amazon (+2,17%). (Por aqui, uma das maiores altas do dia também foi de tecnologia: Locaweb +4,78%).

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Por lá, além da decisão do Fed, o dia foi marcado também pelo dado de que o número de novos pedidos de seguro-desemprego aumentou 37 mil na semana passada, para 412 mil. As previsões apontavam um cenário mais positivo: “só” 360 mil novos desempregados. Foi o primeiro aumento do número em sete semanas – o que esfriou um pouco a animação do mercado sobre a velocidade da recuperação econômica acelerada no país. A ver se a tendência se mante

Maiores altas

Magalu: +4,92%

Locaweb: +4,78%

Petrobras Distribuidora: +2,95%

ViaVarejo: +2,58%

Hapvida: +2,09%

Maiores baixas

Braskem: -5,37%

CSN: -4,95%

Petrorio: -4,53%

Gerdau: -3,78%

Gerdau Metalúrgica: -3,65%

Ibovespa:-0,93%, aos 128.057 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,04%, aos 4.221 pontos

Nasdaq: +0,87%, aos 14.161 pontos

Dow Jones: -0,62%, aos 33.823 pontos

Dólar: -0,74%, a R$ 5,0225. 

Petróleo

Brent: -1,76%, a US$ 73,08

WTI: -1,54%, a US$ 71,04

Minério de ferro: alta de 3,15%, a US$ 220,82 a tonelada no porto de Qingdao (China)

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