Hoje foi um daqueles dias em que o mercado tinha compromisso marcado: ouvir atentamente cada palavra dita por Jerome Powell, o líder do banco central mais poderoso do mundo. E o saldo do encontro foi positivo: ao contrário do que se esperava, o presidente do Fed foi mais dovish do que hawkish, e o otimismo dele sustentou as altas nas bolsas americanas de hoje.
Powell falou à tarde no The Economic Club of Washington. Seus discursos são sempre ansiosamente aguardados pelo mercado, mas esse em específico teve um tempero especial: foi a primeira fala do presidente do BC americano após o payroll divulgado na última sexta-feira.
O relatório do mercado de trabalho americano veio muito acima do esperado: criação de 517 mil empregos, versus uma expectativa de 188 mil. Já o índice de desemprego caiu de 3,6% para 3,4%. Os salários também cresceram 4,4% em 12 meses (acima dos 4,3% esperados). Esses dados revelam uma economia bastante forte – o que, de certo modo, é bastante positivo.
O problema é que mercado de trabalho forte e salários em alta são combustíveis para a inflação. Daí que investidores leram os números pelo viés de copo meio vazio: se a economia anda tão bem, o Fed pode e deve apertar o acelerador nos juros para combater o aumento dos preços.
Era essa indicação de postura mais agressiva que se esperava do discurso de Powell hoje. Mas não foi o que aconteceu. Pelo contrário: ele reiterou, mais de uma vez, que os EUA estão no começo do processo de desinflação. Mais: disse que é bom que isso esteja acontecendo mesmo com um mercado de trabalho aquecido. E confirmou essa visão mesmo quando o entrevistador relembrou-o sobre o payroll.
O tom otimista surpreendeu. Mas é claro que nem tudo foi um mar de rosas. Depois de um tempo sendo dovish, veio a fala hawkish: confirmou que, se o mercado de trabalho continuar forte desse jeito e a inflação teimar em não ceder, mais aumentos nos juros do que o previsto podem acontecer. Também lembrou que a meta, de 2%, só será alcançada em 2024.
No fim, tentou sair pela tangente: disse (como sempre faz) que mais dados serão necessários para decidir o futuro das taxas nos EUA.
Logo após a fala o mercado ficou sem saber se o saldo da fala foi otimista ou pessimista – tanto que as bolsas passaram por um período instável, alternando entre altas e baixas. Mas o lado meio cheio falou mais alto e, no fim do pregão, os índices se firmaram no azul: S&P 500 fechou em alta de 1,29%; Nasdaq subiu 1,90%.
No Brasil
O Ibovespa, porém, ficou de fora da festa. Investidores reagiram à ata do Copom, divulgada nesta manhã e que não trouxe grandes novidades, mas reforçou as preocupações de ordem fiscal.
Outra não-novidade foi que Lula voltou a atacar o Banco Central. Não, não é notícia repetida: é a quarta vez que o presidente da República entra em atrito com Roberto Campos Neto, o presidente do BC.
O petista criticou o patamar atual dos juros – a 13,75% – e disse que Campos Neto deve “explicações ao Congresso”. E novamente questionou a independência do órgão.
Foi o suficiente para deixar o Ibovespa no vermelho. O índice caiu 0,82%, aos 107.829 pontos. Já o dólar subiu 0,50%, a R$ 5,1998. Enquanto o Fed está em paz com Biden e, aparentemente, com o mercado, aqui a guerra entre Lula e o BC não dá sinais de trégua.
Até amanhã.
Maiores altas
Embraer (EMBR3): 3,22%
Hapvida (HAPV3): 1,77%
Minerva (BEEF3): 1,71%
Gerdau (GGBR4): 1,62%
Gerdau Metalúrgica (GOAU4): 1,52%
Maiores baixas
Locaweb (LWSA3): -6,83%
BRF (BRFS3): -6,72%
Via (VIIA3): -6,72%
Marfrig (MRFG3): -4,87%
Banco Pan (BPAN4): -4,09%
Ibovespa: –0,82%, aos 107.829 pontos
Em Nova York
S&P 500: 1,29%, aos 4.164 pontos
Nasdaq: 1,90%, aos 12.113 pontos
Dow Jones: 0,78%, aos 34.156 pontos
Dólar: 0,50%, a R$ 5,1998
Petróleo
Brent: 3,33%, a US$ 83,69
WTI: 4,09%, a US$ 77,14
Minério de ferro: -0,65%, negociado a US$ 123,90 por tonelada na bolsa de Dalian (China)