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Petróleo, Selic, bolsa, dólar, Rússia: entenda como um afeta do outro

Petróleo vai a US$ 121. Dólar, a R$ 4,84. Ibovespa emenda sexta alta seguida, e dá outra sova no S&P 500. Veja as conexões entre esses fatores.

Por Alexandre Versignassi
23 mar 2022, 17h40

Quem tem títulos IPCA+ teve uma tarde feliz hoje. Os juros dos títulos com vencimento em 2026 caíram 2%, de IPCA+5,50% para IPCA+5,39%. Quando isso acontece, o valor dos títulos que você tem na mão sobe – a lógica é simples: o valor de mercado de um título que paga 5,50% por ano sempre será maior do que um que paga 5,37%. A proporção exata da alta varia de acordo com os humores do mercado, mas dá para dizer que ela fica próxima de 1% – bastante para um único dia no mundo da renda fixa. 

Tem motivo. É o mercado apostando que a alta dos juros no Brasil pode estar próxima do fim. O Copom já disse ontem que provavelmente vai aumentar a Selic de 11,75% para 12,75% em maio. Mas espera-se que que o movimento de alta pare por aí – ou perto daí. 

Tudo vai depender da inflação, já que é para combatê-la que os juros existem. Mas outro fator está ajudando: a despencada do dólar. 

O dólar cai justamente por conta dos juros altos – passa a valer mais a pena para os gringos investir em reais. Mas não são só os juros: as ações brasileiras seguem extraordinariamente baratas. Investidores de fora, então, têm corrido para as compras. Como eles precisam trocar dólares por reais para adquirir ações por aqui, a moeda americana fica menos escassa no mercado, e mais barata. 

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Para dar uma ideia do quão barata está a nossa bolsa. Some os preços de todas as ações de todas as empresas do Ibovespa. Você terá o “valor de mercado” do índice inteiro. Esse valor, hoje, equivale a 7 vezes do lucro somado dessas empresas nos últimos 12 meses. Beleza?

Então. O valor de mercado do S&P 500, o “Ibovespa” dos EUA, dá 23 anos do lucro das companhias. Na Nasdaq, são 63 anos. 

Ou seja, mesmo com as quedas recentes na bolsa americana, e as altas persistentes na nossa, ainda há muita lenha a ser queimada para balancear as coisas. Não que o mercado se preocupe em balancear qualquer coisa. Ele é irracional por natureza. Mas sempre há uma tendência de não descolar demais das médias históricas – e nesse quesito a média histórica é um valor de mercado equivalente a 17 anos de lucros das empresas. Bem acima do de hoje. É natural, então, que saia mais dinheiro de lá, e entre mais aqui.   

E nesta quarta tivemos mais um dia guiado por essa lógica. O Ibovespa subiu 0,16% (sexta alta seguida). O S&P 500 tombou 1,23%; a Nasdaq, 1,32%.

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E o dólar emendou sua sexta baixa: 1,44%, a R$ 4,84. Que venham mais dólares, ora pois.

Petróleo em rublo      

Putin decretou que os “países não-amigos” que importam seu gás e seu petróleo terão de pagar em rublo pelos hidrocarbonetos, e não em dólar, como fazem normalmente.

Trata-se de uma medida para tentar fortalecer a moeda russa, depauperada desde o cancelamento da maior parte dos bancos do país do sistema internacional de pagamentos (o Swift) e do congelamento das reservas internacionais em poder de bancos ocidentais (dois terços do total).

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Ao determinar que os “não-amigos”, paguem em rublos, Putin obriga alemães, franceses, italianos e cia a comprar rublos das mãos do governo russo, pagando em euros e em dólares. Como dissemos lá em cima, isso torna as moedas fortes menos escassas na Rússia, e faz o rublo valorizar – além disso, garante ao governo mais fundos para seguir com a invasão. Em suma, Putin faz com que os “países não-amigos” banquem sua guerra. Por não-amigos entende-se, claro, todas as democracias sérias do mundo; principalmente as da Europa, que não podem viver sem o óleo e o gás russo).   

A decisão fez o petróleo subir 5,30% hoje, a US$ 121, já que ela torna a compra de petróleo russo mais difícil – governos dos não-amigos podem simplesmente proibir suas refinarias de comprar óleo russo; o que torna o petróleo em si um recursos mais escasso no mundo. E, como a gente viu aqui duas vezes, qualquer coisa mais escassa fica mais cara. 

Um petróleo mais caro, entre outros problemas mais óbvios, pressiona o Brasil a manter a alta nos juros por mais tempo, pois joga a inflação lá para cima. E aí pode ficar mais difícil para o pessoal do IPCA+ ter outros dias felizes.

Pois é. Não é só no budismo tibetano que tudo está conectado. Na economia também. Para o bem e para o mal. 

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Até amanhã.

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MAIORES ALTAS

Grupo Soma (SOMA3): 7,15%
Lojas Renner (LREN3): 5,63%
CVC (CVCB3): 4,52%
MRV Engenharia (MRVE3): 3,41%
Magazine Luiza (MGLU3): 3,27%

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MAIORES BAIXAS

Fleury (FLRY3): -4,20%
BRF (BRFS3): -3,83%
Copel (CPLE6): -3,44%
Minerva (BEEF3): -3,26%
Suzano (SUZB3): -2,38%

Ibovespa: 0,16%, aos 117.457 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,23%, aos 4.456 pontos
Nasdaq: -1,32%, aos 13.922 pontos
Dow Jones: -1,29%, aos 34.357 pontos

Dólar: -1,44%, a R$ 4,8442

Petróleo

Brent: 5,30%, a US$ 121,60
WTI: 5,18%, a US$ 114,93

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