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Por que fugir de ações de empresas em recuperação judicial

História mostra que papéis de companhias em reestruturação dificilmente voltam a se valorizar. 

Por Júlia Moura, Tássia Kastner
10 fev 2023, 06h36

Ao lado da Americanas (AMER3), existem mais de uma dezena de empresas com ações na bolsa que estão atualmente em recuperação judicial. O pedido de proteção à Justiça costuma ser acompanhado de um tombo brutal nos papéis. E a companhia ganha mais atenção do mercado, já que as notícias sobre a saúde financeira se multiplicam.

Nesse cenário, investidores se perguntam se a ação está “barata” e vai se recuperar. A tendência é o contrário. Um relatório da Guide mostra que os planos de reestruturação duram pelo menos quatro anos e podem se estender mais de uma década, período em que os papéis historicamente recuam ainda mais.

Em recuperação judicial desde 2018, a Saraiva (SLED4) utiliza suas ações como forma de pagar seus mais de R$ 500 milhões em dívidas. Sem conseguir vender seus ativos, nem mesmo a marca, a livraria emite ações novas e dá o papel a seus credores como forma de pagamento. O problema é que uma ação dá direito a uma parte dos lucros da empresa. Se cada vez mais gente tem esse papel, menor é o lucro que cabe a cada um. E a ação vale ainda menos. A queda acumulada do papel nesses cinco anos é de 99%.

Empresas que conseguem se reestruturar e saem da recuperação judicial tampouco tendem a se reabilitar na bolsa – daí por que a melhor aposta para o pequeno investidor seja ficar de fora dessa. As recuperações encerradas recentemente mostram isso. A construtora PDG (PDGR3) ficou quatro anos sob proteção da Justiça para negociar débitos com credores. Quando entrou em RJ, a ação era vendida ao redor de R$ 28,80. Saiu da recuperação cotada a R$ 3,59 e agora vale R$ 0,13 no home broker.

Na fila para sair da recuperação está a Lupatech (LUPA3), uma fornecedora de equipamentos para o setor de óleo de gás. Ela entrou em crise em 2014, quando a Lava Jato paralisou o setor. E avisou à Justiça no mês passado que está pronta para andar com as próprias pernas. As ações dela chegaram a valer R$ 260 lá no começo da reestruturação e caíram ao patamar de penny stock. Em 2021, a recuperação no preço começou, com o pico de R$ 11,30. No fim de janeiro ela era cotada a R$ 7,32.

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A grande exceção é a fabricante de telhas Eternit (ETER3), que quase quebrou com a proibição de amianto no Brasil. Desde que pediu recuperação judicial, em março de 2018, a ação subiu 205%, a R$ 13,60. A companhia já avançou muito no processo e analistas apostam que a RJ deve acabar em breve. Os resultados financeiros melhoraram: nos nove primeiros meses de 2022, o lucro foi de R$ 123,7 milhões. E houve ainda a primeira distribuição de dividendos depois de seis anos – R$ 51,3 milhões que pingaram nas contas dos acionistas.

Trata-se de uma exceção, não uma regra. Comprar ações em recuperação judicial está mais para cassino do que investimento. Se alguém disser que é a oportunidade de uma vida, não confie. E se você tem essas ações, mas está com medo de realizar o prejuízo, leia a nossa matéria de capa de fevereiro. 

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(Arte/VOCÊ S/A)
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