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Petróleo sobe 5%. EUA renovam recordes. E o Ibovespa, ó…   

Está feio. Nem um dia de otimismo lá fora, com alta no barril e tudo, coloca o Ibov no azul.

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 23 ago 2021, 18h47 - Publicado em 23 ago 2021, 18h22
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 (Tiago Araujo/VOCÊ S/A)
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O petróleo subiu forte hoje (5,48%), e trouxe consigo para o céu a Petrobras (3,35%) e a PetroRio (3,61%). Trata-se de um repique depois de uma sequência de quedas.

A máxima deste ano aconteceu há quase dois meses. Foi no início de julho, quando o barril do tipo Brent (a referência internacional) estava cotado em US$ 77,82 – patamar não visto desde o início de 2019, quando a economia global estava em franca ascensão e “pandemia” era uma palavra relacionada à Gripe Espanhola, de 100 anos atrás. 

Configurava-se aí uma alta de 50% no ano (fundamental para formar o preço atual da gasolina, pela hora da morte).  

Desse nível de julho até o fechamento da sexta, a queda tinha sido de 16%. Ou seja: havia chão para subir. Mais ainda pelo fato de hoje ter sido um dia de otimismo. 

O FDA (a Anvisa dos EUA) só deu hoje a aprovação definitiva para uma vacina contra a Covid – a da Pfizer (algo que a Anvisa já tinha feito em fevereiro). Boa parte do noticiário internacional creditou a essa notícia as altas de hoje, com os índices americanos renovando (de novo) seus recordes históricos.

Como o problema nos EUA não é falta de imunizantes, mas excesso de gente que se recusa a tomar vacina por motivos obscuros, provavelmente não é isso que vai livrar o país da delta tão cedo – ainda que a aprovação definitiva pelo FDA possa abrir as portas para que empresas tornem a vacinação obrigatória a seus funcionários por exemplo. 

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Talvez o diagnóstico mais preciso, de qualquer forma, tenha vindo de David Lefkowitz, diretor da UBS Wealth Management. “O crescimento sólido nos lucros das empresas, em conjunção com um Fed ainda disposto em estimular a economia significa um ambiente favorável às ações”, disse à Bloomberg.  

É basicamente o oposto do que acontece por aqui. No Ibovespa (-0,49%) reina o pessimismo. 

Varejo em queda

O clima político na lama destrói a esperança de um ajuste nas contas públicas, ou da aprovação de uma reforma tributária funcional. Sem nada disso, o cenário é de altas ainda mais fortes nos juros – seja para conter a inflação, seja que o governo consiga se financiar em meio às ruínas. 

Juro mais alto = varejo fraco, já que o consumo tende a diminuir. Nisso, tivemos uma festival de quedas no setor. Lojas Americanas caíram 6,08%, liderando as baixas do dia. A Americanas SA, sua sócia no controle da ex-B2W e da Americanas.com, também tombaram (-4,25). Via (-4,17%), Magalu (-3,55%), e Renner (-2,93%) seguiram pelo mesmo caminho.

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O valor real do dólar

O dólar está caindo lá fora. Hoje, perdeu 0,41% em relação ao euro e 0,76% diante da libra – e isso também explica a queda do petróleo. Espera-se que o Fed mantenha seus estímulos por um bom tempo – o que signifca produzir mais dólares. Como o Fed não imprime petróleo e há mais moeda americana circulando, o preço do barril sobe, posto que é cotado em dólares.  

A ideia de que o dólar passa por uma desvalorização, diga-se, parece fantasia para quem mora no Brasil. A teoria econômica, porém, mostra que o dólar deveria estar caindo frente ao real também. 

Dólar é igual papel higiênico ou chinelo. Se há muitos rolos e muitas Havaianas no mercado, o preço cai. Por conta da alta no petróleo, na soja e no minério de ferro nos últimos meses, deveria haver muito dólar por aqui. Isso reduziria a cotação da moeda americana por aqui – igual aconteceu no outro ciclo de alta das commodities, há 10 anos, que baixaram o dólar para R$ 1,50.

A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem abrangente sobre o tema neste domingo (22), apresentando a tese de que o dólar deveria estar na faixa de R$ 4,20 – 20% abaixo da cotação atual. E porque não está? 

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Porque os dólares que deveriam estar entrando no mercado nacional não estão. Os exportadores têm mantido seus dólares no exterior, com receio de uma crise institucional. De fato: quando você tem um coronel da PM de São Paulo chamando a população para atacar o STF, é sinal de que muita coisa está fora da ordem. E quando a própria democracia começa a entrar em risco, não há santo que ajude. Nem o santo do petróleo.

Nisso, a queda de hoje da moeda americana não aportou por aqui. Ela ficou estável em -0,05%, a R$ 5,38.

Quem comemora são os frigoríficos, que têm forte receita em dólar. JBS (3,44%) e Marfrig (3,42%) ficaram entre as maiores altas do dia, já que a tendência é mesmo de um real fraco diante do dólar, mesmo de um dólar que titubeia perante as outras moedas fortes.  

O salto da Azul

Na sexta (20), as ações da Azul fecharam em alta de 2,67%, depois de o Wall Street Journal ter afirmado que a aérea pretende comprar a operação brasileira da Latam – em recuperação judicial. Hoje o movimento continuou: salto de mais 2,40%.   

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99% do mercado brasileiro de aviação pertence a Gol (38%), Latam (33%) e Azul (27%). Se pegar o braço nacional da Latam, a Azul assume a liderança, com 60% do mercado. 

E é ela quem está, de fato, com o caixa mais forte. A Azul registrou lucro de R$ 1,07 bilhão no segundo trimestre, contra novos prejuísos da Gol (- R$ 1,2 bilhão) e da Latam (- R$ 357 milhões). 

O lucro da Azul não veio da parte operacional (que ficou R$ 400 milhões no vermelho). Veio de “ganhos com variação cambial”. Ou seja: de lucros no mercado de derivativos (instrumentos que as empresas usam para se proteger de altas repentinas do dólar). O objetivo ali é só a proteção mesmo. 

Mas às vezes uma companhia dá sorte (que precisa de uma mãozinha de competência para rolar, claro). E ganha-se uma bolada. O fato é que essa bolada deixa mesmo a Azul numa posição confortável em relação a uma eventual aquisição do eventual espólio da Latam Brasil – “eventual espólio” porque os diretores da companhia negam a intenção de venda, e dizem que a Latam sairá da recuperação judicial neste ano. A ver.      

Embraer

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Outro destaque de hoje veio do ar também, com a Embraer liderando (de novo) as altas do dia, com 5,28%. Cortesia da Eve, a subsidiária da empresa voltada ao desenvolvimento de eVTOLs, aqueles drones gigantes que prometem revolucionar o transporte urbano, carregando gente. 

A Eve anunciou uma parceria com a Ascent Flights Global, de Cingapura, com o objetivo de colocar 100 aeronaves dessas em operação no Sudeste Asiático.  

É isso. Para ficar imune ao desgoverno econômico que dá o tom na nossa bolsa, só mesmo voando alto.

MAIORES ALTAS

Embraer (EMBR3): 5,28%

CVC (CVCB3): 4,39%

Petrorio (PRIO3): 3,61%

JBS (JBSS3): 3,44%

Marfrig (MRFG3): 3,42%

MAIORES BAIXAS

Lojas Americanas (LAME4): -6,08% 

Americanas SA (AMER3): -4,25%

Eneva (ENEV3): -4,21%

Locamérica (LCAM3): -4,19%

Via (VIIA3): 4,17%

Ibovespa: 0,49%, aos 117.471 pontos

Em Nova York 

Dow Jones: 0,61%, a 35.335 pontos

S&P 500: 0,85%, a 4.479 pontos

Nasdaq: 1,55%, a 14.942 pontos

Dólar: – 0,05%, a R$ 5,38

Petróleo

Brent: alta de 5,48%, a US$ 68,75

WTI: alta de 5,63%, a US$ 65,64 

Minério de ferro: queda de 2,66% no porto de Qingdao (China), a US$ 136,71 a tonelada

 

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